Bolsonarismo está vencendo guerra sobre CPI no Twitter
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Embora parlamentares governistas estejam em minoria na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, a base pró-governo dominou, com larga vantagem, o debate sobre o tema nas redes sociais. A constatação aparece em medição de atividades no Twitter e no Facebook entre 27 de abril e ontem, trabalho realizado pela Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (Dapp/FGV). Pelo menos até agora, a força do bolsonarismo na internet vem servindo de contrapeso ao noticiário crítico ao governo.
No estudo sobre o Twitter, a Dapp analisou 2,72 milhões de mensagens relacionadas à CPI. O momento de maior intensidade ocorreu na terça-feira, dia 4, com 572 mil postagens, data do depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) à comissão. Em todo o período, praticamente dois terços das interações ocorreram no que os pesquisadores da Dapp chamam de grupo azul, a reunião dos perfis mais fechados com o bolsonarismo.
Esse grupo azul é formado por políticos de direita, blogueiros e influenciadores que oferecem apoio irrestrito ao presidente Jair Bolsonaro. São 41% dos perfis que se manifestaram sobre a CPI no período. Esses personagens se dedicaram, principalmente, a contestar a participação do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator e a desmentir afirmações feitas por Mandetta em seu depoimento.
No polo oposto está o grupo vermelho, composto por políticos de esquerda e centro-esquerda, canais de mídia alternativa e influenciadores críticos ao governo. São 36% dos perfis e foram responsáveis por pouco mais de um quarto das interações, 26,4%.
Além de insistirem na responsabilização de Bolsonaro pelo enorme número de óbitos por covid-19 no país, buscaram impulsionar declarações de Mandetta e ironizar o receio de alvos das investigações, em especial do general Eduardo Pazuello, também ex-ministro da Saúde.
Nesse ambiente de antagonismo exacerbado, dois outros agrupamentos menores atuaram como espécie de satélites dos núcleos principais. Um grupo verde (3,3% dos perfis e 1,2% das interações) apresentou-se mais próximo ao bolsonarismo. É composto por políticos de direita e jornalistas simpáticos ao governo, mas sem alinhamento automático. Já um grupo rosa (12,5% dos perfis e 4,5% das interações) mostrou-se crítico ao governo, porém sem vínculo evidente com a oposição. Também é composto por jornalistas e influenciadores.
No Facebook, a Dapp analisou publicações feitas pelos perfis de 594 deputados e senadores no mesmo período. Em 2.011 postagens de 335 parlamentares, foram detectadas 5,5 milhões de interações. Nesse campo, o bolsonarismo também prevaleceu.
Dos 15 parlamentares que mais postaram sobre a CPI no Facebook, 14 são de oposição a Bolsonaro. O mais empenhado foi o senador Humberto Costa (PT-PE), com 59 publicações, seguido pela deputada Alice Portugal (PC do B-BA) e pelo deputado José Guimarães (PT-CE), com 41 cada.
Apesar do evidente empenho dos oposicionistas em postar, os três parlamentares que mais conseguiram interações foram da base bolsonarista. A campeã, com enorme vantagem, foi a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), com 1,7 milhão de interações. Em segundo e terceiro lugares ficaram os deputados Filipe Barros (PSL-PR) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), 339 mil e 284 mil interações, respectivamente. Humberto Costa foi o quarto com 275 mil.
Para o pesquisador Marco Aurélio Ruediger, coordenador do estudo, os dados mostram que “por todos os ângulos” Bolsonaro é o personagem principal da CPI. “Há uma luta entre duas narrativas. A base dizendo que ele agiu para reduzir os impactos da covid na economia, a oposição dizendo que foi inepto, não evitou milhares de mortes. Nas duas ele é a figura central”, afirma.
Outro aspecto destacado por ele é a confirmação do domínio do bolsonarismo nas redes. “A oposição tem se esforçado para ser mais ativa, é visível, mas a capacidade de organização e de mobilização dos que estão torno de Bolsonaro segue sendo bem mais efetiva.”