Bolsonaristas pedem que as pessoas não se vacinem
Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
O sucesso da vacinação contra a Covid-19 (e qualquer outra doença) depende do maior alcance possível entre a população, de modo a se garantir uma imunização coletiva. Jogando contra esse sucesso, além da demora na disponibilização das doses, estão militantes antivacinação, que, no caso do coronavírus, calham de ser apoiadores radicais do presidente Jair Bolsonaro.
Sites de apoio ao governo, que já haviam se envolvido na produção de desinformação sobre as vacinas no seu processo de desenvolvimento, investem agora em uma nova tese conspiratória, segundo a qual a vacinação em massa em vez de imunizar a população vai é criar novas e mortais variantes do coronavírus.
Creditada a um cientista europeu chamado Geert Vanden Bossche, a tese já circulou em outros países, sempre sendo desmentida por especialistas e por agências de checagem. No Brasil, o site Boatos.com já identificou a circulação dessa história nas redes e fez uma checagem mostrando que não há valor científico nas conclusões que estão na internet.
Mesmo assim, textos sobre esse falso perigo da vacina têm sido propagados por veículos de viés radicalmente governista, como Estudos Nacionais e Crítica Nacional, esse último ligado ao notório empresário bolsonarista Otavio Fakhoury, que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura o financiamento a atos antidemocráticos.
Dos sites, o boato ganha grupos de WhatsApp de apoiadores de Bolsonaro. A divulgação da desinformação ganhou força com uma postagem, em seu canal do Telegram, do principal guru desse bolsonarismo radical, o escritor Olavo de Carvalho. Sem se comprometer com a veracidade da informação, Carvalho divulgou na segunda-feira (22/3) o material negacionista. Veja:
Doutor em epidemiologia e professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Bruno Pereira Nunes explica que não faz sentido acreditar em teorias conspiratórias sobre as vacinas contra a Covid-19, porque há muito controle sobre seu desenvolvimento.
“Agencias similares à nossa Anvisa, como a FDA nos Estados Unidos, avaliam a segurança e a relação custo/benefício das vacinas. Muitos estudos são feitos com milhares de pessoas para se concluir que a vacina é segura e traz benefícios”, defende ele.
“Além disso, essas agências continuam a monitorar possíveis eventos adversos da vacina. Se qualquer coisa ocorrer, decisões serão rapidamente tomadas para evitar efeitos negativos na população”, completa o pesquisador.
A dinâmica de comunicação nesses grupos prevê muita distribuição de propaganda e pouco debate. Nos casos em que a reportagem viu a história circular, não houve nenhum usuário que tenha questionado a veracidade das informações.
Essas postagens antivacinação convivem nesses grupos com material de propaganda dos esforços do governo pela vacinação contra a Covid-19.
Entre pesquisadores e divulgadores científicos brasileiros, a circulação do novo boato começa a preocupar, como mostra essa postagem do pesquisador Bruno Filardi, diretor científico do Instituto do Câncer Brasil:
Será necessário um fio sobre o vídeo do Bossche?
De verdade, alguém acha que devemos parar a vacinação pelo medo de uma variante nova (que certamente a vacina irá proteger, nem que parcialmente)?
Já não perdemos pessoas demais para perdermos tempo com esse tipo de vídeo?
— Bruno Filardi, MD, PhD (@mab_sp125) March 22, 2021
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