Ex-bolsonaristas, empresários querem outro candidato em 2022
Foto: Agência Brasil
Parte importante da elite da indústria e do mercado financeiro começa a se movimentar em busca de um candidato com chances de derrotar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
Decepcionados com a atuação de Bolsonaro na pandemia e na agenda econômica, esses empresários também não enxergam numa volta de Lula as saídas que consideram as melhores para o Brasil. Diante do receio de uma disputa polarizada como a de 2018, estão se organizando para construir uma terceira via.
Um grupo de pesos-pesados – que reúne nomes como Pedro Passos, da Natura, Jayme Garfkinkel, da Porto Seguro, Pedro Wongtschowski, do Ultra e Fábio Barbosa, ex- Santander e ex-Febraban – tem conversado ativamente com líderes políticos e potenciais candidatos para entender qual deles poderia chegar ao segundo turno das eleições de 2022, apurou o Valor.
As alternativas que aparecem com mais frequência nessas discussões são os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) e o apresentador Luciano Huck – embora haja dúvidas sobre a disposição deste em se candidatar. Não há questão fechada em torno de nenhum deles e isso não deve acontecer tão cedo.
As conversas se desenrolam em pelo menos quatro grupos de WhatsApp e em reuniões por videoconferência. Participam mais cerca de 30 pessoas, entre empresários, banqueiros, economistas como Arminio Fraga e Ilan Goldfajn e o cientista político Felipe d’Ávila. As discussões giram em torno de como viabilizar um caminho que não seja de extrema direita nem de extrema esquerda. Boa parte dos interlocutores é signatária da carta aberta divulgada por economistas com propostas para o combate à pandemia – no documento, também constam outros nomes de peso, como os dos banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco, e do presidente do Credit Suisse, José Olympio.
Já houve conversas com Doria, com o líder do PSD, Gilberto Kassab, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ). Também foram ouvidos Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, e Mandetta. Hartung atuou nos últimos meses na articulação de uma eventual candidatura de Huck.
“Tem muitas conversas em andamento. Entendemos que a crise da saúde vai se agravar muito antes de melhorar e a economia não deve se recuperar até o fim do ano”, diz um empresário da indústria, sob reserva.
“A eleição de 2018 foi plebiscitária. Ninguém quer se colocar naquela situação novamente. Qualquer alternativa que se mostrar viável vai ter apoio”, afirma uma fonte do mercado financeiro.
O diálogo não estaria acontecendo apenas entre empresários e potenciais presidenciáveis. Três ou quatro possíveis candidatos já conversaram entre si, botando na mesa a ideia de concentrar esforços em apenas um nome, afirma uma fonte próxima às articulações. Avalia-se, no entanto, que é cedo para ter um cenário claro.
Até agora, ninguém arrisca m palpite sobre qual será o nome forte capaz de derrotar Bolsonaro e o PT nas urnas. Embora reconheçam que Doria assumiu o protagonismo na vacinação, entendem que o governador paulista tem forte rejeição. Leite, por sua vez, é pouco conhecido nacionalmente. Huck é visto com simpatia, mas a indecisão do apresentador deixa inseguros esses empresários. “Mandetta é um bom nome, fala bem, mas talvez não tenha densidade eleitoral”, afirma outro industrial.
Há um consenso entre eles de que o ex-juiz Sergio Moro não deve ser um líder de chapa, não só pela suspeição no caso envolvendo Lula, mas também porque não seria palatável para grande parte da esquerda. “Mas pode ser importante ter o apoio dele”, diz outra fonte do setor financeiro.
Moro mantém discrição sobre conversas com empresários no arranjo de forças para 2022. Mas já faz algum tempo que o ex-condutor da Operação Lava-Jato discute hipóteses de alianças políticas e cenários eleitorais visando a campanha presidencial, embora mantenha firme a frase padrão da qual se vale sempre que quer encerrar o assunto. “Caro, não estou falando sobre política”, costuma dizer.
Os movimentos políticos do ex-ministro da Justiça e hoje desafeto de Bolsonaro têm ficado mais aparentes desde que ele se aproximou de Doria e passou a integrar ao menos dois grupos de WhatsApp que contam com empresários e publicitários alinhados ao governador paulista. Doria é antagonista político de Bolsonaro e seu maior crítico quanto à condução da crise sanitária. Moro também fala regularmente com Mandetta e Huck.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) é considerado bom de voto, mas visto com muito ceticismo por causa do tom belicoso e de algumas pautas pouco ortodoxas. “Esse é um nome que não agregaria”, diz um banqueiro.
Porém, outro banqueiro – que não participa das conversas – considera até mesmo Ciro uma opção mais palatável que Bolsonaro e Lula. Para ele, uma disputa polarizada será “o caos” para o país.
A mobilização do empresariado começou há cerca de quatro meses, quando a percepção do mau desempenho do governo na pandemia despertou o temor de um segundo turno entre Bolsonaro e o PT nas próximas eleições. No entanto, as conversas esquentaram para valer com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que colocou Lula de volta no jogo político e tornou mais concreto o risco de uma disputa polarizada.
A percepção é a de que há espaço para uma terceira via e tempo suficiente para trabalhar nela, atraindo o eleitorado antibolsonarista e antipetista. Segundo um interlocutor, o grupo se dispõe a ajudar com propostas, enquanto a articulação política caberá ao candidato. “Precisa ser alguém que resgate a esperança”, diz.
O Valor conversou nas últimas semanas com empresários e banqueiros de diversos setores e matizes, alguns envolvidos nos grupos de discussão política e outros, não. Em comum a todos, há um rechaço a Bolsonaro, inclusive entre nomes que simpatizavam com o presidente. O humor já vinha azedando, mas a postura do presidente na pandemia foi a gota d’água. “Estamos vivendo uma das situações mais graves a que já assistimos”, diz uma fonte do setor financeiro.
Os empresários ouvidos já não acreditam na realização das reformas prometidas pelo governo, e veem com receio os atritos de Bolsonaro com outros poderes. Ainda assim, dizem não apoiar um impeachment com o argumento de que um processo do gênero tiraria o foco do combate à pandemia.
Procurados, Doria, Kalil, Leite e Moro não quiseram conceder entrevista. Mandetta não retornou os pedidos da reportagem.
O blogueiro Eduardo Guimarães foi condenado pela Justiça paulista a indenizar o governador João Doria em 20 mil reais. A causa foi um erro no título de matéria do Blog da Cidadania. O processo tramitou em duas instâncias em seis meses DURANTE A PANDEMIA, com o Judiciário parado. Clique na imagem abaixo para ler a notícia
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