Volta de Lula muda planos de governador do Rio
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O retorno à cena do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), novamente elegível após ter as condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), colocou o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC), em sinal de alerta. Há uma avaliação no entorno do político sobre possíveis prejuízos eleitorais caso o PT chegue ao ano que vem com uma candidatura competitiva ao Palácio do Planalto, uma vez que esse movimento impactaria também a disputa pelo Palácio Guanabara. Castro assumiu o cargo substituindo Wilson Witzel, seu colega de partido afastado por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Para aliados do governador, um cenário com Lula disputando a Presidência poderá repercutir em todo o país, com destaque para o Rio, estado de origem do presidente Jair Bolsonaro, principal aliado de Castro. Em uma corrida eleitoral não polarizada entre o lulismo e o bolsonarismo, o governador poderia angariar votos de diversos espectros da política, conforme projeções de seus interlocutores. Com o “fator Lula” no horizonte, no entanto, a tendência é que Castro enfrente forte oposição do petismo, seja qual for a candidatura apoiada pelo PT.
Independentemente do cenário, Castro não deve abrir mão da aproximação com a família Bolsonaro. Ele tem sido orientado por pessoas próximas, inclusive deputados estaduais, a se afastar para evitar que a crise provocada pela condução da pandemia pelo governo federal respingue na própria imagem. Apesar dos conselhos e da movimentação no campo da esquerda, Castro segue dando declarações em consonância com o Planalto.
Enquanto avalia os desdobramentos das anulações das condenações de Lula na Operação Lava-Jato, Castro deve manter a rotina de viagens pelo Rio, reforçando a busca pelo apoio de prefeitos e a aproximação com a população, já que ainda é um rosto desconhecido para muitos moradores do estado.
Aliados consideram que o político, de olho em 2022, também seguirá ampliando sua base partidária a partir do fatiamento da administração. Diferentemente da estratégia de “porteira fechada”, em que um órgão é delegado a apenas um partido, Castro tem dividido suas secretarias entre três ou quatro apadrinhados de diferentes siglas, a maioria deputados estaduais.
Entre os contemplados, estão, por exemplo, aliados do MDB, partido dos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. É o caso de Gustavo Tutuca, que foi líder de Pezão na Assembleia Legislativa do Rio e hoje é secretário de Turismo. Há espaço também para o deputado estadual Bruno Dauaire (PSC), que ocupa a pasta de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e é ligado à família do ex-governador Anthony Garotinho.
Além de pessoas ligadas aos três antecessores, Castro entregou o comando da Tecnologia para o Republicanos, onde está Dr. Serginho, e o do Meio Ambiente, liderado por Thiago Pampolha, ao PDT. O PSD, que integrou as gestões de Cabral e Pezão, foi contemplado com a recriação da Secretaria de Justiça, chefiada por Sergio Zveiter.
O presidente de um dos partidos da base de Castro afirma que “já tem aliado reclamando dessa história de dar um pedaço para cada um de uma mesma secretaria”. Segundo ele, a tática, por um lado, agrada, mas “deixa todos com fome e expectativa de poder”