Pazuello e Capitã Cloroquina complicaram Bolsonaro mais do que parece
Foto: Evaristo Sá/AFP
A médica e secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério, Mayra Isabel Correia Pinheiro, mais conhecida como ‘Capitã Cloroquina’, conseguiu se sair bem na primeira parte do depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta segunda-feira (25/5), no Senado. Porém, apertada por senadores, acabou por apresentar um festival de contradições.
Ao menos é o que avaliam analistas e cientistas políticos ouvidos pelo Correio. Mais que isso, as inconsistências dos depoimentos da médica e do ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, principalmente, influenciaram na agenda administrativa da CPI, que se reúne na próxima quarta-feira (26) para votar requerimentos, a dar um rumo mais produtivo aos trabalhos.
Na visão do o analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis, há uma preocupação até com a imagem do colegiado. “Esse clima de embromação cria um desencanto na população em relação à eficácia da CPI. Mayra seguiu a linha de depoimento de Pazuello, mas não tanto. Como tem consistência médica, conseguia argumentar. Tem uma qualidade que é a capacidade de não se emocionar como Pazuello, exceto quando a chamavam de mentirosa. Mas é uma personagem secundária com revelações pouco producentes. O conjunto da obra é para despistar”, refletiu.
Para Melillo, a percepção de senadores é a de que o governo tenta enrolá-los. “Essa postura (do governo) gerou os requerimentos que serão apreciados amanhã. Foi feito desde a semana passada e consolidado ontem (segunda), ponderando o que se tem de informação, os nove depoimentos até agora, uma comparação do que é mentira, contradição ou desorganização”, elencou.
O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, chamou o depoimento de Mayra de “festival de contradições”. “Na minha avaliação, ela começa bem, segura, dados técnicos, mas o relator (Renan Calheiros) soube explorar as contradições”, avaliou.
Mayra acabou caindo em contradição com Pazuello no caso da data em que o ex-ministro soube da crise de oxigênio em Manaus, também desmentiu o militar no caso do falso ataque hacker ao aplicativo TrateCov, que recomendava cloroquina até para bebês, e também foi enfraquecida pela exibição de falas e vídeos onde defende o isolamento vertical, em que só idosos ficariam em casa, medida considerada ineficiente para o combate à covid-19, e também a fala conspiracionista em acusa a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) de ter um “pênis” na porta (trata-se da logomarca da fundação).
Para o especialista, a série de escorregões esvaziou a defesa de Mayra. “Poderia ter sido pior. Ela poderia ter sido presa. Mas não foi bom”, disse. O cientista político Leandro Gabiati, por sua vez, avaliou que, após o depoimento da médica, é pouco provável que Pazuello não retorne ao colegiado.
“Pazuello certamente será convocado. Houve uma série de contradições, apesar de um depoimento que a gente pode avaliar como positivo. A partir de provas que os auxiliares e auditores do TCU estão procurando, novas provas que os parlamentares vão ter nos próximos dias, novas informações, a convocação de Pazuello é até previsível. Tem que ver se ele conseguirá novamente um habeas corpus para se preservar e não se autoincriminar”, lembrou.