Conheça os familiares de vítimas da covid ironizados por Bolsonaro
Foto: Reprodução
Os números sozinhos são frios e não revelam a dor. Mas o testemunho dos que ficam mostra que a pandemia de covid-19 está matando sem escolher idade, lugar e nem é preciso ter alguma comorbidade.
Em Mogi das Cruzes (SP), parentes dormem na porta de hospital à espera da ansiada vaga. Pelo país, faltam não apenas leitos, mas oxigênio, respiradores e os lugares daqueles que partiram nas casas e nos corações de alguém. Para eles, não é mimimi, não é frescura, como hoje disse Bolsonaro.
“Mãe eu tô torcendo por ti”
Giulia emocionou o Brasil ao postar no Twitter as últimas mensagens que trocou com a mãe, Valéria Heloísa, 42, em Esteio (RS).
Ela ganhou “abraços virtuais” de várias pessoas que contaram como se despediram de seus entes queridos mortos pela covid. Fisicamente, Giulia não teve braços ao redor de si.
Uma das piores partes é que ninguém pode/quer vir me ver e dar um abraço por causa da covid-19… vocês não tem noção de como é solitário.
Giulia Dias, 23, estudante de farmácia
Após sobreviver a 41 dias intubado com covid, Carlos Eduardo, 54, que não tinha doenças preexistentes, acordou e disse saber que a mãe havia morrido da mesma doença. Ele contou que ela se despediu dele enquanto ele estava em coma, em Santana do Parnaíba (SP).
Minha mãe veio me ver, veio me visitar depois que faleceu. Ela segurou minha mão e disse: ‘Filho, não se preocupe’.
Carlos Eduardo, sobrevivente da covid-19
Nova União (RO) decretou luto de três dias pela morte dos pioneiros João e Maria, juntos há 53 anos, que morreram num intervalo de 12 horas.
A técnica de enfermagem Eliandre Boscato, 43, morreu esperando vaga em São Carlos (SC). A enfermeira Zeni, 53, morreu em Itapema (SC), porque faltou respirador, contou Alexandre, seu namorado.
“A situação é real e precária. Não duvide que hoje não temos vagas e muitas pessoas estão morrendo nas ambulâncias nas portas das UPAs”, disse Pedro Julião, médico do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em Salvador.
Outro médico, o intensivista Jener Bruno, em Xanxerê (SC), converte o colapso numa imagem: “É ambulância atrás de ambulância”. Ele completa o quadro: “Todos os profissionais estão exaustos”.
Hoje é 4 de março de 2021. No Brasil, 261.188 mortos. A média móvel recorde foi registrada. Para quem fica a dor é para sempre.
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