Bolsonaro usa estética fascista premeditadamente
Foto: André Borges/AFP
Na quinta passada, Eduardo Pazuello se penitenciou à CPI da Covid após ter sido flagrado sem máscara num shopping de Manaus. O general fingiu arrependimento por desrespeitar as regras sanitárias. “Peço desculpas por isso”, afirmou.
Três dias depois, o ex-ministro participou de um comício com Jair Bolsonaro no Parque do Flamengo. A exemplo do chefe, discursou sem máscara, lançando perdigotos sobre a plateia. Foi a menor das suas transgressões no palanque.
Diante do Monumento aos Pracinhas, Pazuello pisoteou o Regulamento Disciplinar do Exército. O texto proíbe militares da ativa de se manifestar, sem que estejam autorizados, sobre assuntos de “natureza político-partidária”. Ao ignorar a regra, o general rompeu a hierarquia e deu um novo incentivo à politização da tropa.
A provocação foi combinada com Bolsonaro, que viveu um dia de Mussolini com seus fanáticos de motocicleta. No passado, o capitão estimulou a anarquia militar para transitar dos quartéis ao Congresso. Agora investe na cooptação das Forças Armadas para fortalecer seu projeto autoritário.
No início da pandemia, o presidente levou seus seguidores para a porta do Quartel-General do Exército, onde discursou num ato que pregava o fechamento do Congresso e do Supremo. Nos últimos meses, passou a ameaçar o uso de tanques contra governadores e prefeitos que não se curvam ao negacionismo federal.
Pressionado pela CPI e pelas pesquisas de opinião, Bolsonaro aposta no golpismo para intimidar adversários e contestar uma possível derrota nas urnas. Pazuello já cumpriu a primeira missão quando virou ministro e sabotou o combate à pandemia. Agora sobe no palanque do chefe para ajudá-lo a semear a baderna em 2022.