CPI confrontará Ernesto Araújo com ex-embaixadora na OMS

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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A pressão sobre a diplomacia brasileira não vai perder força na CPI da Pandemia. Depois do depoimento nesta terça-feira do ex-chanceler Ernesto Araújo, os senadores agora querem convocar a ex-embaixadora do Brasil na OMS, Maria Nazareth Farani Azevedo. Um dos objetivos seria o de “checar” a narrativa apresentada pelo ex-ministro e entender de que forma o país participou dos debates na agência mundial de Saúde, em Genebra.

Um requerimento neste sentido foi apresentado por senadores do PT, no dia 7 de maio, e deve ser votado nos próximos dias. A embaixadora, que há poucos meses deixou seu posto, era quem operava as instruções vindas do Itamaraty para a atuação do Brasil na ONU e na OMS.

Na proposta de convocação, os senadores listam temas como a “adesão tardia e insuficiente ao COVAX e atitude hostil em relação à OMS”, além de outros temas de política externa.

“A convocada é diplomata, Representante Permanente do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra, portanto, testemunha dos fatos acima e seu depoimento pode ajudar na busca da verdade fática, objetivo do inquérito”, afirma o requerimento. “Por isso, a aprovação do presente requerimento é fundamental ao esclarecimento dos fatos investigados”, defendem os senadores.

A embaixadora foi chefe de gabinete do ex-chanceler Celso Amorim e, no governo petista, ganhou espaço dentro do Itamaraty. Seus apoiadores chegaram a propor seu nome para a ex-presidente Dilma Rousseff, o que a tornaria a primeira mulher da história a comandar o Itamaraty. Mas isso não se concretizou.

Já no governo de Jair Bolsonaro, ela chamou a atenção da ala mais radical da base de apoio do presidente ao promover cenas inusitadas de bate boca com Jean Wyllys, na ONU, além de assumir a pauta de ataques contra Cuba e Venezuela.

Sua atuação na defesa de Bolsonaro levou o presidente a romper protocolos e telefonar diretamente para a embaixadora, em Genebra, para agradecer pelo apoio. Ao longo de meses, ela ainda se aproximou da ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, também assumindo de forma enfática a agenda ultraconservadora da pasta e inclusive defendendo de forma velada o governo de Donald Trump de ataques na ONU por conta da violência policial contra negros.

A queda de Ernesto Araújo reabriu a ofensiva de seus apoiadores para que ela fosse chanceler. Mas, uma vez mais, o convite não ocorreu.

Durante a pandemia, na OMS, a embaixadora afirmou que o Brasil estava tomando “medidas consistentes” para lidar com o vírus, enquanto nos bastidores acompanhou e informou o Itamaraty sobre as iniciativas de compra de vacinas pela entidade internacional.

Telegramas emitidos antes mesmo da criação da Covax, em abril, acenaram às autoridades em Brasília o que estava sendo planejado em Genebra. O Brasil apenas indicou que gostaria de participar do mecanismo em junho e, em seu depoimento, Araújo negou que tenha sido a embaixadora a responsável por convecê-lo a aderir ao projeto.

Hoje, a embaixadora – conhecida no meio diplomático por seu apelido Lelé – é cônsul do Brasil em Nova Iorque.

Novo chanceler terá também de comparecer diante de deputados
Enquanto se aguarda para saber se haverá a convocação da diplomata, o novo chanceler Carlos França estará hoje na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados para explicar o comportamento de embaixadores que, nas últimas semanas, têm feito declarações na imprensa internacional sobre a situação da pandemia no Brasil.

Por iniciativa do deputado e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), França será questionado sobre as orientações que existem para postos no exterior sobre a situação sanitária no país.

Numa entrevista que foi ao ar na imprensa francesa no mês passado, o embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, afirmou que a culpa por hospitais desbordados hoje no país é da falta de investimentos da esquerda em saúde.

Ao ser confrontado ao vivo com os dados de mortes e diante do comentário de um jornalista francês de que existe uma percepção de que o presidente Jair Bolsonaro “não faz muita coisa” para lidar com a pandemia, o embaixador subiu o tom:

“Ah, você acha que ele faz pouca coisa? Então vou te dizer uma coisa: o Brasil é o quarto, quinto país do mundo que mais vacinou. Você sabia disso? Fale isso, fale isso!”, insistiu o diplomata, arregalando os olhos. “O presidente vacinou 30 milhões de brasileiros. E, por conta desse dado, nós somos o quinto país que mais vacinou, depois dos EUA, China, Índia e Reino Unido. Você não acha que esse é um bom resultado?”, retrucou.

Em nenhum momento o diplomata explicou que mais de 80% das vacinas hoje no país fazem parte do acordo entre o Butantan e a Sinovac e sua resposta passava a impressão de que a campanha de vacinação era obra de Bolsonaro. O diplomata tampouco explicou que, em proporção ao tamanho da população, o Brasil não aparecia naquele momento nem entre os 50 países que mais vacinaram.

Nesse momento, o apresentador tentou interromper, mas foi cortado pelo embaixador. “Deixe eu terminar”, insistiu o brasileiro. “Se os hospitais estão lotados é por causa dos 24 anos da esquerda no Brasil, que não construiu hospitais suficientes”, afirmou.

“Qual a orientação deste Ministério das Relações Exteriores para embaixadores brasileiros no exterior sobre manifestações públicas a respeito do enfrentamento à pandemia no Brasil?”, questiona o documento dos deputados.

O requerimento ainda pergunta se “a difusão de mentiras e notícias falsas a respeito da saúde pública e enfrentamento à pandemia no país por parte de embaixadores do Brasil no exterior é orientação deste Ministério das Relações Exteriores?”

Uol