Pai do presidente da Câmara vê 2022 sem favoritos
Foto: Leo Pinheiro/Valor
“Ninguém é carta fora do baralho” para a próxima corrida presidencial – nem o ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro – e a eleição em 2022 tem o potencial de ser a mais disputada desde 1989, com as duas vagas no segundo turno em aberto, afirma o vereador e ex-prefeito do Rio por três mandatos Cesar Maia (DEM). O cenário, prevê, será bem distinto do padrão de competição que opôs petistas e tucanos por duas décadas e que desmoronou parcialmente em 2018, mas apontava ao menos duas forças políticas claras. A tendência agora é de incerteza. “Teremos um segundo turno muito diferente de 2018. Diferente porque não haverá favorito. Em 2018 os dois concorrentes no segundo turno estavam pré-definidos”, lembra, em referência a Jair Bolsonaro, então candidato pelo PSL, e Fernando Haddad (PT).
Pai do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), Cesar defende, em entrevista, a união do que classifica de “forças democráticas” para uma aliança que pode até se fragmentar no primeiro turno, mas não na segunda etapa. “O fundamental é não termos uma fragmentação no segundo turno e o poder aglutinador prevalecer”, afirma. Cesar Maia sinaliza que nesse grupo há espaço para eventual adesão à candidatura de centro-esquerda de Ciro Gomes (PDT), algo que foi rechaçado em recente entrevista ao Valor pelo correligionário Eduardo Paes. O prefeito do Rio disse que o PDT demonstrou, regionalmente, nos últimos anos, não querer praticar uma política de alianças ao lançar candidatos contra ele e, por isso, Ciro não mereceria receber apoio. “Não se pode confundir eleições nacionais com municipais. É outro panorama”, diverge o ex-prefeito.
Cesar Maia advoga a ideia de um “centro democrático” mas evita falar do futuro eleitoral do filho, um dos maiores responsáveis no Congresso por articular o campo político. Prefere não comentar a possibilidade da participação de Rodrigo na corrida presidencial – ainda que como vice. Em 2018, o pai declarou em entrevista ao Valor apoio ao tucano Geraldo Alckmin em desacordo à pretensão do filho que buscava concorrer ao Planalto. “Cabe a ele responder. Estamos muito longe de 2022. Pense em 2016”, esquiva-se.
Maia também prefere não opinar sobre eventual candidatura própria do DEM, que tem em suas fileiras o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Mas afirma que o apresentador Luciano Huck (sem partido) está no jogo e não poderia mais ser considerado um outsider, pelo grau de envolvimento com atores políticos nos últimos anos. Sobre Moro, não o afasta do páreo, como já fazem alguns analistas: “Ninguém é carta fora do baralho. Os próximos meses dirão”.
Cesar Maia é contundente quando analisa o desempenho do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, cuja gestão classifica como um desastre. “Um desastre que pelos atrasos está produzindo uma mortalidade muito além do previsível em meses de verão. Isso aponta para um ciclo de pandemia muito, muito maior do que seria razoável”, critica.
A atuação de Pazuello só é possível pelo respaldo de Bolsonaro. E a insistência do presidente em manter o negacionismo – depois de dez meses e a morte de 200 mil brasileiros – se beneficia da falta de manifestações de rua, devido a medidas de distanciamento social. “A pandemia gerou uma imobilização popular. Sobre ela, a base do presidente se afirmou. Mas olhando as pesquisas em seu conjunto a situação de Bolsonaro não é tranquila”, diz.
Estudioso de levantamentos de opinião, Maia argumenta que “as pesquisas às vezes enganam”. Em sua opinião, as eleições de 2018 foram uma entressafra e produziram a “sensação de uma virada”. Mas foram ponto fora da curva, argumenta. “Em 2020, a curva voltou a seu leito”, aponta. O ex-prefeito não vê Bolsonaro com uma substancial popularidade, pois teria cerca de 30% de apoio num cenário “em que ainda não há um quadro definido de alternativas”. “O único que se pode garantir é que teremos segundo turno em 2022”, afirma.
Nesse momento, Maia não vê razões para a abertura de um processo de impeachment, mesma posição do filho, que não deu prosseguimento aos pedidos de afastamento de Bolsonaro. “Seria uma agitação inócua”, diz. O vereador, por outro lado, também não vê motivos para que o presidente avance sobre a independência do Congresso. Bolsonaro defende a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara contra Baleia Rossi (MDB-SP), aliado de Rodrigo Maia, que lidera um bloco cujo principal discurso é o risco de interferência do Executivo no Parlamento. Cesar Maia minimiza: “A dinâmica política, desde 1988, tem sido a estabilidade institucional, com a afirmação do Estado de Direito, e aponta para a afirmação da independência dos poderes, independentemente de nomes”.
O pai de Rodrigo Maia afirma não acreditar que a distribuição de cargos por Bolsonaro possa favorecer Lira, já que o apoio em contrapartida não pode ser garantido, dado o sigilo do voto. “O voto secreto afeta os dois lados e não gera obrigações e inibições”, diz. Para o ex-prefeito, a eventual vitória de Baleia Rossi, com a adesão formal de partidos de esquerda, não significa que essas legendas o forçariam a exercer uma presidência menos amistosa que a de Rodrigo. “Certamente não. O que vale são as instituições e a estrutura legal. É isso que vai guiar o legislativo. Que enfrentará eleições também em 2022”, afirma.
Economista, Cesar Maia discorda da declaração de Bolsonaro, feita na terça-feira, sobre a suposta insolvência do país. “O Brasil não está quebrado. O problema é o governo federal não ter se envolvido nas reformas. E o ministro da Fazenda [Paulo Guedes] ter se inibido ao lado do presidente”, critica. Mas, agravada pela pandemia, a situação fiscal pode piorar ainda mais, com o prolongamento das crises sanitária e econômica.
Maia considera inevitável os movimentos feitos por prefeitos e governadores, como o de São Paulo, João Doria (PSDB), ou da iniciativa privada, por meio de clínicas particulares, que buscam imunização própria, diante da inércia do governo federal. “O processo de vacinações por coordenação nacional no Brasil sempre foi exemplar. Essa descentralização é muito mais uma reação ao imobilismo federal. Não é saída, é um recurso ao desespero que as pessoas, os Estados e municípios enfrentam”, diz.
No âmbito local, Cesar Maia assistiu à filha Daniela, irmã gêmea de Rodrigo, assumir a presidência da Riotur, que foi epicentro do escândalo “QG da Propina”, que levou o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) à prisão. Há pouco mais de 20 anos, Maia foi contrário à entrada do filho na política. Queria que Rodrigo seguisse no mercado financeiro. Em relação à Daniela, porém, conta que não fez esforço para dissuadi-la do cargo. “Ao contrário, porque encaixa bem no perfil e na experiência dela”, diz.
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