Bolsonaro vai esperar pararem de falar de Ernesto para demiti-lo

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Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Entre interlocutores de confiança do presidente Jair Bolsonaro, o consenso é que ficou insustentável a permanência do chanceler Ernesto Araújo no primeiro escalão do governo. E que, agora, Bolsonaro só espera uma “janela de oportunidade” para realizar a substituição no Itamaraty.

A percepção ficou clara depois do movimento fracassado de Ernesto Araújo de tentar se manter no cargo. Depois de admoestado publicamente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Araújo tentou reverter a situação. Foi ao encontro de Lira na residência oficial para dar explicações. Mas a situação não se alterou.

Na sequência, a cabeça de Ernesto Araújo foi pedida pelo presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o que foi interpretado no Palácio do Planalto como uma jogada casada vinda do Congresso Nacional.

“O presidente Bolsonaro já entendeu que a situação ficou insustentável. Só não dá para tirar imediatamente porque vai ficar parecendo que quem tirou o Ernesto Araújo foi o Arthur Lira”, explicou ao blog um interlocutor do presidente. Isso já tinha acontecido com os ex-ministros Abraham Weintraub e Eduardo Pazuello, que ganharam sobrevida no auge dos ataques.

A lógica no Planalto é que o prolongamento da permanência de Ernesto Araújo vai desgastar ainda mais o próprio Bolsonaro, já que ele passou a ser responsabilizado por ter inviabilizado relações diplomáticas com a China, Estados Unidos e até a Índia no momento em que o Brasil mais precisa da ajuda desses países para conseguir vacinas e insumos para enfrentar a pandemia de Covid-19.

Ao mesmo tempo, a política externa atrelada à liderança do ex-presidente americano Donald Trump foi considerada temerária por toda a diplomacia profissional brasileira. “Com a derrota de Trump, Ernesto Araújo perdeu o sentido da sua existência. Ele passou a ser um estorvo para Bolsonaro”, avalia um embaixador da ativa.

Neste momento, Ernesto Araújo está completamente isolado dentro e fora do governo: perdeu o apoio da classe política, dos militares e do setor exportador brasileiro, principalmente do agronegócio.

Araújo tem apenas o apoio do filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e do assessor especial Filipe Martins, que deve ser afastado do Planalto depois que, durante uma sessão do Senado na quarta-feira (24), fez um gesto identificado como símbolo de supremacistas brancos.

G1