Negacionistas internados com covid fazem mea-culpa
Foto: Rodrigo Félix Leal/ANPr
Por atuar como cuidadora de idosos em um asilo paulistano, Maria Julia (nome fictício) fazia parte do grupo prioritário para vacinação contra o novo coronavírus. Rejeitou a imunização e seguiu trabalhando. Os sintomas de dor de garganta e febre Maria Julia associou a uma gripe. Quando veio a falta de ar, decidiu testar para covid. Positivo. Recorreu aos remédios do — suas palavras — “kit do nosso presidente”. Torcendo em casa pela cura, teve os planos interrompidos por uma enorme dificuldade para respirar. No pronto socorro da rede pública, uma tomografia revelou grave comprometimento dos pulmões. O caso inspirava cuidados em UTI, mas no dia da internação, 22 de março, o hospital só dispunha de leitos improvisados.
“Ela estava no cateter de oxigênio sofrendo para caramba. Superculpada, superarrependida. Achou que as coisas iam funcionar, que não era uma doença perigosa. Chorou durante toda a nossa conversa”, afirma Ariel (nome fictício), profissional de saúde que atua na linha de frente do combate à covid na cidade de São Paulo. Por temor de represálias, a fonte vetou a divulgação de seu nome ou de outras informações que possibilitem identificá-la. Detalho ao final do texto os motivos de pedido de sigilo.
Ariel conta que casos como o de Maria Júlia são “tristemente comuns”. “Muitos pacientes falam que não usavam máscara, que tomaram ivermectina ou o ‘kit covid'”. Em algumas situações, há descrença quanto à própria existência da doença. Caso da aposentada Esther, que deu entrada com quadro severo de falta de ar. Mesmo necessitando de ajuda externa para respirar, Esther insistia: “Essa doença é uma invenção”. A todo tempo tirava a máscara de oxigênio e, aos médicos, exigia ir para casa.
Redação com Uol