Desemprego volta a bater recorde no Brasil
Foto: Gustavo Luizon/VEJA.com
Um dos maiores temores de analistas econômicos e do próprio governo federal era como o mercado de trabalho enfrentaria a pandemia do novo coronavírus. A engrenagem fundamental para girar a roda da economia sente solavancos de crise, e não foi diferente em 2020. No ano, a taxa de desocupação chegou a 13,9%, a maior desde 2012. Assim, 2020 se encerrou com 13,4 milhões de pessoas na fila por um trabalho no país. A boa notícia é que a expectativa pela recuperação dos postos de trabalho que foram perdidos durante a pandemia passou de uma esperança a realidade no último trimestre do ano. A taxa de desemprego recuou dos 14,6% registrados ao fim de setembro. Os números divulgados nesta sexta-feira, 26, pelo IBGE ainda são muito altos e é preciso colocar o fator sazonal das festas de fim de ano nos resultados do 4º tri, mas trazem um sinal importante.
“No ano passado, houve uma piora nas condições do mercado de trabalho em decorrência da pandemia de Covid-19. A necessidade de medidas de distanciamento social para o controle da propagação do vírus paralisaram temporariamente algumas atividades econômicas, o que também influenciou na decisão das pessoas de procurarem trabalho. Com o relaxamento dessas medidas ao longo do ano, um maior contingente de pessoas voltou a buscar uma ocupação, pressionando o mercado de trabalho”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
Na metodologia usada pelo IBGE, é considerado desempregado o cidadão que não está trabalhando mas efetivamente buscou emprego com o período. Nesse sentido, conforme a economia mostra recuperação, mais pessoas buscam um posto de trabalho. Esse movimento fez com que a taxa de desemprego atingisse nível recorde em setembro. No trimestre encerrado em dezembro, a taxa caiu não porque as pessoas pararam de trabalhar, mas porque encontraram trabalho. A aumentou 4,5% — mais 3,7 milhões de pessoas– em dezembro em relação a setembro.
Segundo o IBGE, no intervalo entre dezembro de 2019 e 2020, a população ocupada reduziu 7,3 milhões de pessoas, chegando ao menor número da série anual. “Saímos da maior população ocupada da série, em 2019, com 93,4 milhões de pessoas, para 86,1 milhões em 2020. Ou seja, foi uma queda bastante acentuada e em um período muito curto, o que trouxe impactos significativos nos indicadores da pesquisa. Pela primeira vez na série anual, menos da metade da população em idade para trabalhar estava ocupada no país. Em 2020, o nível de ocupação foi de 49,4%”, acrescenta Beringuy.
Essa queda da ocupação foi disseminada por todos os trabalhadores. Ou seja, entre o setor formal e informal. Em um ano, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) teve redução recorde, menos 2,6 milhões, um recuo de 7,8%, ficando em 30,6 milhões de pessoas. A queda só não foi maior devido ao sucesso de medidas implantadas como o BEM, benefício pago a trabalhadores que tiveram contratos reduzidos ou suspensos, que beneficiou 11 milhões de pessoas no ano passado.
A taxa de informalidade passou de 41,1% em 2019 para 38,7% em 2020, o que representa 33,3 milhões pessoas sem carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores ou empregados por conta própria) ou trabalhadores sem remuneração. Adriana lembra que os informais foram os primeiros atingidos pelos efeitos da pandemia, no ano passado. Vale lembrar que o mercado informal brasileiro é um importante termômetro da economia. Diferente do CLT, onde a burocracia para contratar e demitir é grande, o informal diminui conforme a crise e retoma de forma mais rápida. A redução da população na informalidade, algo que normalmente seria comemorado, em 2020 só reflete a reação do mercado de trabalho à pandemia.
Em um ano de perdas generalizadas na ocupação, a exceção entre as atividades foi a administração pública, que cresceu 1%, com mais 172 mil trabalhadores, impulsionada pelos segmentos de saúde e educação. Já construção fechou 2020 com perda de 12,5% na ocupação, seguido de comércio (9,6%) e indústria (8,0%). Os serviços também foram os mais afetados, com destaque para alojamento e alimentação (21,3%) e serviços domésticos (19,0%). Outros serviços reduziram 13,8% e transportes, 9,4%. Os menores percentuais ficaram com agricultura (2,5%) e informação e comunicação (2,6%), que, inclusive, interrompeu três anos seguidos de crescimento da ocupação.
Em 2020, o rendimento médio real dos trabalhadores foi de R$ 2.543, um crescimento de 4,7% em relação a 2019. Já a massa de rendimento real, que é soma de todos os rendimentos dos trabalhadores, atingiu R$ 213,4 bilhões, uma redução de 3,6% frente ao ano anterior.
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