Delegado perseguido por Bolsonaro ironiza suas promessa ambientais
Foto: Wérica Lima/ Inpa
O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, líder da investigação que culminou em ‘apreensão histórica’ de madeira ilegal na Amazônia e autor da notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, ironizou nesta quinta, 22, que o desmatamento no Brasil vai acabar, até 2030, ‘por falta de floresta’. A indicação se dá na esteira da fala do presidente Jair Bolsonaro, que, durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, afirmou que o País assumiu o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030 e que o País atingiria a neutralidade climática em 2050.
Até 2030 o desmatamento vai acabar…. por falta de floresta. 😂😂😖😫😩 @leaoserva @fiscaldoibama
— Alexandre Saraiva (@DelegadoSaraiva) April 23, 2021
Em perfil recém-criado no Twitter, o ex-superintendente da PF no Amazonas – que foi substituído após enviar a notícia-crime contra Salles ao Supremo Tribunal Federal – defendeu que é ‘hora de lutar pela Floresta’ e de ‘mostrar que a Amazônia importa’. “Não vai passar boiada nenhuma!!!”, registrou ainda o delegado em letras maiúsculas, na primeira publicação feita na rede social, nesta quarta, 21. A autoria do perfil foi confirmada pela PF no Amazonas.
A indicação de Saraiva faz referência a fala do ministro do Meio Ambiente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, tornada pública no âmbito no inquérito que apura suposta tentativa de interferência política de Bolsonaro na PF. Na ocasião, Salles disse que era preciso aproveitar a ‘oportunidade’ que o governo federal ganha com a pandemia do novo coronavírus para ‘ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas’.
Um ano após a fatídica reunião, Saraiva imputou a Salles supostos crimes de obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. Segundo o delegado, além de dificultar a ação de fiscalização ambiental, Salles ‘patrocina diretamente interesses privados (de madeireiros investigados) e ilegítimos no âmbito da Administração Pública’ e integra, ‘na qualidade de braço forte do Estado, organização criminosa orquestrada por madeireiros alvos da Operação Handroanthus com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza’.
Nesta quarta, 21, na esteira das acusações e às vésperas conferência internacional sobre as mudanças climáticas convocada pelo presidente americano, Joe Biden, Salles foi alvo de um tuitaço e passou parte do dia envolvido em bate-boca pelas redes sociais. Uma das celebridades que defenderam o #ForaSalles e rebateram o ministro foi a cantora Anitta. Saraiva chegou a compartilhar uma mensagem da empresária.
Já na manhã desta sexta, 23, o delegado comentou sobre as estratégias identificadas em operações da PF para a exportação de madeira ilegal. Saraiva defendeu a auditoria de processos administrativos que autorizam o desmatamento, apontando que ‘em regra geral’ os documentos produzidos a partir de tais procedimentos, o Documento de Origem Florestal – são baseados em fraudes.
A madeira ilegal financia a destruição, mas não é possível comercializá-la ou exportá-la sem o DOF. É o mesmo que documentar veículos roubados com documentos fraudados (DETRAN ). É uma certeza que 99% dos processos que autorizam o desmatamento são fraudados.
— Alexandre Saraiva (@DelegadoSaraiva) April 23, 2021
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