Mídia agora diz que Bolsonaro é o adversário ideal
Foto: Sérgio Lima/Poder360
A ordem é continuar batendo em Bolsonaro, mas não tanto assim. O que já era perceptível antes, cristalizou-se com a pesquisa Datafolha. Bolsonaro desce aceleradamente a ladeira política e é o melhor adversário para Lula em 2022. Na verdade, como já escrevi em colunas anteriores, Bolsonaro deve perder para qualquer adversário, dada a sua impressionante capacidade de jogar permanente e consistentemente contra o seu próprio patrimônio. De Lula, perde de lavada. Os petistas já perceberam isso e, embora esta não seja uma orientação formal, a ideia é fazer barulho mas não a ponto de inviabilizar o presidente. Em outras palavras, o impeachment agora trabalha contra os interesses petistas.
A pesquisa mostra também que Lula ganha com facilidade de João Doria e Ciro Gomes num eventual segundo turno entre eles. Mas da mesma forma que o centro e a centro-direita podem caminhar em direção a Lula num confronto dele com Bolsonaro, é possível imaginar que o quadro se repita em sentido contrário na ausência do capitão da cédula eleitoral. Sem a ameaça do retrocesso institucional que o presidente representa, é bem possível que ainda no primeiro turno estas forças se aglutinem em torno de um outro candidato. E este sim será capaz de derrotar Lula porque reunirá ao seu redor também os antipetistas que olham para o PT e só enxergam corrupção.
A hipótese da eleição de Lula passa necessariamente pela permanência de Bolsonaro no jogo. Fraco, abatido, enlameado, mas no jogo. Claro que a economia pode melhorar em 2022, com o presidente torrando dinheiro em benefícios assistenciais, mas dificilmente os brasileiros vão engolir o mal diabólico que ele causou ao país com sua sanha negacionista na crise do coronavírus. Os números não deixarão muita margem para dúvida. Pode-se facilmente imaginar desde já como serão a campanha eleitoral e os debates entre os candidatos com o cardápio Bolsonaro colocado à mesa. Sem falar nos escândalos de corrupção do seu governo e da sua família. O trunfo que detinha contra o PT há muito deixou de existir.
O PT quer agora o que Bolsonaro dizia querer no ano passado. O presidente chegou a afirmar que seria “mamão com açúcar” um embate dele com Lula. Agora, com a volta do petista ao campo, o discurso mudou. Primeiro, instrumentalizado, Arthur Lira instalou a comissão que vai debater a volta do voto impresso. Em seguida, o capitão disse que se perder para Lula só aceitará o resultado se o voto for auditável. São sinais de que o desespero tomou conta. Mas não passa de mais uma ameaça tola e inócua da lavra bolsonarista. O voto impresso não deve ser aprovado, e a urna eletrônica é perfeitamente auditável.
O fato é que o PT quer Bolsonaro no cargo até outubro do ano quem vem. Não vale dizer que já se viu este filme antes, apontando para a estratégia do PSDB durante o Mensalão de “deixar Lula sangrar” para derrotá-lo nas urnas dois anos depois. As circunstâncias eram inteiramente diferentes. Lula não era um tosco antidemocrático como o que se vê hoje instalado no terceiro andar do Palácio do Planalto. Tampouco atirava no próprio pé. A economia estava em modo “boom”, com expansão média de 4% ao ano. E, por fim, não havia uma pandemia com um presidente genocida no comando.
Sistematizando: 1) O governo Bolsonaro recebeu a primeira das cinco propostas da Pfizer de vacinas em agosto do ano passado. 2) O governo assinou contrato com a farmacêutica em março deste ano, sete meses depois. 3) A vacinação com a Pfizer, que poderia ter começado em dezembro de 2020, só teve início em abril. 4) De janeiro a março morreram 201 mil brasileiros. 5) O governo ignorou cinco propostas de negociação da farmacêutica americana. 6) Não fosse esta omissão, mais 4,5 milhões de doses já teriam sido aplicadas. 7) Para onde você acha que deveria ser mandada esta conta?
A euforia que tomou conta da Anvisa logo depois do depoimento categórico do almirante Antônio Barra Torres à CPI da Pandemia virou apreensão no dia seguinte. Boatos diziam que Bolsonaro queria que o presidente da agência pedisse imediatamente demissão. Como tem mandato, ele só sai se pedir para sair. A tempo, alguém no Palácio alertou para o risco que a retaliação geraria. Até o dia 26 de julho de 2022, Torres só deixa a Anvisa se quiser.
Vale a pena ler de novo. Flávio Bolsonaro está sendo investigado pela prática de rachadinha em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. Seu assessor, Fabrício Queiroz, acusado de operar o esquema, deu R$ 89 mil para a sua madrasta, a dona Michelle Bolsonaro. O zerinho comprou uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília, mesmo tendo um salário bruto de R$ 33.763,00. Ou R$ 24.478,17 depois de descontado o Imposto de Renda. Com dois filhos em idade escolar matriculados em escola particular, fica difícil sobrar erva para comprar uma casa daquelas.
Alertado pela pesquisa Datafolha que perde feio para Lula no Nordeste, Bolsonaro viajou para Alagoas e chamou para ciceroneá-lo o prefeito de Maceió, o famoso JHS, o presidente da Câmara, o ilibado Arthur Lira, e o ex-presidente de triste memória Fernando Collor de Mello. O presidente é mesmo um político de visão.
Alguém ainda se lembra da ameaça feita por Arthur Lira a Bolsonaro (“os remédios da democracia são amargos, alguns fatais”)? Pois era apenas fumaça. O presidente da Câmara foi chamado de “pai do voto impresso” pelo capitão no convescote de Alagoas. Na véspera, o deputado havia instalado a comissão que vai discutir a volta (ao passado remoto) do voto impresso.
A neta de Leonel Brizola, a deputada estadual Juliana Brizola (PDT-RS), foi atacada pelo ator José de Abreu ao anunciar seu apoio a Ciro Gomes, de resto candidato de seu partido para 2022. Abreu postou no Twitter o seguinte: “Gente, ela tem parente? Manda avisar que os remedinhos acabaram. Entrou em surto psicótico”. Juliana viu machismo na reação do petista que “desqualifica uma mulher que se posiciona, mesmo tendo mandato, chamando-a de louca”.
Os desvios do Mensalão do governo Lula chegaram a R$ 101 milhões, de acordo com contabilidade da Polícia Federal e de peritos do Tribunal de Contas da União. A operação, que consistia em comprar apoio político com dinheiro público, durou cerca de um ano. O Tratoraço de Bolsonaro, que tem a mesmíssima finalidade, irrigou o apoio político com R$ 3 bilhões. O senador Fernando Bezerra, da tropa de choque do governo na CPI da Covid, levou sozinho R$ 125 milhões, 25% a mais do que o Mensalão inteiro. Além de ser 30 vezes maior do que o cala-boca petista, o caraminguá bolsonarista foi despejado em parcela única. O Mensalão foi o grande escândalo da gestão de Lula. O Tratoraço é mais um dos diversos crimes cometidos pelo governo Bolsonaro.
Com todo o respeito que o Supremo merece do Brasil e dos brasileiros, não estou aqui para defender ministro do tribunal. Mas, falando sério, você compraria um carro usado do Sérgio Cabral? A delação do ex-governador contra o ministro Dias Toffoli é descaradamente vazia. Trata-se de um ouvir dizer. E a pessoa de quem ele ouviu dizer nega ter dito. Não que Toffoli seja um santo, mas todo mundo sabe onde mora o capeta.
Se restava alguma dúvida, ela não existe mais. O presidente do Flamengo é um bolsonarista. Ou não consegue enxergar um palmo adiante do nariz. Aceitar, ou ir buscar patrocínio da Havan mostra como Landin mergulhou fundo nesse poço escuro e mal cheiroso que empesteia todo o país. Antes de sujar a camisa do time, Landim já havia protagonizado bolsonarismos explícitos. O primeiro foi visitar o presidente no Planalto. Depois, tentou fazer o campeonato brasileiro do ano passado com público presencial. Mais adiante fez com que os jogadores recebessem o exterminador de futuro em um treino em Brasília. E agora, além do patrocínio burro, tentou, em conluio com o apoio da Federação de Futebol do Rio, abrir as finais do Carioca para a torcida. Vergonha.
Entre os 28 mortos pela polícia no Jacarezinho, estão Caio da Silva Figueiredo, 16 anos, Raí Barreiro de Araújo, 18 anos, e Jonathan Araújo da Silva, 19 anos. Se a operação era para impedir o aliciamento de menores e adolescentes, por que matar quem se queria proteger? Ah, sim, esta motivação inicial foi depois malandramente retirada do documento que disparou a operação.
O funcionário público José Henrique Nazareth, o Very Well, morreu na quinta-feira. Uma das melhores almas que já circularam pelo Palácio do Planalto, Very Well serviu a 12 presidentes, mas teve sorte por se aposentar antes da chegada de Bolsonaro. Aos 86 anos, teve um infarto e não resistiu a uma intervenção cirúrgica.