Itamaraty se isenta de tese bolsonarista sobre “guerra química”
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O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, encaminhou à CPI da Covid nesta quinta-feira (27) ofício no qual afirma que o Itamaraty não é a fonte de informação utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro para levantar a hipótese de estar em curso uma “guerra química”.
No último dia 5, em discurso durante cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que “ninguém sabe” a origem do vírus da Covid-19, mencionou a “guerra química” e fez uma referência indireta à China, principal fornecedor de insumos para vacinas produzidas no Brasil.
“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês”, declarou Bolsonaro na ocasião. A China foi o único país com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado.
Diante dessas declarações — e com base em um requerimento do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) — a comissão parlamentar de inquérito enviou ao Itamaraty e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) um pedido de explicações, perguntando aos dois órgaos se eram a fonte da suspeita levantada por Bolsonaro.
À comissão, o Ministério das Relações Exteriores encaminhou a seguinte resposta:
“Este ministério não produziu ou forneceu informação ‘sobre a possibilidade de estar em curso uma guerra não declarada, promovida por nação estrangeira, por meio de guerra química, bacteriológica e radiológica’.”
A resposta da Abin ainda não foi encaminhada à comissão ou não foi disponibilizada no sistema da comissão no portal do Senado.
Embora Bolsonaro não tenha mencionado explicitamente a China, parlamentares interpretaram a afirmação como mais um ataque do presidente ao país asiático.
A fala de Bolsonaro foi criticada por integrantes da CPI. Omar Aziz (PSD-AM), presidente do colegiado, por exemplo, afirmou que a declaração “piora” a obtenção, pelo Brasil, de insumos contra a doença, uma vez que grande parte da matéria-prima para produção de vacinas vem da China.
No requerimento, Tasso Jereissati escreveu: “Trata-se de uma afirmação de alta gravidade na medida em que o comandante supremo das Forças Armadas adverte para a possibilidade de estar em curso um conflito não declarado, promovido por nação estrangeira”.
Dois dias depois da declaração de Bolsonaro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se reuniu com o embaixador da China no Brasil. “Essas declarações do presidente não envolvem a China, e o presidente Bolsonaro tem atuado fortemente para incentivar a campanha de vacinação”, afirmou Queiroga
No pedido de informações encaminhado ao Itamaraty, Tasso Jereissati também quis saber em que estágio está se encontram as relações entre Brasil e China.
Na resposta, o ministro Carlos Alberto França diz que o país asiático é, desde 2009, “o maior parceiro comercial do Brasil e uma das principais fontes de investimentos estrangeiros no país”. O ministro também apresenta dados da balança comercial Brasil-China, que, em 2020, teve um saldo positivo de US$ 33 bilhões.
A pasta também sustenta que, após o início da pandemia da Covid-19, a cooperação para o enfrentamento da crise sanitária “passou a ocupar lugar de destaque na agenda bilateral”.
“Brasil e China dialogam e cooperam constantemente no enfrentamento da crise. A embaixada do Brasil em Pequim acompanha, em bases permanentes, os processos de autorização de exportação de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) e tem agido com rapidez necessária. Segundo dados oficiais chineses, o Brasil é o terceiro maior importador de vacinas e IFAs provenientes da China”, diz o documento encaminhado pelo Itamaraty à CPI.
Nesta quarta-feira (26), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a agentes de inteligência do país a produção, em até 90 dias, de um relatório sobre a origem do Sars-CoV-2, o novo coronavírus causador da Covid-19.
Agentes norte-americanos trabalham com duas hipóteses: a de o coronavírus ter escapado por acidente de um laboratório ou — a hipótese que era mais aceita — de a origem da pandemia ter sido o contato de humanos com animais selvagens.
Em março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) descartou a hipótese de que a pandemia tenha sido provocada por um acidente de laboratório.