A Cloroquina é o Fiat Elba de Bolsonaro

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Foto: Reprodução

O estímulo ao uso da cloroquina pelo governo federal deve nortear a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga atos e omissões na condução da pandemia de Covid-19, segundo o site G1 (https://g1.globo.com/google/amp/politica/blog/gerson-camarotti/post/2021/04/21/cpi-da-covid-vai-seguir-caminho-da-cloroquina-para-demonstrar-aposta-intencional-na-imunidade-de-rebanho.ghtml). O senador Renan Calheiros articula a convocação de ex-ministros, como Luiz Henrique Mandetta e Eduardo Pazuello, a fim de municiar seu relatório.

A estratégia adotada é justificável, ainda que recaiam sobre o governo inúmeras outras suspeitas de irregularidades, desde o boicote ao isolamento social, passando pela recusa à compra de vacinas. Embora haja recomendações científicas neste sentido, é inegável que somente o Poder Público determinar e efetivar medidas desta ordem, não se pode ignorar o reflexo político em qualquer decisão a este respeito.

A Emenda Constitucional 95, vulgarmente conhecida como “Emenda do Teto de Gastos”, é inexequível e já ruiu na prática, embora ainda seja tabu entre políticos e empresários liberais, além dos grandes veículos de comunicação, todos adeptos da política econômica de Bolsonaro, discutir sua revogação. Portanto, a retórica fiscalista de apoiadores do governo brasileiro sustenta a justificativa de falta de recursos para aquisição de vacinas, pagamento de auxílio emergencial e fornecimento de crédito a micro e pequenos empresários. Em reunião, o ministro Paulo Guedes chegou a verbalizar a ausência de interesse em “salvar empresas pequenininhas” (https://economia.ig.com.br/2020-05-22/vamos-perder-dinheiro-salvando-empresas-pequenininhas-diz-guedes.html).

Por essas razões, discutir a responsabilização de Bolsonaro sob a ótica do boicote a medidas preventivas pode não gerar muita adesão entre os liberais, defensores de medidas de austeridade fiscal, mesmo em tempos de pandemia. Sendo assim, a opção pelo boicote ao isolamento dá a Bolsonaro a responsabilidade fiscal como argumento, ainda que falacioso, de defesa.

Por outro lado, há denúncias de superfaturamento na produção de remédios como a cloroquina (https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2020/09/15/exclusivo-sem-contestar-exercito-paga-quase-triplo-por-insumo-da-cloroquina), bem como da compra em quantidade muito acima da necessária (https://brasil.elpais.com/brasil/2020-04-27/producao-de-cloroquina-pelo-exercito-aumenta-80-vezes-mesmo-sem-conclusao-de-sua-eficacia-contra-a-covid-19.html), além de financiamento público a aliados do governo no setor privado e no Congresso Nacional (https://veja.abril.com.br/blog/noblat/siga-a-cloroquina/).

Se, por um lado, a opção por medidas de isolamento e a recusa à compra de vacinas são revestidas de certo viés político, o mesmo não se pode afirmar quanto à divulgação institucional de medicamentos. Está certamente fora da atribuição político-administrativa de qualquer governante a recomendação e publicidade de medicamentos. Ora, o chefe do Poder Executivo de qualquer nação é sempre uma liderança política de enorme exposição, em quem muitos se espelham. Disso, emana a responsabilidade por seus gestos e palavras.

Da mesma forma, podem ser responsabilizados gestores que, para dar vazão ao excesso de cloroquina em estoque, determinaram a sua utilização de maneira igualmente irresponsável, sem preocupação com os efeitos colaterais.

Há notícia de que medicamentos como cloroquina e ivermectina causaram problemas cardíacos (https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/21/medico-que-se-automedicou-com-hidroxicloquina-morre-apos-parada-cardiaca.htm) e hepáticos (https://super.abril.com.br/saude/pacientes-vao-para-fila-de-transplante-de-figado-apos-usar-kit-covid/) nos pacientes com sintomas de covid, dificultando ainda mais as chances de cura de uma doença que já possui elevados índices de letalidade.

Evidentemente, não é possível prever quais desdobramentos trará a CPI, sobretudo em função do caráter volúvel do provável relator, senador Renan Calheiros. Mas, não deixa de ser inusitado que apesar do genocídio em cursa, das conexões espúrias junto a grupos paramilitares, a contratação de funcionários fantasmas, o emprego da máquina pública para perseguir adversários e financiar uma rede de calúnias contra opositores, o símbolo máximo da administração criminosa de Jair Bolsonaro sejam suas aparições semanais no Facebook exibindo uma caixa de cloroquina.

Redação

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