Artigo prova que Ernesto mentiu à CPI
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Em depoimento à CPI da Covid, no Senado, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo negou que tenha causado atritos com a China durante a pandemia da Covid-19. No entanto, ao longo do ano passado, o ex-chanceler deu declarações críticas ao gigante asiático e cunhou o termo “comunavírus” para se referir ao coronavírus no artigo em que critica o regime totalitário chinês — o texto foi relembrado durante a sessão desta terça-feira pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).
Em abril do ano passado, Araújo escreveu, em seu blog “Metapolítica 17”, uma análise do livro “Vírus”, do filósofo Slavoj Zizek, e comparou com a crise sanitária. O ex-chanceler afirmou que haveria um “plano comunista” que via a pandemia como uma oportunidade de “acelerar um projeto globalista”.
Em relação à China, Araújo escreve que o filósofo vê Wuhan, cidade em que foram registrados os primeiros casos da Covid, como um “mundo dos sonhos” devido a rígida quarentena imposta para conter o contágio do vírus.
“No pensamento de Žižek, à custa da destruição dos empregos que permitem a sobrevivência digna e minimamente autônoma de milhões e milhões de pessoas, ao preço do desmantelamento de sua liberdade e de seu sustento, se atinge um mundo ‘em paz consigo mesmo’. O comunismo sempre afirmou que seu objetivo é a paz e a emancipação de toda a humanidade. Aí, numa cidade deserta, sem emprego, sem vida, onde cada um é prisioneiro em seu cubículo, sob a supervisão de uma autoridade suprema que nem sequer é o governo do seu próprio país (que por mais ditatorial que seja ainda pelo menos tem um rosto e uma bandeira), mas uma agência global anônima e inatingível, aí está a configuração perfeita da paz e da emancipação comunista”, escreve Araújo, que ao longo do texto também critica a Organização Mundial de Saúde.
Procurado pelo GLOBO, o filosofo Zizek respondeu que o ex-ministro “não entendeu a questão”. Na CPI, Araújo se defendeu dizendo que citou apenas lateralmente a China em seu blog. Leia a íntegra do artigo do ex-chanceler.
Em outros momentos, Araújo causou atritos com a China ao criticar a sua influência no cenário internacional — defendendo uma aliança de países para se contrapor ao poder do país asiático no mundo. Essa declaração em um debate no Fórum Econômico Mundial, em janeiro deste ano.
Na ocasião, ao ser perguntado sobre como ele via a China nos dias atuais, o chanceler disse que o país se tornou ator na globalização no início do século. Porém, ao contrário do que se esperava, não se ocidentalizou:
— A ideia era que a China se tornaria mais ocidental, mas isso não aconteceu, claro. Mas, em certo ponto, o que começou a acontecer é que o Ocidente começou a se tornar mais e mais como a China — disse.
No início da crise sanitária, o então chanceler entrou em embate direto com o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, ao pedir uma retratação do representante da China após Yang responder o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que culpava o país asiático pela pandemia. Em nota publicada no Twitter, Araújo chamou a reação do embaixador de “inaceitável” e “desproporcional”, pedindo uma retratação da embaixada.
“Já comuniquei ao embaixador da China a insatisfação do governo brasileiro com seu comportamento. Temos expectativa de uma retratação por sua postagem ofensiva ao chefe de Estado”, disse Araújo na nota.
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