Veja as confusões do governo na compra de vacinas

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Marcos Corrêa/Presidência

A foto acima retrata o lance final de oito meses de idas e vindas nas conversas entre o governo federal e a farmacêutica Pfizer em torno da encomenda de vacinas contra a Covid-19. Depois de muito impasse e negociação, Jair Bolsonaro não só aceitou se reunir com os representantes da multinacional, como também se comprometeu a comprar as vacinas.

Foi uma virada significativa para quem, até outro dia, desdenhava do negócio, dizendo que, se alguém tomasse a vacina e virasse “jacaré”, ficaria sem indenização. Apresentada internamente como uma vitória do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a reunião foi comemorada por parlamentares, ministros e pelo próprio presidente da República, que divulgou a foto em suas redes.

Para quem acompanhou todo o processo de perto, porém, eram as ausências que mais chamavam a atenção. Fora da reunião (e da foto) estavam dois dos personagens que mais se digladiaram nos bastidores por causa da Pfizer: o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que era contra a encomenda de vacinas, e o secretário de Comunicação do Planalto, Fabio Wajngarten, que defendeu a empresa dentro do governo durante meses.

No auge da disputa, Wajngarten acusou o ministro de incompetente e displicente, e Pazuello acusou o secretário de estar recebendo dinheiro para fazer lobby pela vacina da multinacional.

Na hora da reunião com a Pfizer, Pazuello estava no Rio de Janeiro, visitando a fábrica de vacinas da Fiocruz. Wajngarten, numa comitiva oficial enviada a Israel para conhecer um spray nasal que supostamente ajuda a combater a Covid. De acordo com auxiliares de Bolsonaro e parlamentares envolvidos nas conversas sobre vacinas, os dois saem tão chamuscados da briga interna que foi até conveniente que estivessem longe de Brasília.

Tudo começou em setembro, quando Wajngarten contou a interlocutores ter sido procurado por um empresário amigo que tinha uma queixa: o presidente mundial da Pfizer, Albert Bourla, esperava desde julho por uma resposta a um email enviado ao ministro da Saúde, oferecendo-se para fornecer vacinas ao governo federal.

Com a justificativa de resolver o impasse, o secretário de comunicação fez contato direto com a farmacêutica sem consultar Pazuello. Depois disso, passou a dizer, tanto no governo quanto fora dele, que o ministro era displicente e estava se amarrando a burocracias sem sentido no meio de uma pandemia.

Em agosto, a Pfizer enviou uma proposta formal ao governo. Mas Pazuello dizia que a quantidade de doses que a farmacêutica previa entregar – cerca de 500 mil por mês a partir de dezembro, chegando a 70 milhões no final de 2021 – era insuficiente para as necessidades do Brasil. O ministro também sustentava que a minuta de contrato apresentada pela multinacional continha exigências impossíveis de serem cumpridas pelo poder público.

Uma dessas cláusulas previa que o foro para ações judiciais relativas a possíveis efeitos colaterais da vacina deveria ser no exterior, não no Brasil. Além disso, a empresa queria que fossem feitos depósitos ou reserva financeira para o pagamento de indenizações de valor equivalente ao gasto na compra de doses – o que obrigaria o governo a reservar pelo menos 700 milhões de dólares. A Pfizer queria, ainda, que o governo a isentasse de responsabilidade sobre eventuais efeitos adversos provocados pela imunização.

Eram cláusulas que nem o Butantan, responsável pela Coronavac, nem a Fiocruz, responsável pela vacina da AstraZeneca/Oxford, faziam. Olhando em retrospectiva, alguns colegas de Pazuello no governo dizem acreditar que ele apostava que a Fiocruz seria capaz, sozinha, de atender todo o país.

Por um momento, até pareceu que as negociações destravariam. Foi em 7 de dezembro, quando João Doria, governador de São Paulo e desafeto de Bolsonaro, convocou uma entrevista coletiva para informar que a vacinação em seu estado começaria em 25 de janeiro. A notícia acendeu um alerta no Planalto.

Enquanto Bolsonaro ainda duelava com o vírus, Doria tinha um plano. Mesmo os aliados do presidente que diziam que o governador havia passado dos limites nas críticas a Bolsonaro reconheciam que ele tinha marcado pontos com a iniciativa.

No fim daquele dia, Pazuello interrompeu uma reunião que ocorria no ministério entre os técnicos e representantes da Pfizer, dizendo que vinha do Palácio do Planalto uma ordem para negociar. “Nós sabemos o que tem no contrato de vocês, não somos tolos, mas a ordem veio do presidente”, disse o ministro, visivelmente contrariado, segundo um dos presentes.

As cláusulas contratuais, porém, continuavam incomodando não só Pazuello, mas também Paulo Guedes e o próprio presidente. Perto do Natal, Bolsonaro declarou, num evento: “Lá no contrato da Pfizer está bem claro: nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito secundário. Se você virar um chi… um jacaré, o problema é de você, pô”.

Mas Wajngarten não desistiu. Continuou arregimentando aliados entre empresários bolsonaristas para pressionar pela compra da vacina. Irritados com a intromissão, os ministros militares compraram a briga de Pazuello e passaram a dizer, no Palácio, que o secretário trabalhava contra o ministro da Saúde a soldo da Pfizer. Wajngarten soube da história. Depois disso, ele e Pazuello nunca mais se falaram. Por um tempo, o secretário se recolheu, mas, em fevereiro, voltou a campo.

No dia 22 de fevereiro, quando finalizavam o projeto de lei que resolveria o impasse com a Pfizer, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) receberam mensagens de Wajngarten.

O secretário de comunicação criticava a decisão “equivocada” de Pazuello de deixar a Pfizer de fora das negociações e se ofereceu para apresentar os executivos da companhia aos senadores. Na época, Wajngarten chegou a visitar ministros do Supremo, falando em favor da compra das vacinas da Pfizer e da Janssen.

Àquela altura o Brasil registrava mais de 10 milhões de casos de Covid-19 e 247.276 mortes. E Wajngarten já fora ultrapassado pelo próprio Pacheco, que levou o filho 01 do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, a uma reunião com Pazuello no ministério da Saúde.

No encontro, o presidente do Senado argumentou que o empresariado estava fazendo muita pressão pelas vacinas e disse que o tema havia deixado de ser ideológico. Segundo Pacheco e Flávio, até mesmo a base mais fiel a Bolsonaro no Congresso já queria destravar a compra.

Só aí Pazuello cedeu. No início de março, o Congresso aprovou a lei de Randolfe e Pacheco autorizando o governo federal, estados e municípios a assumirem os riscos de efeitos adversos da vacina, como requisitou a Pfizer. Pelas novas condições, serão entregues 100 milhões de doses neste ano, por 10 dólares cada. Um seguro no exterior também está para ser contratado para pagar eventuais indenizações, como parte das exigências da farmacêutica.

Mas, dado o histórico do caso, nem os ministros envolvidos, nem os parlamentares e muito menos os executivos da Pfizer conseguiram relaxar. Apesar da foto e do vídeo garantindo a encomenda, todos sabem que a fatura só estará liquidada quando Bolsonaro de fato sancionar a lei que receberá do Congresso e o ministro da Saúde finalmente colocar sua assinatura no contrato – isso se nem Pazuello e nem Bolsonaro mudarem, de novo, de opinião.

O Globo

 

 

 

O blogueiro Eduardo Guimarães foi condenado pela Justiça paulista a indenizar o governador João Doria em 20 mil reais. A causa foi um erro no título de matéria do Blog da Cidadania. O processo tramitou em duas instâncias em seis meses DURANTE A PANDEMIA, com o Judiciário parado. Clique na imagem abaixo para ler a notícia

Quem quiser apoiar Eduardo e o Blog da Cidadania pode depositar na conta abaixo.

CARLOS EDUARDO CAIRO GUIMARÃES
BANCO 290 – PAG SEGURO INTERNET SA
AGÊNCIA 0001
CONTA 07626851-5
CPF 100.123.838-99

Eduardo foi condenado por sua ideologia. A ideia é intimidar pessoas de esquerda. Inclusive você. Colabore fazendo um ato político, ajudando Eduardo com qualquer quantia.