Bolsonaro quer controle total de partido para se filiar
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Sem constar na agenda oficial, o presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem um grupo de representantes do Patriota para discutir sua possível filiação à legenda. Na conversa, segundo relatos feitos ao GLOBO, o chefe do Executivo prometeu que nos próximos dias delegará dois auxiliares para conduzir as negociações com a diretoria da legenda.
No encontro, Bolsonaro teria reafirmando o interesse em ingressar no Patriota para disputar a reeleição de 2022, mas não pediu diretamente o controle do partido.
A intenção do presidente e de seu grupo é assumir o controle do Patriota, mas um racha na cúpula da legenda ameaça os planos do chefe do Executivo. Na reunião, Bolsonaro já teria sido avisado que há resistência em entregar diretórios como do Rio, São Paulo, Minas Gerais e Maranhão.
A reunião, inicialmente marcada para 10h, começou com uma hora de atraso. De acordo integrantes do partido e também do governo, estiveram no Planalto o presidente nacional da sigla, Adilson Barroso, e o vice, Junior Marreca, ex-deputado e amigo de Bolsonaro. Também compareceram o coordenador do Conselho Político do Patriota, Nilton Silva, o Niltinho, e os deputados Pastor Eurico (PE) e Evandro Roman (PR), além da presidente do Mulher Patriota do Paraná, Cátia Presa. Roman e Cátia registraram o encontro em suas redes sociais.
Questionado pelo GLOBO, Barroso, que está em Brasília, negou que tenha se encontrado com Bolsonaro, apesar de confrontado com a informação de que ele foi visto na sede do Executivo. O dirigente se limita a dizer que tem apenas orado para receber a filiação de Bolsonaro como uma “bênção.”
— Os parlamentares foram e devem ter levado algum assessor que acharam que era eu, mas não fui. A conversa hoje era só com deputados, nada sobre partido. Isso só vai ocorrer em março — disse Barroso.
A filiação de Bolsonaro, no entanto, não depende apenas de Barroso, que atualmente não tem maioria na sigla. Em 2018, o Patriota, para cumprir a cláusula de barreira e ter direito ao fundo partidário, anunciou a fusão com o PRP, controlado por Ovasco Resende. Barroso, embora se mantenha na presidência, tem apenas cerca de 30% da sigla, enquanto Resende domina 50%. Os cerca de 20% restante estão nas mãos de parlamentares.
Barroso afirma querer retomar a história interrompida em fevereiro de 2018. No ano anterior, ele havia mudado o nome da sigla de Partido Ecológico Nacional (PEN) para Patriota para receber o então deputado federal Bolsonaro como candidato à Presidência. Após interferência do advogado Gustavo Bebianno, ex-ministro morto em 2020, Bolsonaro se filiou ao PSL.
— Agora, se der certo, não tem essa de namoro mais não. Tem que ir direto para o cartório. Já conhece, então tem que casar logo de papel passado — disse Barroso.
Na época, Bolsonaro e Bebianno só negociaram ficar no comando do PSL durante o período eleitoral. Após a disputa, o partido nanico virou a segunda maior bancada federal com um fundo partidário que pode chegar a R$ 500 milhões até 2022. A briga pelo controle do caixa culminou na saída do presidente do partido em novembro de 2019.
Na última segunda-feira, em entrevista à TV Band, Bolsonaro disse que quer definir sua nova legenda em março e que está “namorando alguns partidos, dentre eles, um tal de Patriota”. O presidente disse, então, que não poderá ir para um partido que não seja “autoridade”, como ocorreu no PSL.
Ovasco Resende sinaliza que não está disposto a entregar o controle da legenda para Bolsonaro. Em entrevista à revista Época, o dirigente afirmou que tudo deverá ser decidido pelos integrantes do partido, mas não cogita entregar o poder.
— Trabalhamos com construção e com o tempo, que vai alinhavando uma relação. Não existe possibilidade nenhuma de qualquer liderança vir para tomar o comando do partido. Isso é fora de qualquer mesa de conversa. Ou se confia no partido para o qual você vem ou não. Somos um partido sério — disse Ovasco Resende.
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