Custo Bolsonaro deve passar de 1,8 milhão de vidas

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Foto: Reprodução/Eduardo Anizelli/Folhapress

​Não é preciso ter nenhum diploma daquelas universidades celebradas para ver o descalabro em curso no Brasil. O descaso do governo Bolsonaro diante da pandemia já custou a vida de 380 mil brasileiros desde 21 de abril do ano 2020.

Suponha-se que ele fique no mandato até dezembro de 2022, a contar de abril do ano passado. Na ponta da caneta Bic serão mais cerca de 600 dias. A uma média conservadora de 2.500 mortes por dia, o país tem pela frente algo como 1,5 milhão de covas para abrir —fora as 380 mil já lacradas. Os requintes de crueldade se sofisticaram: não há insumos suficientes para aliviar as dores de intubações.

Não fosse o Brasil, estes números assustadores, omitidas as subnotificações, já deveriam ter mobilizado uma elite política e econômica digna desse nome. Nada disso.

Nos altos escalões só se ouve falar de articulações eleitorais. Não há uma única proposta para estancar esta hemorragia moral e mortal que ceifa principalmente os mais pobres e desvalidos como manchetou esta Folha.

Brasileiros que pretendem viajar ao exterior têm que ser desinfetados em algum país. A expectativa de vida por aqui andou pra trás pela primeira vez desde 1940.

Do governo do capitão expelido da caserna só se podem aguardar medidas de autodefesa e de sua famiglia. Bolsonaro está acuado. Sua reposta é (tentar) se blindar com mais e mais militares em Brasília e cooptar PMs para engrossar a tropa de milicianos. Uma guarda pretoriana. Os processos da rachadinha que enriqueceu ele e seu clã esbarram em manobras turvas no Judiciário emanadas do Planalto.

As mudanças em ministérios provam que o ruim sempre pode ficar pior. O da Saúde anterior, Eduardo Pazzuelo, deixou como legado uma curva exponencial de óbitos. Recusou a compra de vacinas e de oxigênio, mudou o mapa do Brasil com sua “logística” e terminou o mandato assumindo que era apenas um estafeta de um alucinado.

Hoje o ministério da área está entregue a um médico de currículo medíocre, cuja promessa ao assumir foi dar continuidade ao temporal. Está cumprindo a previsão. Marcelo Queiroga adiou novamente prazos de vacinação, sem cronograma ou anúncio de qual cartola vai tirar os imunizantes. Não há programa unificado de combate ao vírus nem orçamento previsto para este fim.

Quanto ao resto, é o resto mesmo. Ricardo Salles, por exemplo, não passa de uma serra elétrica movida a madeireiros criminosos. Desmoralizado aqui e lá fora, está prestigiado pelo presidente encurralado. Agora quer dinheiro internacional para criar uma tropa de milicianos ambientais depois de desmontar o Ibama, ICMbio e a estrutura responsável por reduzir o desmatamento.

Só um especulador deslumbrado como Paulo Guedes imagina que R$ 200 mensais sustentam famílias. O valor mal paga as gorjetas que o gran monde deixa nos valets após regabofes estampados em colunas sociais.

Dados disponíveis mostram que parte significativa da classe C voltou para baixo. Anos perdidos. Campanhas de arrecadação de alimentos são sempre bem-vindas, mas o povo não quer viver de esmolas. Quer trabalhar, conquistar o que tem direito, assumir o controle do país no qual é maioria.

Para isso, antes de tudo o Brasil precisa de um plano nacional de vacinação, testagem em massa, medidas coordenadas de combate ao vírus que condicionam a retomada da economia destruída pela dupla Temer-Bolsonaro e aliados de sempre. Sem isso, é o abate puro e simples a que estamos assistindo.

É bom a oposição verdadeira enxergar isso o quanto antes, em vez de se dedicar a colóquios politiqueiros com cúmplices de um impeachment farsesco.

O governo Bolsonaro não tem conserto. Qualquer conclusão fora dessa equivale ao fim da tal CPI antes mesmo de ela começar. Tirá-lo do Planalto é para ontem, e não depois de 1,8 milhão mortos.

Folha  

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