Brasileiros viajam ao exterior em busca de vacinas
Foto: ROBERTO MOREYRA / Agência O Globo
Com 80 anos, Paula Langer se manteve em isolamento social por toda a pandemia. Mas decidiu, recentemente, que é hora de sair: para o aeroporto. Com dupla cidadania, pretende ir para Israel, país onde a vacinação contra a Covid-19 está mais adiantada no mundo, com mais de 40% da população imunizada.
— Uma pandemia dessa proporção assusta. Ficamos em casa desde o início. Até que pensamos: somos idosos, muita gente ao nosso redor está pegando o vírus, pessoas conhecidas faleceram, por que não nos vacinar em Israel? — diz. — O ritmo das coisas aqui no Brasil é mais lento, as autoridades levam tudo na brincadeira. Lá começaram a vacinar há muito tempo, eles se programaram para comprar as vacinas, e as regras são seguidas.
Paula e o marido, Berilo Langer, viveram por alguns anos em Israel. Com família e amigos no país mediterrânico, a decisão de vacinar lá “foi natural”, adiada pelo medo de pegar avião e passar horas em aeroportos. Embora afirme amar os dois países do mesmo jeito, dona Paula achou que era o momento de fazer uma viagem para ficar por alguns meses:
— Todos os nossos conhecidos lá já foram vacinados. Ficamos até com um pouco de inveja. É a tranquilidade que procuro, pois não posso brincar com a pandemia.
A esperada viagem, no entanto, está suspensa porque o Aeroporto Internacional de Israel foi fechado por, pelo menos, duas semanas por conta da pandemia. No momento, inclusive, países restringem a entrada de pessoas vindas do Brasil, que registra números altos de casos e mortes por Covid-19.
A cirurgiã-dentista Luciana (nome fictício) foi vacinada com o imunizante da chinesa Sinopharm nos Emirados Árabes Unidos. Ela, que prefere não se identificar, se mudou para Abu Dhabi no fim de dezembro, acompanhando o marido.
— Foi um bilhete de loteria. Fiquei sabendo pela comunidade brasileira daqui de casos de parentes que estavam visitando e conseguiram ser vacinados. Resolvi tentar e foi tranquilo. Não tinha fila, apresentei o passaporte e me vacinaram sem nenhum questionamento.
Com data agendada para a segunda dose, em 12 de fevereiro, ela pensou em ir ao Brasil para buscar os pais, mas, como eles também são da área da saúde, a expectativa é que sejam imunizados em breve:
— É muito dinheiro vir para cá, fazer quarentena e esperar para ver, sem saber se vai conseguir de fato se vacinar. Ainda assim, muitos amigos já cogitam me visitar para tentar a sorte.
Lise Bueno, gaúcha que reside em Abu Dhabi desde 2009 e tem um canal no Youtube chamado Tchê no Exterior, foi uma das pessoas que descobriu que brasileiros estavam conseguindo ser vacinados lá. Ela pondera, porém, que essa não é a política oficial:
— A vacina está liberada para toda a população que tem visto de residente ou é local. Não para turista. Mas pessoas visitando parentes acabaram conseguindo. Agora, porém, há escassez de vacinas e estão negando a primeira dose até chegar nova carga.
Procuradas, as embaixadas de Israel e Emirados Árabes Unidos não responderam.
O desejo de se vacinar contra a Covid-19 também gerou um mercado informal. O The Telegraph fez reportagem sobre um clube exclusivo, o Knightsbridge Circle, que oferece, de acordo com o jornal britânico, pacotes de luxo com passagem, acomodação por um mês e duas doses de vacina contra a Covid-19 para Índia ou Dubai, por US$ 55 mil.
No Brasil, entidades do setor do turismo desconhecem algo do gênero. Diante de fronteiras bloqueadas e laboratórios comprometidos com governos, viagens assim, garantem, ainda têm toda a pinta de férias frustradas.
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