Presidente do PDT diverge de ataques de Ciro a Lula
Foto: Reprodução/ Correio Braziliense
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, diverge da estratégia adotada pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT) na disputa pela Presidência da República, e avalia que o “inimigo número um” do partido deve ser o presidente Jair Bolsonaro e não o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista publicada ontem pelo Valor, Ciro atacou o ex-presidente petista e tentou se mostrar como o candidato anti-Lula em 2022. Pré-candidato à Presidência, Ciro chamou Lula de “o maior corruptor da história do Brasil” e disse que “vai para cima” do petista.
Lupi, no entanto, afirma que a disputa eleitoral deve ser feita primeiro contra Bolsonaro.
“Continuo achando que o cenário da disputa presidencial será entre Ciro e Lula no segundo turno. Mas, antes, temos que vencer o inimigo da nação, que é o presidente Bolsonaro”, diz Lupi, citando a falta de ações do governo federal contra a pandemia, que já matou mais de 436 mil pessoas no país. “Temos que colocar Bolsonaro como o inimigo da nação. O modelo econômico do governo é fracassado”, reforça o dirigente do PDT.
Ao comentar as críticas de Ciro a Lula, Lupi diz que o pré-candidato do PDT à Presidência tenta se posicionar com vistas a um segundo turno contra o petista, mas reforça que a estratégia neste momento deve ser outra. “Ainda não derrotamos Bolsonaro”, afirma.
Para Lupi, as diferenças em relação ao PT devem ser mostradas “de forma pontual”, com foco no projeto econômico para o país. “São diferenças no substantivo. O PT e Lula acentuaram a concentração de renda, apostaram no rentismo. Eles têm um projeto de poder e nós, temos um projeto de nação. Pode até fazer crítica agora, mas deve ser pontual”, afirma o dirigente do PDT.
Ao falar sobre as orientações dadas por João Santana, recém-contratado pelo PDT para cuidar do marketing do partido e da pré-campanha de Ciro, Lupi diz que o marqueteiro também recomendou que o foco das críticas seja Bolsonaro. “Mas ele orientou que Ciro marque diferenças agora em relação ao PT”, afirma..
No comando nacional do PT, o discurso anti-Lula gerou um mal-estar. Secretário-geral do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) avalia a estratégia de Ciro como “errática” e diz que o ex-ministro de Lula se aproxima dos bolsonaristas.
“Estamos diante de um governo que está destruindo o país. Pesquisas mostram que 70% da população está contra Bolsonaro e o foco do Ciro é Lula? É um erro no foco”, diz Teixeira. “Ciro perdeu a oportunidade de fazer papel de oposição e se descolou da realidade ao partir para os ataques contra Lula.”
O dirigente do PT afirma ainda que ficou surpreso com o tom de Ciro neste momento. “É uma fala leviana. Não esperava isso dele. É um discurso agressivo, desleal e leviano”, afirma o parlamentar, lembrando da recente anulação das condenações de Lula na Lava-Jato pelo Supremo Tribunal Federal. “Ciro e Bolsonaro estão juntos nesse discurso anti-Lula. Me parece que ele vai ficar na companhia de bolsonaristas como Carla Zambelli, Bia Kicis, Eder Mauro”, diz, ao citar deputados aliados do presidente. “É isso o que Ciro quer?”
O ex-presidente Lula foi procurado pela reportagem, mas não quis fazer comentários.