Especialistas dizem que a crise, agora, é funerária
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Neste fim de semana, 20 e 21 de março, diversas regiões do país adotaram medidas ainda mais restritivas de circulação de pessoas para conter o avanço do novo coronavírus. Ao todo, 24 estados mais o Distrito Federal estão com a taxa de ocupação de leitos de UTI acima de 90%.
O professor Domingos Alves, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), analisa que ainda não é possível conjecturar uma melhora ou estabilidade em relação às vagas nos hospitais e é o momento da população “se preparar para o pior”.
“Todas as projeções indicam que o cenário para as próximas semanas — a semana que vem e a outra — é de um recrudescimento da pandemia, principalmente na questão da ocupação de leitos. Nós devemos passar muito rapidamente de uma crise sanitária para uma crise funerária. E isso é muito sério.”
Em relação ao estado de São Paulo e a nova fase do plano emergencial contra a Covid-19, o professor diz que diversos municípios estão com superlotação de hospitais e a morte na fila de espera por um leito está crescendo. “São Paulo já chegou no limite possível da crise de leitos, já temos mais de 90 óbitos por falta de atendimento em vários municípios do estado.”
Para Domingos, lockdown é a única alternativa para este momento. “Não existe alternativa para lockdown, esta alternativa passou há mais de dois meses, que seria a ampliação dos testes.” No entanto, para a medida ser eficaz os estados devem coordenadar o fechamento dos serviços não essenciais por, pelo menos, 15 dias.
“Não existe lockdown de final de semana, não existe um lockdown de cinco ou seis dias. Para se ter um efeito concreto, estas medidas restritivas de restrição de mobilidade de pessoas, para conter a transmissão do vírus e para desafogar o sistema de saúde, têm que ser feitas por no mínimo 15 dias”, diz o professor.
Alves chama a atenção para a necessidade de uma coordenação da aplicação do lockdown, para que municípios vizinhos estejam em harmonia em relação às regras adotadas. “Não adianta você fazer um lockdown em um município, por exemplo, em que não há controle de movimentação entre outros municípios. Isso precisa ser uma ação coordenada. Particularmente, deveria ser coordenada pelos estados”, defende.