Pazuello ficará no cargo até Bolsonaro achar substituto

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Foto: Marcos Corrêa/PR

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta segunda-feira (15) durante entrevista coletiva que permanecerá no Ministério da Saúde enquanto o presidente Jair Bolsonaro faz “tratativa de reorganizar” a pasta.

Ele admitiu que Bolsonaro busca alguém para substituí-lo. Quando isso acontecer, será a terceira troca no comando do ministério desde o início da pandemia de Covid-19. “É continuidade, não há rompimento”, afirmou o ministro.

Pazuello disse que não pedirá demissão. “Não é da minha característica. Não vou pedir para ir embora”, declarou. De acordo com o ministro, se haverá substituição, cabe ao presidente decidir.

“Não estou doente. Não pedi para sair”, declarou Pazuello. Segundo ele, o cargo é do presidente da República e a possibilidade de deixar o posto existe desde que assumiu.

“O presidente, sim, está pensando em substituição, está avaliando nomes”, declarou.
Pazuello disse que não pedirá demissão porque isso não é “característica” dele.

“Eu não vou pedir para ir embora. Não é da minha característica, eu não vou pedir para ir embora. Nem eu nem o Élcio [Franco, secretário-executivo] nem nenhum de nós que está aqui. Isso não é um jogo, não é uma brincadeira: ‘Quero ir embora’. Isso é sério, é o país, é a pandemia, é o Ministério da Saúde. Não pode ser levado da forma como está sendo colocado. Eu não pedi para ir embora nem vou pedir. Estamos trabalhando, e é um trabalho em conjunto com o governo. Se haverá uma substituição ou não, cabe ao presidente da República e não a mim”, afirmou.

O ministro afirmou que se reuniu com Bolsonaro e com Ludhmila Hajjar, médica que não aceitou substituí-lo no ministério em razão de falta de “convergência técnica” com o presidente.

“Nós estamos num momento em que é preciso colocar também: ‘Ministro Pazuello vai ser substituído?’ Um dia, sim. Pode ser curto, médio ou longo prazo. O presidente está nessa tratativa de reorganizar o ministério. Enquanto isso não for definido, a vida segue normal. Eu não estou doente. Eu não pedi para sair e nenhum de nós, no nosso Executivo, está com problema algum. Nós estamos trabalhando focados na missão. Quando o presidente tomar a sua decisão, faremos uma transição correta, como manda o figurino”, declarou Pazuello.

Ao final da entrevista coletiva, Pazuello disse ter “muito orgulho” de estar na função de ministro da Saúde e ressalvou que a entrevista “não é uma palavra de despedida”.

“Dá muito orgulho estarmos agora à frente dessa pasta, cumprindo essa missão. Não me sinto, em hipótese alguma, pressionado por nenhuma notícia, nenhuma posição que venha de mídia errada, ‘fake news’, nada disso. Isso não é o problema. O problema é a pandemia, são os óbitos, os contaminados. O problema é apoiar todos os brasileiros. Essa é a missão. Isso que é difícil. O resto é fácil”, concluiu o ministro.

No Senado, há um movimento de parlamentares para a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) a fim de apurar eventuais irregularidades na condução da pandemia, especialmente no Amazonas. Entre outras ações, o colegiado investigaria se houve omissão por parte de Pazuello durante o período à frente da pasta.

Em pouco mais de um ano, já passaram pela pasta os médicos Luiz Henrique Mandetta – que assumiu o posto no início do governo Jair Bolsonaro – e Nelson Teich, que não chegou a passar nem um mês como ministro.

General do Exército, Pazuello foi nomeado secretário-executivo do Ministério da Saúde por Nelson Teich em abril de 2020, segundo cargo mais importante na gestão da pasta. Com a saída do “chefe”, Pazuello passou três meses como ministro interino. Só foi efetivado no cargo em agosto.

Desde então, o militar foi responsável por comandar as negociações do governo brasileiro para a compra de vacinas contra a Covid-19. Pazuello é investigado em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta omissão no socorro ao colapso do sistema de saúde no Amazonas.

No período à frente da pasta, Pazuello se envolveu ainda em outras polêmicas, como a recomendação reiterada de remédios sem eficácia para um suposto “tratamento precoce” da Covid-19; a má-gestão dos kits de testagem e a demora em celebrar contratos com os laboratórios produtores de vacina em todo o mundo.

A Polícia Federal abriu em janeiro um inquérito para investigar a conduta de Pazuello na crise sanitária do Amazonas. A autorização foi dada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski.

No colapso do estado, em janeiro, pacientes morreram pela falta de oxigênio medicinal nos hospitais e muitos tiveram de ser transferidos para receber atendimento médico em outros estados. Pazuello já foi ouvido pela PF e o inquérito tramita sob sigilo.

A gestão do ministro também é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou ilegalidade no uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) para o fornecimento de cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19. O medicamento não tem efeito contra o vírus.

Em despacho, o ministro Benjamin Zymler afirmou que o fornecimento do medicamento para tratamento não tem comprovação científica e que o remédio — utilizado no tratamento da malária — só poderia ser fornecido pelo SUS para uso contra a Covid-19 se houvesse autorização da Anvisa ou de autoridades sanitárias estrangeiras, o que não ocorreu.

Em outubro, Pazuello foi desautorizado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro. O presidente mandou cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, anunciado no dia anterior por Pazuello em uma reunião com governadores.

No dia seguinte, Pazuello recebeu o presidente no hotel onde mora em Brasília, onde se recuperava da Covid-19. Em um vídeo em que aparece sorrindo ao lado de Bolsonaro, o ministro comentou o cancelamento do protocolo: “É simples assim: um manda e o outro obedece”, disse.

Segundo informou o blog de Valdo Cruz, Bolsonaro sabia da negociação para a compra da vacina, mas voltou atrás após sofrer pressão de apoiadores em redes sociais. O episódio provocou mal-estar entre militares, já que Pazuello é um general da ativa do Exército, de acordo com o blog de Andréia Sadi.

Eduardo Pazuello é general de divisão do Exército Brasileiro desde 2018 e chegou ao governo com a missão de organizar e operacionalizar a logística do Ministério da Saúde no combate à pandemia de Covid-19.

Antes de atuar na Saúde, Pazuello foi coordenador operacional da Força-Tarefa Logística Humanitária Operação Acolhida, responsável pelos trabalhos relacionados aos cidadãos venezuelanos que chegaram ao Brasil por Roraima, fugindo na crise no país vizinho.

O general é ex-comandante da Base de Apoio Logístico do Exército e também trabalhou na coordenação logística das tropas do Exército na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

Pazuello nasceu no Rio de Janeiro e formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras em 1984, mesma instituição de formação do presidente Jair Bolsonaro. Na academia, fez cursos de operações na selva, paraquedista e aperfeiçoamento de oficiais.

G1