Empresário falido culpa falta de lockdown

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Foto: Gabriel Cabral/Folhapress

O empresário Tito Bessa Junior, dono da rede de moda TNG, que anunciou recuperação judicial neste sábado (22), diz que evitou até o último momento a decisão de entrar com o pedido. A notícia vinha circulando no mercado há semanas, mas o empresário se desviava do assunto. A companhia busca fôlego para arcar com um passivo calculado em cerca de R$ 250 milhões concentrado em shoppings e bancos.

“Nos preparamos para vários cenários. Esse era um deles. Os outros seriam continuar com as renegociações nas quais, infelizmente, não encontramos a receptividade que havia no passado de bancos, shoppings, entre outros. Nos fornecedores, apesar de o setor estar com crédito abalado, não tivemos dificuldade”, diz.

Ele afirma que 95% da reestruturação necessária já foi feita ao longo da pandemia, com fechamento de 70 lojas com resultados mais fracos e redução do quadro de funcionários de 1.300 pessoas para 570. A renegociação das dívidas vai aliviar a pressão, segundo ele.

Bessa Junior, que também é presidente da Ablos (associação de lojas menores de shoppings), evita fazer comentários sobre outras empresas e a chance de o exemplo da TNG ser repetido no setor.

Na opinião dele, o abre e fecha do comércio adotado ao longo da pandemia foi o principal vilão para o setor. “Se a gente tivesse feito o tão falado lockdown lá atrás durante um período menor, não teríamos sofrido tanto.”

O que o levou a buscar a recuperação judicial?
Foi a maneira que encontramos para fazer um recomeço do zero, para consertar o avião em pleno voo.

Muitas vezes se fala em recuperação judicial com um entendimento de que ela inviabiliza a empresa. Muito pelo contrário. Se bem feita, na hora certa, ela dá oportunidade de viabilizar o negócio. É o que estou fazendo. Na medida em que tiro a pressão enorme que tenho em razão do passado, das dívidas contraídas na pandemia, tenho uma empresa que se sustenta.

O setor está muito machucado. Tivemos despesas de 400 dias com receita de 200. Isso é impossível na estrutura que tínhamos.

Já se falava de uma possível recuperação judicial da TNG há semanas. Como aconteceu?
Nos preparamos para vários cenários. Esse era um deles. Os outros seriam continuar com as renegociações nas quais, infelizmente, não encontramos a receptividade que havia no passado de bancos, shoppings, entre outros. Nos fornecedores, apesar de o setor estar com crédito abalado, não tivemos dificuldade.

Qual o ônus da recuperação?
Não vejo ônus. Apesar de se lutar contra um processo desses, ele pode ter mais bônus do que ônus. Ele dá oportunidade de se recuperar, desde que se tenha uma empresa viável, que é o nosso caso. Atuamos no público das classes A, B e até no C. É uma elasticidade que pouquíssimas marcas no Brasil possuem.

As pessoas muitas vezes acham que não estamos cumprindo com as obrigações para aproveitar o momento [de pandemia]. Não é meu caso. Não estou cumprindo porque não pude.

O que terá de fazer na recuperação?
Tudo o que tinha de fechar fechamos. Claro que há alguns ajustes a serem feitos. Talvez um ou outro espaço precise ser reduzido. Mas, em termos de fechamento, 95% foi feito.

Antes da pandemia, éramos 1.300 funcionários. Estamos com 570. Fizemos boa lição de casa.

Fechei 70 lojas que não tinham poder de reação rápido em empreendimentos nos quais o fluxo se deteriorou de tal forma que a loja não pagava nem a conta de luz.

Outras lojas de shoppings devem seguir vocês?
É difícil de falar. Não gostaria de tecer comentário a este respeito. Não tenho conhecimento do dia a dia delas.

Prejudica a sua relação com os shoppings?
Tive ao longo de 37 anos uma relação muito cordial com os shoppings. Eu defendendo meus interesses, eles defendendo os deles. Se eu não tivesse um entendimento por parte deles de que seria um bom lojista, não estaria há tantos anos com eles.

Eles foram muito duros nas negociações?
No começo da pandemia, foram. Depois melhorou. Mas a tendência é que isso se acomode.

Haveria outra forma de ter lidado com a pandemia para evitar a situação em que vocês estão?
Talvez, se a gente tivesse feito o tão falado lockdown lá atrás durante um período menor, não teríamos sofrido tanto. O abre e fecha prejudicou a saúde e a economia.

O próprio comércio não era uma força contra o lockdown?
No começo, todos fizeram a pressão contra lockdown, pois não sabíamos o efeito de uma coisa dessas [do prolongamento da pandemia]. Mas, depois, ficamos com o fechamento parcial por muitos meses.

Folha