Caminhoneiros acusam Bolsonaro de “traição”
Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃO
O segundo aumento do ano no preço dos combustíveis, anunciado na terça (26/1) pela Petrobras, está movimentando grupos de caminhoneiros no WhatsApp e fomentando a adesão a uma grave que já estava marcada para o dia 1° de fevereiro, mas que divide a categoria. Lideranças dos transportadores dizem que vinham dialogando com o governo para frear novos aumentos nos custos e se sentiram traídos pelo anúncio de reajuste de 4,4% no diesel nas refinarias, que equivale em média a um aumento de R$ 0,09 por litro nas refinarias – nas bombas, a alta pode ser maior.
O reajuste no diesel num momento em que os caminhoneiros acreditavam ter um compromisso do governo é uma “ferramenta para agitar a greve”, segundo o assessor executivo da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Marlon Maues. A entidade vem desencorajando a greve e insistindo no diálogo com o Ministério da Infraestrutura, mas Maues conta que a insatisfação dos profissionais está muito alta.
“Já recebemos a sinalização de que o governo está tentando anular o impacto na bomba reduzindo PIS e Cofins, que são impostos federais, mas não é suficiente, precisa que os estados baixem o ICMS também”, reivindica o assessor executivo da CNTA. “Então, a gente prefere mobilizar os interessados nesse ato de segunda-feira para a redução no ICMS.”
Os caminhoneiros também protestam contra o reajuste na tabela do frete anunciada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no último dia 19 de janeiro, com um aumento médio que varia de 2,34% a 2,51%, considerado insuficiente pela categoria para cobrir os custos. Sobretudo com mais um aumento no diesel.
A greve foi convocada inicialmente pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), ainda em dezembro do ano passado. A adesão inicialmente foi pequena e muitas lideranças mais ligadas ao governo consideraram que sindicatos de petroleiros poderiam estar manipulando a categoria para atingir o presidente Jair Bolsonaro.
No último dia 22 de janeiro, após o primeiro reajuste do diesel no ano, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) anunciou apoio à greve e orientou sua base, que teria 800 mil motoristas, a não rodar na próxima segunda.
Na noite de terça (26/1), a Federação Única dos Petroleiros (FUP) também decidiu apoiar a paralisação dos caminhoneiros.
Liderança do setor, o caminhoneiro Alexandre Batista Patrício, o Mão Branca, ex-candidato a vereador de Paulínia (SP), conta que os colegas estão indignados e esperando uma orientação mais certeira sobre o que fazer. “Um monte de gente vai parar. Aqui em Paulínia a gente está esperando, mas a chance de adesão é grande, porque com um diesel nesse preço como é que faz para trabalhar? Não tá dando”, protesta ele, que atua no polo petroquímico da região.
A representação dos caminhoneiros é pulverizada e há lideranças mais radicais, que ameaçam uma greve “maior do que a de 2018“, no governo de Michel Temer (MDB), que só terminou quando as Forças Armadas forçaram os grevistas para fora das pistas e acostamentos.
Nos grupos de aplicativos de mensagens, circulam áudios explosivos, supostamente de caminhoneiros, que chegam a convocar para “tocar fogo em carro, em ônibus”.
O aumento na temperatura da crise e a perspectiva de greve não acenderam, pelo menos no discurso oficial, um alerta especial no governo.
Em nota, o Ministério da Infraestrutura disse ao Metrópoles que “mantém uma agenda permanente de diálogo com as principais entidades representativas da categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), além de reuniões constantes com suas lideranças. O restabelecimento do fórum, desde 2019, tem sido o principal canal interativo entre Governo e setor e qualquer associação representativa que deseje contribuir para a formulação da política pública pode requerer a sua participação para discutir eventuais temas de interesse da categoria”.
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