DEM se prepara para sentar no colo de Bolsonaro

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Foto: Werther Santana / Estadão

Depois de apoiar candidatos tucanos em todas as disputas presidenciais desde 1994, o DEM vive uma crise de identidade e se afastou do projeto de formar uma frente ampla de centro na eleição presidencial. A legenda agora se divide entre a possibilidade de aderir de vez ao projeto de Jair Bolsonaro ou investir em um nome próprio.

Presidido por ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e pré-candidato ao governo da Bahia, o DEM tem sofrido uma debandada de políticos mais alinhados ideologicamente ao centro que à direita. O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, se filiou ao PSDB na semana passada, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou sua ida para o PSD, e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) foi o primeiro a revelar a desfiliação, mas ainda não bateu martelo sobre a nova legenda. Outras saídas ligadas aos três ainda devem ocorrer.

A sigla, que nasceu em 1985 como PFL, fundada por integrantes da Arena, partido que deu apoio ao regime militar, foi rebatizada de Democratas em 2007. Após participar das gestões tucanas e fazer oposição aos governos do PT, a legenda mantém o discurso de independência em relação a Bolsonaro, apesar de ter dois ministros filiados: Teresa Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral).

Na esteira da onda conservadora que ajudou a eleger o presidente, o DEM saiu fortalecido das eleições do ano passado: saltou de 268 prefeitos eleitos em 2016 para 464 – alta de 73%.

A cúpula do partido, porém, tenta agora evitar que a legenda migre por gravidade para o palanque governista em 2022. Além de dois ministros, a maior parte de sua bancada no Congresso tem atuado alinhada ao Palácio do Planalto. O senador Marcos Rogério (RO), por exemplo, faz parte da tropa de choque governista na CPI da Covid.

Levantamento do Estadão com os 27 deputados do partido, em fevereiro, mostrou que a maioria é simpática às pautas do governo no Congresso e admite apoiar a reeleição de Bolsonaro.

Para se contrapor a esse movimento, dirigentes da sigla planejam aumentar a exposição do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, pré-candidato ao Palácio do Planalto por meio de viagens pelo País e participação em lives e outros eventos. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), também tem sido citado na sigla como presidenciável. Já nos Estados, pela contabilidade interna, o DEM considera ter boas chances de reeleger seus dois governadores, Ronaldo Caiado (GO) e Mauro Mendes (MT), além de emplacar ACM Neto (BA), Gean Loureiro (SC) e Marcos Rogério (RO). A força eleitoral de Bolsonaro nestes palanques será essencial para a decisão da sigla, mas, por ora, o discurso é não vincular o apoio local à aliança nacional.

A partir das últimas pesquisas de intenção de voto, que apontam larga vantagem para o ex-presidente Lula e a perda de força de Bolsonaro, integrantes do partido acreditam que é possível abocanhar votos de centro-direita entre eleitores do presidente.

Com nomes de centro patinando abaixo de dois dígitos nas mesmas pesquisas (inclusive o de Mandetta), a chamada frente ampla para enfrentar Lula e Bolsonaro parece menos atrativa. “A ideia de frente ampla perdeu espaço para a estratégia de testar diferentes nomes. Em vez de nos unir na largada, vamos unir na chegada com o nome que tiver mais respaldo. A decisão será mais do eleitor do que dos partidos políticos”, disse ao Estadão Efraim Filho (PB), líder do DEM na Câmara. “Mandetta está indo bem nas pesquisas qualitativas. É um liberal democrata e da área da saúde”, afirmou o ex-ministro Mendonça Filho, que preside a fundação de estudos do DEM.

No ano passado, com Rodrigo Maia à frente da Câmara e Davi Alcolumbre (AP) do Senado, o DEM montou uma espécie de “consórcio” com PSDB e MDB para construir essa “terceira via” de centro. Mas a disputa pela sucessão na Câmara implodiu essas negociações. Candidato de Maia, Baleia Rossi (MDB) acabou derrotado por Arthur Lira (Progressistas-AL). O MDB abandonou esse plano logo após aquela eleição, e as tratativas com o PSDB azedaram de vez na semana passada, com a migração de Garcia para o ninho tucano. Além de ampliar a exposição de Mandetta, o DEM tem se dedicado também a fortalecer seus palanques regionais com candidatos próprios. Nessa linha, já convidou a se filiarem (por enquanto sem sucesso) o governador do Rio, Cláudio Castro (PSL), e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB).

Estadão