Centro-direita pode cair na Alemanha

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Foto: Poly Styrene/Getty Images

Às vésperas de encerrar o mandato como primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel parecia pronta para uma aposentadoria tranquila. Com aprovação de sete em cada dez alemães, puxada pela gestão da pandemia de coronavírus, Merkel deveria fazer uma transição sem sobressaltos para o sucessor na chefia do seu partido, a CDU, o jornalista Armin Laschet.

As eleições estaduais do último domingo 14, contudo, estremeceram seus planos. Na largada do “ano das supereleições”, em que são escolhidos os governadores de seis estados e feita a renovação do Congresso, o CDU registrou os piores resultados de sua história nos estados de Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado, considerados bastiões da legenda.

Para o jornal Die Zeit, foi “um desastre” eleitoral, enquanto a revista Der Spiegel diz que o partido “não poderá continuar assim” caso queira vencer em setembro. Os resultados ameaçam Laschet, visto por muitos como um candidato fraco, que pode concorrer pela vaga com o líder do aliado CSU (União Social-Cristã) e primeiro-ministro da Baviera, Markus Söder.

“A corrida está aberta, com alta volatilidade eleitoral. A popularidade do candidato a chanceler terá um papel importante”, diz Reimut Zohlnhoefer, cientista político da Universidade Heidelberg, na Alemanha.

O secretário-geral do CDU, Paul Ziemiak, mesmo admitindo que os resultados foram decepcionantes, procurou atribuir a derrota ao “sucesso pessoal” dos candidatos eleitos, do Partido Verde e do Partido Social-Democrata.

A legenda governista ainda é a maior no país, mas caso mantenham sucesso, os dois partidos podem optar por fazer uma coalizão entre si e o Partido Liberal Democrático (FDP), que também teve bom desempenho no domingo.

A aliança entre os dois grupos de centro-esquerda e o de centro-direita já é apelidada de “coalizão do semáforo”, devido às suas cores, e pode significar sinal vermelho para o CDU.

“Os 16 anos de Merkel e sua incorporação de políticas de centro-esquerda no ambiente conservador, como a recepção de refugiados, contribuíram para a fragmentação da política alemã”, diz Chantal Sullivan-Thomsett, do Grupo de Especialistas em Política Alemã da Universidade de Leeds, na Inglaterra. “Junto à insatisfação, eleitores têm opções.”

Fora isso, os recentes escândalos de corrupção dentro do CDU não ajudaram nada. Na última semana, três parlamentares conservadores se demitiram por acusações de terem recebido comissões pela compra de máscaras no início da pandemia, prejudicando a imagem do partido. Nem o “bônus Merkel” mitiga o peso da corrupção.

Ao mesmo tempo, a lentidão da campanha de vacinação no país jogou uma cortina de fumaça sobre os antigos elogios à gestão da chanceler: só 3,3% dos alemães receberam a vacinação completa e 7,4% receberam a primeira dose – longe dos 11% totalmente imunizados nos Estados Unidos e dos 36% que receberam a primeira dose no Reino Unido.

Segundo pesquisa da Infratest Dimap nos dois estados que conduziram os pleitos, só um terço das pessoas ainda está feliz com a resposta à pandemia, sendo que a maioria culpa o governo federal ao invés dos respectivos governos estaduais. Já criticado por deixar a Comissão Europeia cuidar dos pedidos e distribuição dos imunizantes, o partido agora precisa descobrir como reconquistar a confiança do público até setembro.

“Como não há Merkelismo sem Merkel, o CDU precisa revisar seu programa e criar um novo caminho. A chancelaria atual já é criticada por falta de visão”, diz Eric Langenbacher, autor do livro Crepúsculo da Era Merkel e cientista político da Universidade Georgetown, nos Estados Unidos.

Pelo menos uma boa notícia para o país: o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), porta-voz do nacionalismo extremado, teve péssima performance no último domingo. Com ou sem Merkel, não parece haver ameaça dos fantasmas do passado nazista no futuro eleitoral alemão.

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