Confira piores erros de Bolsonaro na pandemia
Foto: Evaristo Sa/AFP
Na terça-feira, 26, o Ministério da Saúde voltou atrás e orientou estados e municípios a estocarem a segunda dose ao invés de usarem as vacinas disponíveis para aplicar a primeira. Como justificativa, Marcelo Queiroga, ministro da pasta, admitiu a escassez de imunizantes em razão do atraso de insumos vindos da China.
Mas essa não é a primeira vez que o governo se atrapalha durante a pandemia com ações de enfrentamento da doença — a administração federal já errou na distribuição de doses, na oferta de oxigênio e no vaivém para assinar contratos de compra de vacinas, entre outros.
Veja abaixo uma lista com dez trapalhadas da gestão Jair Bolsonaro:
O Ministério da Saúde pressionou Manaus a distribuir o “kit Covid”, conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada, que continha hidroxicloroquina, azitromicina e, em alguns casos, ivermectina, para tratar preventivamente o vírus. O governo tinha conhecimento da falta de oxigênio no Amazonas desde o dia 10 de janeiro. Um dia depois, o general Eduardo Pazuello, então ministro da pasta, e a sua equipe visitaram unidades básicas de saúde na capital para incentivar o uso do kit.
Em um ofício encaminhado à Prefeitura de Manaus quatro dias antes da visita, o Ministério da Saúde pede autorização para ir até essas unidades que tratam a Covid-19 para que fosse “difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”. A pasta também diz que os medicamentos têm comprovação cientifica da sua eficácia.
No final de fevereiro, o Ministério da Saúde admitiu que trocou as remessas para dois estados da Região Norte: 78 mil vacinas da AstraZeneca deveriam chegar ao Amazonas, mas desembarcaram no Amapá, que esperava apenas 2.800 imunizantes. O erro foi corrigido pelo governo um dia depois da entrega. Pazuello, o ministro à época, não tem formação na área da saúde e a sua principal prerrogativa para assumir o cargo era a sua suposta especialidade em logística.
O governo federal firmou um acordo em janeiro com o Estado de São Paulo para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac produzidas pelo Instituto Butantan. Em outubro do ano passado, o Ministério da Saúde já tinha mostrado interesse no mesmo acordo, mas voltou atrás após Pazuello ser desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro, que atacou a vacina e a sua eficácia em várias oportunidades, por conta de ter sido desenvolvida pela Sinovac, um laboratório chinês, parceiro do Butantan, instituto ligado ao governo do rival João Doria (PSDB).
A Pfizer ofereceu ao governo federal a compra de 70 milhões de doses antecipadas em dezembro de 2020. Bolsonaro chegou a criticar a farmacêutica várias vezes por ela não se responsabilizar por eventuais efeitos colaterais e ironizou a segurança da vacina, levantando a possibilidade de virar um jacaré depois de ser imunizado. Segundo a empresa, a primeira proposta foi enviada em agosto do ano passado, quando o imunizante já estava em fase final de testes.
Em janeiro, por meio, de um ofício encaminhado ao Ministério da Saúde, a Pfizer aumentou o número de doses disponíveis para o governo brasileiro, de 70 milhões para 100 milhões, a serem entregues em 2021. Mas o impasse continuou em torno de uma cláusula do contrato considerada abusiva pelo Brasil. Em resposta, a farmacêutica afirmou que assinou contratos sob os mesmos termos com outros países, como Estados Unidos e Austrália, além da União Europeia.
No entanto, em março deste ano, o governo aceitou os termos da Pfizer e formalizou a compra de 100 milhões de doses, que devem chegar a partir de maio. A vacina tem eficácia comprovada superior a 90% e possui registro definitivo da Anvisa desde fevereiro deste ano.
O recuo desta semana não foi o primeiro do Ministério da Saúde em relação à segunda dose. Diante dos atrasos e da falta de vacinas, o então ministro Pazuello, após ter recomendado o uso da dose de reforço para a primeira aplicação, enviou um ofício à Frente Nacional de Prefeitos pedindo que o estoque para a segunda continuasse sendo feito. A mudança de posicionamento só veio após cobranças da entidade para que o ministério oficializasse a recomendação
Apesar de não ter eficácia comprovada, o chamado tratamento precoce é defendido e divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro desde o início da pandemia. Em janeiro, os gastos do governo com hidoroxicloquina, Tamiflu, ivermectina, azitromicina e nitazoxanida (o vermífugo Annita), medicamentos ineficazes para o tratamento da Covid-19, somavam quase 90 milhões de reais. Em novembro, por conta da falta de demanda, 400 mil comprimidos de cloroquina ficaram estocados no Exército.
O governo federal vem reduzindo a expectativa do recebimento de doses frequentemente. O Ministério da Saúde anunciou para maio uma diminuição de 31% do quantitativo de doses previstas — o país terá 32,4 milhões ao invés das esperadas 46,9 milhões. Em abril, o inúmero de imunizantes já havia sido reduzido em quase 9,85 milhões — seriam repassadas 57.179.258 de vacinas, mas a previsão é que o mês termine com 47.329.258 imunizantes distribuídos.
O cronograma de vacinação foi modificado pelo atual ministro, Marcelo Queiroga. Na gestão de Pazuello eram previstas 205,89 milhões de doses no primeiro semestre; agora são esperadas 159,45 milhões de vacinas para o mesmo período. A previsão era que fosse imunizado com as duas doses todo o grupo prioritário até maio, mas o atual ministro mudou a projeção para setembro.
O Ministério da Saúde tinha estocado em um armazém estatal em Guarulhos (SP), em novembro do ano passado, 6,8 milhões de testes RT-PCR, que são usados para diagnosticar casos de Covid-19. Os testes estavam a um mês do vencimento. O governo federal, então, recorreu a Anvisa para que eles tivessem a validade estendida. A Anvisa autorizou o uso até abril.
A plataforma TrateCov, criada pelo Ministério da Saúde, recomendava o tratamento precoce para qualquer paciente que apresentavam sintomas, que podiam ou não ser de Covid-19. O aplicativo foi criado em janeiro para orientar médicos e agilizar o diagnóstico do vírus em Manaus, quando a capital passava pela crise do oxigênio, mas qualquer pessoa conseguia acessá-lo.
Ainda no mesmo mês, a plataforma saiu do ar. A pasta justificou que o aplicativo havia sido disponibilizado indevidamente em razão de um ataque hacker, mas nunca apresentou evidências disso. De acordo com ministério, o TrateCov era um “projeto-piloto” que não havia sido lançado oficialmente ainda e funcionava apenas como simulador.
A disponibilização do aplicativo será investigada pela CPI instalada no Senado, que analisará a atuação do governo federal na pandemia.
O governo anunciou no início do ano que enviaria um avião à Índia para buscar vacinas. Para fazer a viagem, uma aeronave foi adesivada com a marca “Brasil imunizado”, sem que as negociações entre os países tivessem sido concluídas. A partida do avião teve que ser adiada mais de uma vez. O país asiático segurou as doses, sob a justificativa de que a exportação seria na mesma data do início da imunização local. Pazuello atribuiu a falha do plano de logística inicial às diferenças de fuso horário.
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