Chile tem explosão de covid após romper isolamento social
Foto: Marcelo Hernandez / Getty Images
No final de maio, moradores de El Bosque, um município pobre no sul de Santiago, no Chile, romperam o confinamento e saíram às ruas para reclamar da atuação do governo chileno durante a pandemia. Dias depois, em La Pintana, outro município operário na periferia da capital, nova onda de protestos tomou a região. Os episódios de insatisfação se repetiram em outras províncias do país nas semanas seguintes. Em reação, o presidente Sebastian Piñera anunciou medidas para combater à pandemia e atender a população mais carente. Uma das ações foi a liberação de US$ 4 milhões à chinesa Sinovac/Biotech para a realização de estudos clínicos do imunizante no país, em troca de desconto de até 30% na aquisição da futura vacina, que viria a ser chamada de coronavac. Enquanto isso, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro falava que não compraria a “vacina chinesa de João Doria”.
O mandatário brasileiro vivia o negacionismo da vacina e ignorava os apelos para a aquisição de a maior quantidade possível de imunizantes, a única forma conhecida para acabar com a pandemia. Inspirada por previsões fantasiosas de assessores e aliados, como o deputado Osmar Terra (MDB-RS), o presidente achava que a doença que, até ali tinha matado 60 000 pessoas, estava no fim. Hoje são mais de 340 000 mil mortes.
Iniciada no final de dezembro, com a aplicações de doses da Pfizer, a campanha de vacinação contra a Covid-19 chilena alcançou nos primeiros três meses 26,5% de seu público-alvo com duas doses de imunizantes (90% feitas com doses da coronavac). Se levada em conta apenas a primeira dose, sete dos 19 milhões de habitantes já foram vacinados (cerca de 37% da população). A grande oferta de doses fez do programa imunização está entre os cinco mais avançados do mundo. O Chile aparecia praticamente empatado com o Reino Unido, atrás apenas de Israel e Emirados Árabes Unidos.
Mas isso tudo não impediu do país de viver o seu pior momento na pandemia da Covid-19 até aqui. Com mais de 8 000 contágios diários nos últimos dias e um recorde de ocupação de leitos de UTI, os chilenos enfrentam uma segunda onda forte. Como o país às margens do Pacífico chegou a esse quadro? A resposta é clara e deve ser aprendida: uma propaganda excessiva do governo vangloriando o programa que acabou provocando uma falsa sensação de segurança na população somada à chegada de novas variantes do vírus são apontados como causas do aumento dos casos.
A bomba relógio armada pelas autoridades locais com a colaboração leniente da população começou no final do ano. A queda dos casos da primeira onda levou ao afrouxamento das restrições de circulação e flexibilização das atividades comerciais e empresarias. Em janeiro, depois de restringir fortemente o fluxo de pessoas através das fronteiras internas entre as províncias – o equivalente aos estados brasileiros -, o governo criou um sistema de autorização para os chilenos irem nas férias de verão. Também reabriu academias, igrejas, restaurantes e até cassinos. Um erro que está custando, por dia, a vida de mais 100 chilenos, três vezes mais do que o número de vítimas da doença em dezembro, que era de 30 mortes.
Na avaliação de especialistas consultados por ÉPOCA, a escalada do contágio está relacionada a esse relaxamento do isolamento social. Em um período de 20 dias, entre 17 de março e 5 de abril, o número de internações em UTIs voltadas para o tratamento da Covid-19 chegou a subir 80,3% na faixa etária entre 4o e 49 anos. A presença de chilenos com menos de 39 anos aumentou 75,6% neste mesmo intervalo nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). “A curva ascendente [de contágios] se deve a uma disseminação viral durante o verão que o país não conseguiu controlar. A única maneira de controlar agora será com essas medidas mais intensas de quarentena que esperamos que tenham efeito. Isso significa que neste mês de abril teremos um período crítico porque os leitos de unidades de terapia intensiva estão no limite”, afirmou Miguel O’Ryan, professor no Programa de Microbiologia e Micologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Chile.
O ex-ministro da Saúde do Chile, o médico Jaime Mañalich reconhece que o afrouxamento das regras e o início da vacinação pode ter transmitido uma falsa sensação de segurança para a população, como se a pandemia estivesse totalmente controlada. “Uma liberação das pessoas que fizeram festas super contaminantes. Tivemos um problema muito sério de fiscalização no começo do verão e só agora voltamos a ter regras mais rigorosas”, afirmou Mañalich, acrescentando que o Chile é um país, como o Brasil, com bastante iniquidade, o que torna muito difícil adotar medidas de confinamento e contenção muito rígidas.
O aumento de casos positivos e de internações mesmo está servindo de alerta para o mundo e, segundo especialistas, sinalizam que ainda é cedo para acabar com as medidas básicas de prevenção. “Enquanto a transmissão do vírus estiver descontrolada, o risco de uma pessoa vacinada se contaminar é sempre menor do que uma pessoa não vacinada, mas ao aumentar a transmissão do vírus, a chance de ambos aumenta”, disse.
Enquanto a propagação segue em escala crescente em estratos mais jovens da população, um sinal relacionado à efetividade da vacina aparece no número de pacientes internados com Covid-19 em UTIs com mais de 70 anos. Esta foi a única faixa etária a apresentar uma redução, de 20,4%, no período mencionado. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, de São Paulo, responsável pela produção da vacina Coronavac no Brasil, está atento aos dados do Chile. “É um resultado de acordo com o esperado em um ambiente de vacinação. Esta queda importante do número de casos graves em idosos reflete o efeito da vacinação”, afirma Dimas Covas a ÉPOCA. Ele diz que resultados semelhantes são observados em países que alcançaram um percentual elevado de imunização em relação ao total da população.
Para Miguel O’Ryan,a redução das internações de idosos cumpre a estratégia central da vacinação: a proteção da pessoa contra infecções graves. “Obviamente a vacina não ia controlar a circulação [do vírus] e os contágios. Esperamos que a vacinação comece a ter um efeito na diminuição de casos até junho, quando teremos grande parte da população mais jovem vacinada.”
Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública e coordenador do Infogripe da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), é cético. Ele considera precoce atribuir a queda das internações de idosos em UTIs exclusivamente aos efeitos da vacinação. Para ele, o resultado é uma combinação da imunização com as medidas de restrição.“As pessoas acima de 70 anos são as que têm mais condições de manterem um isolamento maior. Certamente temos um efeito de proteção importante acontecendo”, pondera.
O ex-ministro da Saúde do Chile, Jaime Mañalich, acrescenta: “Enfrentar a pandemia com uma épica nacionalista é uma receita segura para o fracasso. Provavelmente como estratégia mundial de saúde, é importante destinar mais vacinas e vacinar as pessoas mais pobres e vulneráveis. Se o Chile consegue ter uma boa vacinação, mas os países que estão ao lado não conseguem, o vírus vai continuar circulando, gerando variantes e esta pandemia durará muitos anos mais do que se espera”.
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