Sob Bolsonaro, até chefe da Abin faz políticagem na internet
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
Poucos integrantes do governo têm acesso irrestrito ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, está nessa lista seleta de visitantes com passe livre. Aos finais de semana, ele costuma levar informações estratégicas a Jair Bolsonaro. Nos últimos meses, porém, o chefe do serviço secreto brasileiro ficou desgastado após ter sido envolvido num suposto caso de arapongagem junto com a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), conforme revelou a revista “Época” em dezembro. Acossado, Ramagem tem adotado um plano de marketing pessoal, atípico para a sua função, ao tentar melhorar a sua imagem.
O diretor-geral da Abin tinha um perfil no Twitter desde outubro de 2012, mas, devido à discrição exigida para ocupar o seu cargo, participava pouco da rede social. Costumava apenas curtir posts do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. No último dia 6 de abril, Ramagem decidiu reativar a sua conta, um movimento que nenhum de seus antecessores havia feito até então.
Sob pressão, Ramagem decidiu virar uma figura pública e divulgou a conclusão de uma sindicância que, segundo ele, teria inocentado a agência no episódio de produção de relatórios de inteligência fornecidos clandestinamente à defesa do filho do presidente.
Além de reativar o Twitter, o diretor-geral da Abin criou contas no Instagram e no YouTube para falar sobre o mesmo assunto que o colocou na berlinda.
O propósito original de Ramagem era usar as suas redes sociais para se defender e retocar a imagem da agência. Mas ele tem aproveitado para se engajar nas pautas do governo e, assim, tentar agradar o presidente. Desde 6 de abril ele passou a compartilhar publicações institucionais de Bolsonaro a respeito da distribuição de vacinas, divulgou o leilão de concessão de aeroportos realizado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e compartilhou publicações de diversos outros ministros. Além disso, endossou críticas à imprensa feitas pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.
Projeto político
Essa investida gerou rumores nos bastidores do governo de que Ramagem estaria se movimentando para se lançar candidato a deputado nas eleições de 2022. Perguntado por amigos sobre esse assunto, ele desconversa e diz não ter planos políticos. Em conversas reservadas, o chefe da Abin reclama de ter se tornado alvo de ataques da imprensa e diz que buscou as redes para ter um canal direto de comunicação.
Delegado da Polícia Federal (PF) desde 2005, Ramagem chegou ao comando da Abin com o apoio de Carlos Bolsonaro, em julho de 2019. Os dois se aproximaram na campanha eleitoral de 2018, quando o policial assumiu a coordenação da segurança de Jair Bolsonaro após o episódio da facada em Juiz de Fora (MG). Em função disso, foi convidado para trabalhar no Palácio do Planalto.
A confiança de Bolsonaro em Ramagem era tamanha que, em abril de 2020, ele foi escolhido para dirigir a PF. A sua posse, no entanto, foi barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, sob suspeita de interferência do presidente na corporação após acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Impedido de assumir o cargo, o diretor-geral da Abin indicou Rolando de Souza, um delegado de sua confiança. A ideia era aproximar as duas corporações, ampliando o seu poder de influência.
Esse plano foi por água abaixo nas últimas semanas, quando Bolsonaro decidiu trocar a chefia da PF, nomeando para o posto o delegado Paulo Maiurino, num claro sinal da perda de prestígio de Ramagem.
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