Presidente da OAB pode disputar governo do Rio ano que vem

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Foto: Reprodução

Em meio à queda de braço com o governador Cláudio Castro (PSC) envolvendo a adoção de medidas restritivas contra a Covid-19 nesta semana, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), comentou com aliados a possibilidade de apoiar o atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, ao governo do estado em 2022. Santa Cruz já foi sondado pelo PSDB, mas só deve definir seu destino ao fim do seu mandato na entidade, em janeiro do ano que vem.

Até então aliados, Castro e Paes assumiram posições opostas após o agravamento da pandemia. A divergência, segundo interlocutores de ambos os lados, também mira a construção de capital político para a próxima eleição. De olho no apoio do presidente Jair Bolsonaro e de diferentes forças políticas do estado, Castro contrariou o pedido do prefeito de estender medidas restritivas da capital, como o fechamento de atividades não essenciais, para toda a Região Metropolitana. Em resposta, Paes se referiu ao plano do governador, de decretar feriado sem vetar bares e restaurantes, como “Castrofolia”.

Segundo interlocutores de Paes, o prefeito do Rio vinha considerando Santa Cruz como possível candidato a deputado federal. A referência ao advogado como cabeça de chapa na corrida ao Palácio Guanabara só ocorreu após o atrito com Castro, com quem Paes vinha tentando manter boa relação.

Santa Cruz tem trânsito entre diferentes grupos políticos. O advogado mantém diálogo com nomes da esquerda fluminense, como o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e o vice-presidente do PT, Washington Quaquá, e também com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que vem tentando articular junto com o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), candidaturas do chamado centro político com oposição explícita ao bolsonarismo. Na atual gestão da OAB, Santa Cruz tem criticado reiteradamente manifestações de Bolsonaro consideradas antidemocráticas – a entidade pediu à Procuradoria-Geral da República que denuncie o presidente por supostos crimes cometidos durante a pandemia.

– O Felipe (Santa Cruz) não está tratando deste assunto por ora. Eu sempre fui entusiasta de sua candidatura ao governo, antes de o Paes se manifestar. Quando acabar o mandato na OAB, espero que ele pense no PSDB – afirmou o tucano Paulo Marinho, aliado de Doria e presidente do partido no Rio.

Após ter voltado atrás na ameaça de entrar na Justiça contra as restrições do Rio e de Niterói, o governador Cláudio Castro costurou um decreto alinhado a prefeitos de norte a sul do estado, com poucas alterações em relação às medidas já em vigor. A principal restrição, de fechamento das praias em todo o estado, já havia sido anunciada por cidades como Búzios e Cabo Frio, na Região dos Lagos, preocupadas com o fluxo de turistas da capital no feriado de dez dias.

Com a medida, na avaliação de um parlamentar próximo ao governador, Castro “deixou o ônus de medidas impopulares” com o prefeito do Rio e ainda se tornou mais conhecido pela população, o que é considerado um dos principais desafios para sua campanha à reeleição.

Castro assumiu como governador em exercício em agosto do ano passado por conta do afastamento de Wilson Witzel (PSC), que ainda responde a processo de impeachment. Perto de se filiar ao PSD, do deputado federal Hugo Leal (RJ), e buscando ampliar sua base no estado, Castro se aproximou do presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), André Ceciliano (PT), que também tem boa relação com Paes. Segundo um aliado do governador, a busca de Castro por consolidar seu nome ainda é “travada” por Paes, que desperta simpatia até mesmo na direção nacional do PSD. Embora o prefeito do Rio tenha dito que não será candidato ao governo, parlamentares avaliam que Paes será um “player” na disputa de 2022, e que dificilmente estará no palanque com Castro por conta de alinhamentos nacionais.

Incentivado por Leal, que comanda o PSD no Rio, o governador se aproximou no último mês do ex-deputado Rodrigo Bethlem, desafeto de Paes e estrategista da campanha de Marcelo Crivella (Republicanos) em 2020. Bethlem ficou de fora da distribuição de cargos feita por Castro a aliados, mas vem atuando com o governador como uma espécie de “conselheiro informal”, num arranjo similar ao que tinha com Crivella.

Bethlem foi um dos articuladores da “bolsonarização” de Crivella na última campanha municipal. Há duas semanas, Castro reagiu de forma mais dura a uma crítica de Doria, que questionava o porquê de o governador do Rio não assinar uma carta com críticas a Bolsonaro, e recomendou “um chá de camomila” ao tucano. No mesmo dia, Castro deu sinal verde para que dois jogos do Campeonato Paulista, vetados por Doria no estado, fossem realizados em Volta Redonda, município do Sul fluminense cujo prefeito, Antônio Francisco Neto (DEM), tem se mantido alinhado ao governador.

O Globo

 

 

 

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