Ex-pacientes de covid dizem que não são mais os mesmos
Foto: Cisele Paiva/ Imagem cedida ao Metrópoles
“Foram os 45 dias mais difíceis da minha vida. Nem quando corri uma meia maratona, senti uma fadiga tão grande”, compara a professora Cisele Paiva, de 46 anos. Oito meses após ter sido infectada pelo coronavírus, ela ainda padece com as sequelas da doença.
Cisele foi contaminada em julho de 2020, junto com o namorado, os sogros e os cunhados. Ela foi a única que não precisou ser internada em hospital, mas lembra dos 45 dias de angústia que enfrentou sozinha, isolada em casa para não transmitir o vírus para outros familiares.
Durante o período em isolamento, ela teve picos de pressão, 30% dos pulmões ficaram comprometidos, sentiu dores de cabeça intensas, febre, fadiga, perda do olfato e do paladar. Também manifestou um sintoma alérgico no corpo que, frequentemente, reaparece no rosto e na barriga.
“Eu não aguentava ficar em pé. Não tinha forças, era o tempo todo deitada. A fadiga vinha no final do dia, uma coisa inexplicável. O paladar e o olfato só voltaram no final de outubro”, relata.
Um mês depois de se recuperar da infecção, a professora começou o trabalho de fisioterapia e osteopatia com o doutor Carlos Magno, do IBPhysical. Foram três meses de tratamento para que conseguisse recuperar a força muscular.
“O processo de reabilitação foi um pouco lento no início por causa da fadiga e do cansaço que eu sentia para fazer os exercícios. Parece que a gente não vai voltar ao normal. As minhas pernas falhavam, não tinha força nas mãos, sentia muitas dores nas articulações. Senti muito medo de não me recuperar”, lembra.
Cisele também começou a fazer acompanhamento com um psiquiatra para tratar o pânico pós-traumático adquirido após perder o sogro e dois tios para a Covid-19. “As pessoas foram morrendo, eu não me sentia 100% e fiquei apavorada”, lembra.
Oito meses depois do diagnóstico, a professora que tinha o hábito de correr, nadar e pedalar passou a evitar praticar atividades físicas de alta intensidade. Segundo ela, o que mais incomoda atualmente é uma dor de cabeça persistente. “Não tem remédio nenhum que faça passar e ainda sinto fadiga por qualquer esforço a mais”, lamenta.
A memória e a concentração também continuam prejudicadas. “Não sou mais a mesma, tanto na parte emocional quanto física”, completa.
Cada organismo enfrenta o novo coronavírus de uma maneira, mas no geral, todos os pacientes precisam passar por avaliação após se recuperarem da infecção.
As sequelas mais comuns do coronavírus são fadiga, fraqueza muscular, dificuldade para engolir alimentos, perda de olfato e paladar, falta de ar, dificuldade para caminhar, queda de cabelo e perda de memória. Os pacientes também podem apresentar alterações no equilíbrio, dificuldade para dormir, irritabilidade e quadro depressivo.
De acordo com o fisioterapeuta e osteopata do IBPhysical, Carlos Magno, os efeitos da Covid-19 estão se mostrando mais comuns entre adultos jovens, com idade entre 30 e 50 anos. “No ano passado, a gente via essas sequelas mais presentes em idosos. Agora não, nós vemos também entre os jovens adultos”, afirma.
Para os que precisam de internação, o trabalho de fisioterapia deve começar ainda no ambiente hospitalar, focado primeiro no trabalho cardiopulmonar, enfatizado na respiração. “Normalmente, os pacientes com quadro grave ficam acamados por dez a 20 dias ou até mais. As alterações sensoriais prejudicam a capacidade de andar e, muitas vezes, eles sentem dificuldades para dar o primeiro passo”, diz Magno.
A reabilitação é longa. Os pacientes costumam demorar até 60 dias para apresentar melhorias funcionais. O principal objetivo do acompanhamento é fazer com que os pacientes restabeleçam ao máximo a condição que tinha antes da infecção, mas o especialista esclarece que muitos desafios se impõe, grande parte deles de ordem emocional.
“É muito importante contar com ajuda depois da Covid-19 para reestabelecer a vida o mais próximo do que se tinha antes da doença. Dependendo do quadro que desenvolveu, o paciente fica muito fragilizado”, afirma.