Congresso acha que chanceler-palhaço atrasou vacinação no país

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Foto: Reprodução

O Congresso e o Planalto vivem mais uma grande crise no pior momento da pandemia do coronavírus no país. Deputados e senadores do centrão, aliados de primeira hora no presidente Jair Bolsonaro, se voltaram contra o Planalto por causa da má gestão no combate à disseminação da covid-19. E o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tornou-se o principal alvo de críticas.

Integrante da ala ideológica do governo, Araújo é visto como um dos responsáveis pelo atraso na vacinação da população, devido aos tropeços diplomáticos e a falta de diálogo com nações e organismos internacionais, que isolaram o Brasil na política internacional. De olho em 2022, os parlamentares não querem afundar junto com o presidente, que vem perdendo popularidade justamente por conta da pandemia.

Entenda a crise entre Congresso e Bolsonaro que envolve o ministro Ernesto Araújo:

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobrou, em uma reunião fechada, uma gestão mais incisiva do Itamaraty para facilitar a chegada de vacinas e insumos – depois, em plenário, reafirmou a necessidade de “boas relações diplomáticas” com a China, país com quem o chanceler não mantém boas relações. No Senado, enquanto parlamentares cobraram diretamente a Araújo que ele renunciasse, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, subiu o tom, citou a área comandada pelo ministro como uma daquelas onde houve “erros” no enfrentamento da crise sanitária e cobrou mudanças.

Para piorar a situação, o assessor especial da Presidência Filipe Martins, ligado a Araújo, fez um gesto associado a supremacistas durante uma sessão do Senado, o que levou a cobranças por sua demissão. O chanceler também não tem o endosso da ala militar: em janeiro, o vice-presidente Hamilton Mourão indicou que Araújo poderia ser substituído em uma reforma ministerial. Bolsonaro, no entanto, vem resistindo às pressões.

Pressionado, Bolsonaro tentou negociar com o Congresso uma blindagem a Ernesto Araújo. Ontem pela manhã, o presidente procurou o presidente do Senado para verificar se o afastamento de Filipe Martins seria suficiente para acalmar os ânimos entre senadores e representantes do Centrão. O principal argumento é que a saída de Martins, um dos expoentes do grupo ideológico, já seria um ponto de inflexão na relação com países como China, Estados Unidos, União Europeia e Índia.

Dentro do governo, Martins chegou a ser chamado de “chanceler informal”. Por despachar no Planalto e ser próximo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do chanceler, o assessor influenciava as opiniões do presidente na política externa, o que contrariava principalmente ministros militares.

A cúpula do Congresso já enviou recados ao Palácio do Planalto de que não haverá pacificação enquanto o ministro das Relações Exteriores não for demitido. Arthur Lira não vê qualquer condição de o chanceler atuar e ser “respeitado”, por exemplo, por diplomatas chineses e americanos. Em outra frente, Pacheco tenta uma ponte com a Organização das Nações Unidas (ONU) para antecipar doses do consórcio Covaxi Facility. Entre os senadores, há percepção de que o Brasil hoje é um país isolado, sem condições de dialogar com nações e organismos internacionais.

Parlamentares ligados ao governo disseram ao GLOBO que a solução para o impasse ainda vai demorar a ser resolvida. Avaliam que, se Ernesto Araújo for mesmo demitido, isso só ocorrerá “mais para frente”. À colunista Bela Megale, integrantes do governo afirmaram que a permanência do chanceler no ministério não dura mais um mês.

Estadão