Especialistas avaliam estragos dos vândalos no Capitólio
Foto: SAUL LOEB/AFP
O completo caos no Capitólio americano, invadido por apoiadores fervorosos de Donald Trump na quarta-feira, 6, tomou os noticiários com imagens de quebra-quebra e violência. Deflagrado por aqueles que se recusam a aceitar a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais, o motim deixou cinco mortos, entre eles um policial, e muitas janelas quebradas. Em relação ao amplo acervo histórico e de obras de arte do prédios, análises iniciais do Escritório de Arquitetura e de curadores locais atestam que não houve danos significativos, mas a falta de uma melhor proteções preocupa.
Muitas peças não escaparam ao rastro dos invasores. Quando a polícia retomou o controle do edifício histórico, janelas e portas estavam quebradas e alguns móveis apareceram danificados ou até mesmo saqueados. Um busto de mármore do ex-presidente Zachary Taylor, datado do século XIX, aparece manchado de sangue em fotos. Segundo o The New York Times, um pergaminho chinês foi rasgado e, nos vídeos da confusão que circulam nas redes sociais, um homem é flagrado guardando uma foto emoldurada de Dalai Lama na mochila, enquanto outro fuma maconha em uma sala adornada por mapas centenários do estado do Oregon.
Apesar disso, segundo Barbara A. Wolanin, curadora do acervo do Capitólio de 1985 a 2015, o estrago poderia ter sido muito maior. Em entrevista ao The New York Times, ela explicou que a maioria das obras do prédio — muitas com valor histórico inestimável como a Declaração de Independência de John Trumbull, uma das maiores pinturas dos anos 1800, ou um busto de bronze de Martin Luther King Jr. — estão à plena vista. Junto da obra de Trumbull, sua maior preocupação era uma coleção de 35 estátuas exposta no salão National Statuary Hall, particularmente vulnerável, que homenageia figuras como Samuel Adams, Rosa Parks e Thomas Edison. A coleção de pinturas ainda inclui obras de artistas como Thomas Crawford, Constantino Brumidi e retratos originais de George Washington, primeiro presidente do país.
Segundo Wolani, essa foi a primeira vez que o acervo foi ameaçada em uma escala tão ampla. O último registro de uma situação similar é de 200 anos atrás, quando tropas inglesas incendiaram o prédio durante a guerra de 1812. “Eles não tem respeito por nada disso, isso é o que realmente assusta”, disse Bárbara sobre os invasores.
Projetado por William Thornton no século XVIII e complementado por Charles Bulfinch em 1826, o prédio de estilo neoclássico é tido como um dos símbolos da democracia americana. A história do edifício está exposta no local em uma série de murais feitos por Allyn Cox, com eventos dos primeiros 65 anos do prédio e retratos de nove homens apontados como arquitetos entre 1793 e 1995. Durante quatro horas, as obras ficaram expostas aos eleitores insatisfeitos com o resultado da eleição contestaram de forma violenta o resultado do pleito, depois de Donald Trump falhar sucessivas vezes em apresentar qualquer prova de fraude às vias legais. Alguns, inclusive, empunhavam a bandeira dos Estados Confederados, usada durante a Guerra Civil como símbolo dos estados sulistas (que se opunham ao fim da escravidão) e que hoje costuma estar atrelada a movimentos supremacistas.
Na quinta-feira, 7, um grupo de historiadores especializados em preservação analisou os danos para decidir se eles devem ou não ser mantidos como um retrato da invasão, tida como o momento de maior vulnerabilidade da democracia americana na história recente. Em entrevista ao The New York Times, Anthony Veerkamp, ex-diretor de políticas de desenvolvimento do National Trust for Historic Preservation defendeu que parte dos danos deve ser preservado como “um lembrete de que nossos monumentos, instituições e valores são todos vulneráveis e devem ser sempre cuidados”, mas enfatizou que é preciso fazê-los de maneira que não dê aos detratores status de heróis. “É importante não criar inadvertidamente um santuário que pareça homenagear os rebeldes.”
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