Queda de Bolsonaro ocorreu em setores que o apoiavam

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Foto: Adriano Machado/Reuters

Depois de mais de 425 mil mortes por Covid-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vê sua popularidade cair para o pior patamar já registrado desde sua posse em janeiro de 2019.

O quadro negativo supera o desgaste já detectado há dois meses, em pesquisa Datafolha feita em março, antes do recorde diário de óbitos no país, alcançado em abril.

Se no momento mais crítico da pandemia no ano passado, o auxílio emergencial garantiu fôlego ao governo, o colapso da saúde que o país conheceu agora na segunda onda da doença, o ritmo lento da vacinação, somados aos limites atuais do benefício, mais tímido tanto em valor quanto em cobertura, produziram abalo importante na imagem do presidente –em 2021, a queda na taxa de aprovação totaliza 13 pontos percentuais enquanto a reprovação cresceu na mesma proporção.

O desprestígio aumenta até mesmo em segmentos que historicamente o apoiam. Entre os homens, de dezembro do ano passado até aqui, o percentual dos que classificam Bolsonaro como ótimo ou bom regrediu 13 pontos enquanto a taxa dos que o consideram ruim ou péssimo subiu 13 no mesmo espaço de tempo.

Entre os habitantes da região Sul, um dos estratos mais fiéis ao presidente, a queda na avaliação positiva é de 10 pontos em cinco meses, enquanto a negativa subiu na mesma escala.

Na outra ponta, a vulnerabilidade social gerada pelo pico da crise sanitária do último mês catalisou o refluxo da opinião pública especialmente nos conjuntos da população que haviam sido contemplados pelo auxílio emergencial e que por isso, no segundo semestre de 2020, completavam a base de apoio de Bolsonaro.

Apenas metade dos que receberam o benefício no ano passado, declara ter sido contemplado novamente este ano e mesmo assim para a grande maioria o valor é insuficiente, trazendo dificuldades. Há percepção majoritária sobre o crescimento da insegurança alimentar e da fome no país.

Entre os que receberam o benefício no ano passado, a popularidade do presidente caiu de 39% em dezembro para 25% agora. Entre as mulheres que possuem renda de até três salários mínimos, segmento historicamente refratário ao presidente mas onde o auxílio lhe rendeu frutos no segundo semestre de 2020, a queda foi de 11 pontos percentuais no mesmo espaço de tempo.

Aprovação a Bolsonaro recua seis pontos e chega a 24%, a pior marca do mandato

Um dado que ilustra bem o quanto o benefício teve de impacto sobre a renda dos brasileiros é a evolução da taxa dos que recebem até dois salários mínimos de renda familiar ao longo da pandemia.

No auge da quarentena em abril de 2020, o índice alcançou 61%. Com o pagamento do benefício no ano passado, regrediu a 49% e agora volta a subir para 57%.

A composição desse mosaico —um emaranhado de percepções sobre a insensibilidade do governo diante das mortes, crescente exclusão social, inseguranças econômica e alimentar— cria o cenário ideal para recall de um nome geralmente associado nas pesquisas a causas sociais, o do ex-presidente Lula (PT).

O petista mantém seu capital de votos e fica com percentual próximo ao de quando, mesmo preso, em agosto de 2018, liderava a disputa daquele ano com 39% das intenções de voto contra 19% de Bolsonaro.

Não à toa, Lula alcança larga vantagem sobre o presidente tanto nas intenções de voto para primeiro quanto segundo turno nos segmentos de menor renda e escolaridade.

A distância do ex-ocupante do cargo para o atual chega a superar 30 pontos percentuais entre os moradores do Nordeste, por exemplo.

Entre as mulheres de menor renda, na simulação de segundo turno, o ex-presidente bate o atual por 59% a 27%. Entre os trabalhadores informais de renda baixa, Lula vai a 60% e entre os que receberam o auxílio emergencial no ano passado também lidera com mais de 30 pontos de vantagem.

O único segmento que tende a Bolsonaro é o de homens com renda familiar superior a 3 salários mínimos, mesmo assim a diferença de cinco pontos a favor do atual presidente fica dentro da margem de erro.

Entre evangélicos, grupo que majoritariamente o apoia desde sua eleição em 2018, verifica-se um empate técnico em eventual confronto entre os dois candidatos.

As recentes decisões do STF que devolveram os direitos políticos ao ex-presidente Lula chegam à opinião pública em momento agudo de crise social e garantem legitimidade ao pragmatismo eleitoral da população.

Como mostram pesquisas anteriores do Datafolha, diante do quadro de desalento, na esperança de soluções práticas e urgentes, o brasileiro tolera mais as suspeitas sobre a conduta de políticos experientes já testados do que os abusos e a parcialidade da justiça para investigá-los.

Prova disso é o fraco desempenho não só de Sergio Moro como de outros “antipolíticos” nas intenções de voto. Por enquanto, o processo eleitoral de 2022 se desenha como a antítese do de 2018.

Folha 

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