Brasil é um dos países que menos testam covid
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O Brasil vive a pior fase da pandemia: vacinação a passos lentos, sistema de saúde em colapso em muitos locais do país, falta de insumos médicos, Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) lotadas e aumentos expressivos nos casos e mortes em decorrência da Covid-19. Somado a isso, o número de testes realizados em território nacional coloca o país em lugar de destaque negativo em mais um ranking relacionado à doença.
Enquanto o Brasil assume, mais uma vez, o segundo lugar entre os países do mundo com maior quantidade de infectados e mortes por Covid-19 – já são 11.693.838 casos e 284.775 óbitos confirmados até essa quarta-feira (17/3) –, amarga o 121º em número de testes por milhão de habitantes. É o que aponta comparação feita pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, a partir de boletins oficiais da plataforma Worldometer, que compila e compara resultados de enfrentamento da pandemia no mundo.
Na lista mundial, o Brasil nunca esteve tão mal colocado. Em agosto, durante pico da primeira onda, assumia o 64º lugar da lista; no último mês de 2020, havia caído para 91º.
Foram pouco mais de 28 milhões de exames realizados no Brasil. O número pode parecer elevado, mas ainda fica bem abaixo do objetivo inicial, que era testar pelo menos um quarto dos 210 milhões de brasileiros – pouco mais de 50 milhões, em objetivo definido ainda na primeira fase da pandemia.
Quando se compara com o tamanho da população, a proporção de exames para cada milhão de habitantes é de 133 mil, número inferior ao alguns países da América do Sul, como Chile, Peru e Colômbia, e muito abaixo das taxas de nações desenvolvidas, como Alemanha, Itália, Espanha e Estados Unidos. Além disso, também perde nesse quesito para Arábia Saudita, Azerbaidjão, Israel, Lituânia e Rússia.
“Desde o início, o Brasil não tem conseguido avançar na testagem para conter a pandemia. E isso é crucial, ainda mais porque a velocidade da vacinação está muito longe de atingir uma cobertura que possa impactar no volume de casos. E a gente precisa muito diminuí-lo. Para isso, deveríamos estar testando a população, reconhecendo cada caso e monitorando os contatos. Assim, podendo pensar em atividades de apoio econômico, inspeção e vigilância sanitária e controle da pandemia”, disse Jonas Lotufo Brant de Carvalho, epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB).
“Sem testagem, a gente não consegue avançar. Muitas vezes, a Covid se apresenta como uma doença leve, até mesmo assintomática. Sem testagem em massa, não conseguimos saber onde ir e onde priorizar as ações de controle. Mas não é qualquer teste. É preciso que detecte o início da infecção, para que possamos romper a cadeia de transmissão”, continuou.
“Sabe aquelas medidas que achávamos razoáveis ano passado? Todo mundo parando e todo mundo preocupado em não pegar essa doença nova? Qualquer medida dessas faz muito mais sentido agora. Estamos no pior da pandemia até aqui”, ressaltou, pelo Twitter, o doutor em virologia Atila Iamarino, que virou referência no assunto.
Uma das maneiras de entender se os países estão testando suficientemente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é observar a parcela de exames que apresenta resultado positivo. Para o órgão, o índice deve estar entre 3% e 12%.
A proporção de testes positivos para Covid-19 dentre os analisados é denominada positividade, que no Brasil está em 40,8%, o que indica falha na política pública de testagem. Para comparação, a taxa nos Estados Unidos está em 7,9%, ou seja, dentro da média.
Segundo balanço mais recente do Ministério da Saúde, existem, atualmente, 1,1 milhão de pessoas com o vírus Sars-COV-2 ativo no Brasil, 5,3% dos casos no mundo.
O número, se comparado com a taxa de transmissão (Rt) da Covid-19 no Brasil, é ainda mais assustador. De acordo com levantamento do Imperial College de Londres, divulgado nessa terça-feira (16/3), o índice continua a subir, e é de 1,23. A taxa Rt acima de 1 indica que a doença avança sem controle e é uma das principais referências para acompanhar a evolução epidêmica nos países. O indicador atual significa que cada 100 pessoas contaminadas transmitem a doença para outras 123.
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