Chefes de Bolsonaro, empresários e banqueiros agora enxergam pandemia
Foto: AFP / EVARISTO SA
A carta elaborada por mais de 500 economistas, banqueiros e empresários, que sugere ao governo uma série de medidas para o combate à pandemia da covid-19, colocou ainda mais pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro, já cobrado por governadores, prefeitos e Congresso por mais eficácia do Planalto nas ações de enfrentamento ao novo coronavírus. O manifesto, divulgado no fim de semana, encontrou eco entre parlamentares, que prometeram reforçar as exigências ao mandatário. Inclusive, questionando a posse de Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde.
Segundo o deputado João Carlos Bacelar (Podemos-BA), a carta deve ter repercussão expressiva dentro do Congresso nos próximos dias. Os signatários do texto pedem uma “atuação competente” do Executivo, apontam a demora na vacinação como o principal gargalo da economia, pedem máscaras gratuitas para a população e defendem um lockdown em nível nacional.
“É uma carta dura com o governo, isso é um sinal. Mas essas coisas nem sempre têm efeito imediato. Porém à medida que a sociedade começa a perder a paciência e ver que o Legislativo está conivente com as ações do governo, isso pode mudar rapidamente”, frisou. “As bancadas começam a sentir a pressão nas redes sociais, e isso reflete na postura do Congresso. Eu espero que meus colegas leiam a carta, e os deputados que apoiam o governo se conscientizem.”
O deputado entende que a hora é de pressionar Bolsonaro. Mas, segundo ele, isso deve ser feito não apenas por economistas e banqueiros, mas, também, pela sociedade civil e por partidos. “A hora é de colocar o governo na parede. Ele cometeu negligência e omissão na gerência de recursos”, disse.
O senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde, afirmou, nas redes sociais, que a carta mostra que “a desorganização do governo Bolsonaro no combate ao vírus gera mortes, desemprego e recessão econômica”. Ele lembrou que a situação do país é gravíssima e demonstra que o governo perdeu o controle da crise. “O Ministério da Saúde é incapaz de coordenar qualquer coisa.”
A economista Elena Landau assinou o documento e disse que os principais problemas do país são a falta de união dos governantes na adoção de estratégias para o combate ao vírus e um visível atraso na compra de imunizantes. “O que falta é vacina, falta planejamento. E falta uma coordenação diplomática para apurar quais são os países onde as vacinas estão sobrando porque o Brasil se tornou um epicentro do novo coronavírus. Estamos colocando outros países em risco”, enfatizou. “A gente espera que essa carta seja um alerta, dado o nível de adesão que recebeu. É uma carta da sociedade civil preocupada com a pandemia.”
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), disse que o texto reflete a situação difícil que o país enfrenta, mas frisou que o governo tem trabalhado para vacinar a população e vencer a crise. “A carta contextualiza uma situação que está ocorrendo. Não vou fazer juízo de valor, mas o presidente Bolsonaro assinou, no ano passado, uma medida provisória destinando R$ 20 bilhões para a compra de vacinas, portanto, um recurso suficiente para vacinar todos os brasileiros”, destacou. “O ministro Eduardo Pazuello (da Saúde) tomou as providências possíveis, viáveis. O governo anunciou que tem 560 milhões de doses de vacinas contratadas, e nosso esforço, agora, é para que haja o cumprimento dos prazos contratuais, porque estão sendo anunciados atrasos nas entregas.”
Oficialmente, o governo não se pronunciou sobre o texto, mas, ontem, Bolsonaro se defendeu das alegações de eventual omissão em meio à crise sanitária (leia na página 3). Amanhã, está previsto um encontro dele com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG); da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, que deve marcar a instalação de um gabinete de acompanhamento das ações do Executivo contra a covid-19.
As discussões sobre a implementação de um novo programa de renda mínima, voltado aos brasileiros mais vulneráveis, que seja mais robusto que o Bolsa Família voltaram a rondar o Congresso. Agora, há uma pressão de empresários para que a ideia saia logo do papel. O setor entende que só uma nova rodada de pagamentos do auxílio emergencial não será suficiente para manter as condições de subsistência da camada mais carente da população em meio à pandemia nem aquecer a economia.
Dessa forma, os empresários pedem que o Parlamento avance nas discussões de um projeto de lei que sugere a destinação de 30% dos recursos provenientes tanto de privatizações quanto da reforma administrativa para custear o financiamento de programas sociais de complementação de renda. A proposta foi elaborada pelo deputado Léo Moraes (Podemos-RO) e tem o apoio de importantes nomes do setor, como Luiza Trajano, CEO da Magazine Luiza; e Jayme Garfinkel, presidente do conselho de administração e maior acionista da Porto Seguro.
“Acreditamos que o início de tramitação de um projeto nesse sentido junto ao Congresso Nacional possa levar ao aumento de confiança dos atores econômicos, neste momento tão desafiador, e dar um passo decisivo para se iniciar processo consistente e sustentável para a redução de nossas desigualdades sociais”, diz um manifesto do movimento Convergência Brasil, que reúne os empresários favoráveis à proposta.
Moraes prometeu que, nos próximos dias, vai pedir ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para distribuir a matéria às comissões permanentes da Casa que precisam discutir o texto antes de votá-lo em plenário. “As circunstâncias econômicas em que o país vive atualmente demandam rapidez na implementação de programas de suporte social. Não há como moralmente justificar o indecente desamparo em que se encontram milhões de brasileiros”, disse.
De acordo com o deputado, a proposta é importante não apenas por apresentar saídas para custear um futuro programa de renda mínima, mas também porque disponibiliza as fontes de recursos que podem bancar mais parcelas do novo auxílio emergencial, caso haja necessidade. Como o benefício continuará com um custo médio de R$ 250 e será repassado por apenas quatro meses, Moraes teme que a assistência financeira do governo não supra todas as necessidades das famílias.
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