Médicos e políticos criticam Copa América no Brasil

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Pesquisadores, políticos e médicos criticaram a realização da Copa América no Brasil. O país foi escolhido como sede após as desistências de Argentina e Colômbia.

O médico e cientista Miguel Nicolelis, referência mundial na neurociência, reclamou do torneio. Nicolelis acredita que a situação atual da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, impossibilita a realização do campeonato no Brasil.

“Alguém pode entrar com um mandado de segurança no STF [Supremo Tribunal Federal] para evitar a realização de mais uma afronta ao povo brasileiro? Copa América vai ocorrer no momento em que chegaremos a 500 mil mortos no país! Não precisamos de mais circo, precisamos de vacinas e governo”, escreveu em uma rede social.

Alguém pode entrar com um mandado de segurança no STF para evitar a realização de mais uma afronta ao povo brasileiro? Copa América vai ocorrer no momento em que chegaremos a 500 mil mortos no país! Não precisamos de mais circo, precisamos de vacinas e governo!

— Miguel Nicolelis (@MiguelNicolelis) May 31, 2021

A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), organizadora da disputa, consultou o governo federal para que o Brasil sedie o torneio. As partidas ocorrerão entre 13 de junho e 10 de julho.

“Colômbia e Argentina disseram não à Conmebol, mas, claro, o Brasil não poderia perder a oportunidade de sediar mais um evento futebolístico em meio a uma pandemia fora de controle. Será que as seleções serão vacinadas na frente de milhões de brasileiros que esperam sua vez na fila?”, prosseguiu Nicolelis.

A Conmebol negociou com o governo brasileiro a realização do campeonato. “O melhor futebol do mundo trará alegria e paixão a milhões de sul-americanos. A Conmebol agradece ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, bem como a Confederação Brasileira de Futebol, por abrir as portas daquele país ao que é hoje o evento esportivo mais seguro do mundo. A América do Sul vai brilhar no Brasil com todas as suas estrelas!”, diz postagem no Twitter da entidade.

Ao todo, o Brasil registrou 16,5 milhões de casos de Covid-19. Desde o início da pandemia, 462 mil pessoas morreram em decorrência da doença. O Ministério da Saúde aplicou 66,9 milhões de doses da vacina, entre primeira e segunda doses.

O ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) também criticou a realização do campeonato. “Copa América no Brasil? É sério isso? Depois da Colômbia e da Argentina se negarem a realizá-la, o Brasil oferece Rio, São Paulo e Manaus? Epicentros da maior tragédia da Covid-19?”, ponderou.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) classificou a realização como “irresponsável”. “Mesmo sem público, evento trará milhares de atletas e profissionais ao país em junho, num momento de absoluto descontrole da Covid”, criticou.

O deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ) afirmou que realizar o torneio no Brasil é naturalizar a situação da pandemia.

“Trazer a Copa América pro Brasil é mais um capítulo na tentativa de naturalizar o genocídio bolsonarista. Que nos inspiremos, mais uma vez, nos nossos irmãos colombianos e mostremos que não, não está tudo bem. Derrotar a política de morte é tarefa essencial e é pra já”, escreveu.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) ressaltou que o campeonato pode impulsionar os casos de Covid-19 em uma possível terceira onda da doença.

“Após a recusa de países vizinhos, Bolsonaro quer promover a Copa América no Brasil, justo quando caminhamos para uma terceira onda. Bolsonaro é ‘imbroxável’ na sua sabotagem à saúde dos brasileiros: foi sua negligência na vacinação que privou o povo do futebol”, frisou.

O professor de direito da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo Conrado Hubner ironizou a situação.

“Não responde e-mail da Pfizer, mas responde e-mail da Conmebol no mesmo minuto. Tudo por uma Copa América que reforce a terceira onda”, publicou no Twitter.

A vereadora Erika Hilton (PSol-SP) também reclamou. “O Brasil ainda não tem protocolo em aeroportos para receber viajantes com quarentena, testagem e rastreio de contato. Sediar a Copa América é promover a maior distribuição de cepas da Covid-19 em todo Brasil”, destacou.

Metrópoles