Pazuello usa farda invisível na CPI
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado/Reprodução
O general Eduardo Pazuello apareceu de terno e gravata na CPI da Covid, mas falou como se estivesse fardado.
Logo nas primeiras frases, fez questão de deixar claro que:
– estava muito feliz no comando da 12º Região Militar do Amazonas quando foi convidado a integrar o Ministério da Saúde.
– não queria deixar o posto e concordou em fazê-lo apenas quando recebeu “um telefonema direto do Supremo Comandante das Forças Armadas, nosso presidente Jair Bolsonaro”. No telefonema, o presidente determinou-lhe “com muita firmeza” que assumisse o cargo de número 2 do então ministro da Saúde Nelson Teich.
De cara, portanto, Pazuello apresentou-se como um militar que, convocado pelo chefe para transferir-se de posto, não teve escolha.
“Peguei meus uniformes e vim cumprir A MISSÃO”, disse ele.
A palavra “missão” foi repetida diversas vezes pelo general, que também lembrou ter “a segunda mais alta patente” do Exército e recheou seu discurso de referências patrióticas, como quando citou um trecho do Hino Nacional (“um filho teu não foge à luta”) para dizer por que aceitou “a missão de enfrentar a pandemia” e “salvar vidas dos nossos irmãos brasileiros”.
Pazuello sabe que são mínimas as chances de ele conseguir ser julgado pela Justiça Militar.
Embora ultimamente as decisões judiciais no Brasil estejam cada vez menos referenciadas na ordem jurídica, tecnicamente, um eventual processo contra ele —por improbidade administrativa ou outro crime comum—deverá ser julgado pela Justiça Federal de Brasília.
O artigo 9º do Código Penal Militar não considera crimes militares aqueles cometidos, ou presumivelmente cometidos, por oficiais “agregados”, ou temporariamente afastado das atividades da Força, como é o caso de Pazuello.
Ao apresentar-se como um militar diante dos parlamentares, portanto, o general pretende menos aumentar suas chances de ser julgado por seus pares do que “amarrar” sua imagem à do Exército, de forma a desencorajar “avanços” de parlamentares, cujos ataques poderiam ser lidos como agressões ao Exército.
Mas, ao vestir sua “farda invisível”, Pazuello intenciona sobretudo preparar-se para a possibilidade de o governo jogá-lo aos leões.
Ele é um militar e militares obedecem a comandos.
Na frase famosa, que disse quando o presidente o impediu de comprar a CoronaVac oferecida pelo adversário João Doria, Pazuello era o que obedecia.
Quem mandava era Bolsonaro.