Abandonada, população recorre ao Bolsa Família
Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
Março ainda não acabou, mas já se estabeleceu como um mês recorde em número de beneficiários do Bolsa Família, principal programa social do país. Dados do Ministério da Cidadania mostram que 14.524.150 milhões de famílias recebem atualmente o benefício, em meio a hiato de um próximo auxílio emergencial e incertezas causadas pela pandemia no país. São 259.186 a mais que o registrado em fevereiro.
Apesar do crescimento, 1,1 milhão seguem na fila para receber a ajuda do governo. São pessoas que possuem perfil compatível com programa, já estão cadastradas, mas continuam na miséria sem o benefício.
Até então, o recorde havia sido registrado em maio de 2019, quando 14,33 milhões de famílias estavam no programa. Desde então, o Bolsa Família enfrentou um enxugamento dos beneficiários, com a volta da fila de espera para ingressar no programa, zerada desde 2015.
Em março de 2020, último mês antes da explosão da pandemia do coronavírus no país, 1.216.046 novas famílias se tornaram beneficiárias do programa. Com a chegada do auxílio emergencial, o número ficou estável, mas voltou a subir no início deste ano.
Para Ivan Prates, sociólogo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), uma equação explica o crescimento: o término do auxílio emergencial mais as perdas econômicas provocadas pela pandemia. Segundo o especialista, a perda de empregos no mercado informal ocasionou um aumento no número de pessoas que tiveram no auxílio a única forma de renda.
“Essas pessoas ficaram na ‘borda da pobreza’ graças ao auxílio emergencial. Após o término do benefício, e impulsionados pelo desemprego, o Bolsa Família se tornou um refúgio.”
Dados do mercado de trabalho, divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que em 2020, 7,3 milhões de pessoas perderam o emprego. Destas, a cada dez brasileiros, quase sete não tinham carteira assinada, um total de 5,053 milhões de brasileiros.
Helena Mendes, 20 anos, é uma destas pessoas que durante a pandemia não tiveram nenhuma ocupação. Grávida em fevereiro do ano passado, ela teve que dar uma pausa na venda de cosméticos que fazia em Praia Grande, cidade do Litoral Sul no Estado de São Paulo.
Logo após ter sua filha em março, se viu diante do começa da pandemia e das incertezas diante do novo coronavírus. Com medo de contrair a doença e infectar a filha e a mãe aposentada, com quem reside, a paulistana recorreu ao auxílio emergencial, que foi negado duas vezes: uma delas com a justificativa que recebia um salário mínimo, apesar de nunca ter trabalho com carteira assinada.
Tendo como renda apenas a aposentadoria da mãe e vendas ocasionais na internet, a jovem conta que refeições balanceadas nunca foram realidade na família, mas que diante do cenário a situação ficou ainda pior:
“A gente comprava carne uma vez no mês, geralmente no começo, quando caia a aposentadoria da minha mãe. O resto a gente se virava como podia.”, lembra.
Helena só conseguiu se inscrever no Bolsa Família em novembro, mas enfrentou a fila do programa e a primeira parcela, no valor de R$ 41 reais, só foi recebida em fevereiro deste ano. O valor, entretanto, ainda é baixo e a jovem mãe agradece a pouca idade da filha frente e escassez de recursos:
“Minha sorte é que minha filha toma leite em meu peito. Se ela tivesse que tomar leite de verdade, eu não teria dinheiro.”
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