Imprensa se ajoelha ante Luciano Huck
Foto: Carvall
Desde que sua candidatura se tornou o sonho de um grupo de tucanos da velha guarda, o apresentador da Rede Globo e empresário Luciano Huck mantém posição confortável na chamada grande imprensa.
É tema recorrente nas páginas de política dos jornais e regularmente agraciado com espaços para escrever sobre tópicos de sua escolha. Mas não dá entrevistas, ocasiões em que suas ideias poderiam ser esmiuçadas, confrontadas e apresentadas ao leitor.
Esse arranjo cômodo saltou aos olhos na semana em que voltei de férias, agitadíssima no mundo da política.
No rescaldo das eleições no Congresso, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, escancarou a insatisfação com o seu partido, o DEM, em entrevista ao jornal Valor Econômico na segunda-feira (8).
Com isso, deflagrou uma crise que envolveu também o PSDB, consumiu as páginas dos principais jornais ao longo da semana e mostrou que o ensaio geral de alianças pela sucessão de Bolsonaro é bem mais complicado do que se imaginava.
[ x ]
No imbróglio, o nome de Huck apareceu com grande frequência.
Maia disse que a aproximação entre o DEM e o governo Bolsonaro, promovida pelo presidente do partido, ACM Neto, fez ruir os esforços de atrair Huck, até então “90% resolvido” a se filiar à legenda, antigo PFL. ACM Neto, segundo a coluna Painel da Folha, teria iniciado uma ofensiva para evitar o afastamento do apresentador de TV.
No início da semana, o jornalista Merval Pereira, colunista de O Globo, deu algumas pistas sobre o apresentador ao dizer que Huck não pretende se envolver na disputa partidária e continua interessado apenas em discutir ideias, não legendas.
Se é isso mesmo, Huck pode seguir tranquilo. A depender da Folha, os sinais são de que não será incomodado, desfrutando de uma posição pouco comum entre políticos ou aspirantes a políticos: aparecer e falar, sem ser importunado com questionamentos.
No domingo (7), o jornal lhe franqueou mais de meia página no caderno Poder, onde Huck aproveitou para saudar os “heróis da resistência democrática” (de profissionais da saúde a jornalistas, passando por políticos, empresários, professores, climatologistas e as Forças Armadas), ressaltar que a boa política vai salvar o país dos “ismos” e se colocar entre os dispostos a se engajar na (re)construção do país.
Não é de hoje que alguns leitores veem a concessão do espaço com desconfiança—algo de que eu mesma demorei para me dar conta. “É incompreensível o espaço enorme que a Folha dá a Luciano Huck, justo ele funcionário do maior grupo de mídia do país”, disse um deles.
A Folha não está sozinha nesse caldeirão. O Estado de S. Paulo oferece ampla vitrine a Huck em entrevistas que o próprio apresentador conduz com personalidades. É como se Huck pairasse acima das disputas políticas. Só conhecemos suas ideias por meio de seus textos.
Para o leitor, seriam mais relevantes entrevistas com o próprio Huck, nas quais lhe fosse perguntado se de fato pretende se filiar a um partido político, quando isso deve ocorrer, o que pensa das reformas negociadas com o Congresso e como o Estado deve se organizar para prestar serviços públicos, além de dizer com base em quais pressupostos afirmou, em 2018, que Bolsonaro tinha uma chance de ouro de dar novo significado à política no Brasil e quais foram os motivos que o levaram posteriormente a se surpreender com o comportamento do presidente.
Vinicius Mota, secretário de Redação, diz que “Luciano Huck é um nome que se apresenta como possível presidenciável em 2022, e a Folha tem uma longa tradição de publicar opiniões das pessoas que cogitam chegar à Presidência da República, de todo o espectro político-ideológico, o que nunca comprometeu nem comprometerá o compromisso editorial de praticar um jornalismo investigativo e crítico em relação a todas elas”.
De fato, de parte do jornal, é esperado que presidenciáveis sejam ouvidos, inclusive em colunas fixas de opinião. A forma eventual como Huck aparece nos jornais, porém, dá um ar desinteressado a uma estratégia política.
Também não parece jornalisticamente razoável que a Folha se sinta satisfeita em replicar o diz que diz em torno do apresentador, mantendo-o a salvo do escrutínio e oferecendo e ele espaços distantes de algo considerado investigativo ou crítico.
Alguns analistas e políticos dizem que o nome de Huck pode, mais uma vez, morrer na praia. Verdade ou não, Huck não pode ser tratado pela Folha como se fosse um personagem estranho à sucessão presidencial e ao debate político.
Já vimos o que acontece quando se trata com condescendência um candidato à Presidência deixando de informar ao leitor sobre quais são suas ideias e afinidades políticas—ainda que ele pareça inviável.
O blogueiro Eduardo Guimarães foi condenado pela Justiça paulista a indenizar o governador João Doria em 20 mil reais. A causa foi um erro no título de matéria do Blog da Cidadania. O processo tramitou em duas instâncias em seis meses DURANTE A PANDEMIA, com o Judiciário parado. Clique na imagem abaixo para ler a notícia
Quem quiser apoiar Eduardo e o Blog da Cidadania pode depositar na conta abaixo.
CARLOS EDUARDO CAIRO GUIMARÃES
BANCO 290 – PAG SEGURO INTERNET SA
AGÊNCIA 0001
CONTA 07626851-5
CPF 100.123.838-99
Eduardo foi condenado por sua ideologia. A ideia é intimidar pessoas de esquerda. Inclusive você. Colabore fazendo um ato político, ajudando Eduardo com qualquer quantia.