CPI esquentará embate entre Bolsonaro e governadores

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Foto: Pedro França/Agência Senado

A poucos dias da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia, dois grupos começam a se formar no colegiado. O primeiro deles busca fustigar, por interesses eleitorais, governadores adversários como forma de se projetar para as eleições de 2022. O segundo se organiza para blindar aliados que poderiam ficar expostos diante de investigações indesejadas. O cabo de guerra envolve, principalmente, nomes do Norte e Nordeste e deve acontecer mesmo com a CPI limitada em seu escopo de apuração.

A ofensiva para colocar governadores como alvos é puxada pelos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Eduardo Girão (Podemos-CE), ambos tratados como pré-candidatos em seus respectivos Estados. Do outro lado está o chamado “G7”, que reúne os sete senadores independentes ou de oposição que integram a CPI. A disputa tem pouco a ver com a pressão do presidente Jair Bolsonaro para que a comissão de inquérito atingisse também Estados e municípios, mas sim com a formação de palanques para o ano que vem.

Por conta desse movimento, o “G7” discute nos bastidores como evitar que a CPI seja usada para enfraquecer seus correligionários. O assunto foi, inclusive, tema de reunião no início desta semana. Segundo um interlocutor, a ideia é enfrentar e “tentar impedir o desgaste”. O PT, por exemplo, tem governadores em quatro Estados do Nordeste: Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Já o MDB comanda três unidades da federação: Alagoas, Pará e Distrito Federal.

A esperança dos dois partidos, PT e MDB, é que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) seja mesmo escolhido como relator da CPI. Isso porque o chefe do Poder Executivo em Alagoas é filho do senador emedebista. Na conversa mais recente do grupo, Renan ouviu pedidos, inclusive, para que não crie uma sub-relatoria destinada às apurações estaduais e municipais da CPI, algo que teria cogitado. O temor dos congressistas é que esse aceno de conciliação acabe se transformando num revés contra os representantes estaduais.

A escolha do senador Jader Barbalho como suplente do MDB no colegiado também foi fruto das preocupações com os governadores. Dirigentes do PT ligaram para o emedebista para cobrar que ele participasse do movimento de blindagem. Mesmo estando recluso por conta de problemas de saúde, Jader concordou com o pedido. O filho dele, Helder Barbalho (MDB), é governador do Pará e também tem sido alvo de investigações na pandemia.

Apesar de todo esses esforços, os Estados mais sujeitos a se tornarem vidraça são Piauí e Ceará. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) é um dos que não esconde intenção de atingir o governador do Estado, Wellington Dias (PT-PI). “Enquanto crescem os números de infectados e mortes pela covid-19 e a vacinação não avança por inépcia do governo estadual, o governador, em vez de buscar soluções para isso, gasta seu tempo e energia atrás de espaços para acomodar políticos na estrutura do governo”, publicou em mensagem no Twitter.

No Podemos, o nome que tenta se capitalizar eleitoralmente é do senador Eduardo Girão (CE), possível adversário do governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Girão tem insistido, por exemplo, para que a investigações recaiam sobre o grupo Consórcio Nordeste. No ano passado, esse consórcio entrou na mira do Ministério Público Federal (MPF) por supostos atos de improbidade administrativa em contrato firmado para a compra de respiradores. O negócio foi alvo da Operação Ragnarock, quando o consórcio ainda era presidido pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT). Em razão do escândalo, o ex-secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster, acabou exonerado do cargo.

O assunto é um “calo” para o PT e também para o Consórcio do Nordeste, que busca protagonismo político com a compra das vacinas Sputnik V, fabricada pelo Centro Gamaleya.

Valor Econômico

 

 

 

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