Senador bolsonarista diz que “sociedade” não crê na CPI

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Foto: Edilson Rodrigues

Ele diz ser independente, mas é visto como um dos integrantes da tropa de choque do governo na CPI da Covid. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) tem defendido as demandas do Executivo na comissão, lançando muito mais elogios do que críticas ao Planalto e cobrando, massivamente, sempre que tem alguns minutos de fala, que o colegiado investigue estados e municípios, com o intuito de tirar o foco do governo federal.

Em entrevista ao Correio, Girão afirmou que a CPI já começou de forma errada e critica o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), a quem acusa da parcialidade e de conflito de interesses. Veja os principais trechos da entrevista com o senador:

“Tudo isso a gente vai precisar receber alguns documentos para ver, mas o mais importante é que ele não se negou absolutamente a falar. Falou tudo, mesmo com habeas corpus. Apenas quis se proteger da tremenda agressividade que o relator tem demonstrado nas últimas sessões. Ameaça prender, induz resposta, intimida as pessoas. Para mim, o relatório já está pronto, né?”

“Está claro, porque é um palanque político que nós estamos vendo aqui no Brasil, infelizmente, em cima de tantas mortes, tantas pessoas sofrendo. Saúde pública, desemprego, fome, e a gente não está olhando para estados e municípios, não está olhando para a Polícia Federal, que eu queria trazer (à CPI), porque a população está querendo o equilíbrio, né? É uma CPI parcial. Infelizmente.”

“Contradição por causa de três dias? Observe bem o que ele disse. A partir do momento que ele chegou e disse que identificou (o problema relativo ao oxigênio), começou a tomar as medidas. É disso que eu vou precisar de documentos. Por exemplo, a Venezuela ajudou, não foi? E os Estados Unidos, como foi essa história dos Estados Unidos? (avião oferecido pelos EUA ao Brasil para transportar oxigênio) Ele diz uma coisa, os senadores dizem outra. A gente precisa comparar com documentação.”

“Como era o comandante do Ministério da Saúde, eu vejo que, de alguma forma, ele agiu. Em 1º de maio, quando teve o calote do Consórcio Nordeste, o que aconteceu? Eu fui correndo lá no Ministério da Saúde, o ministro era o (Nelson) Teich, e ele (Pazuello) era o secretário-executivo. Ele estava coordenando essa logística. Cheguei lá, pedi: ‘Pelo amor de Deus, aconteceu agora um calote no Ceará.’ Só para o Ceará, se não me engano, eram 40 respiradores. ‘O senhor consegue isso? Nos ajude, porque o povo está precisando’. Imediatamente, ele não perguntou qual era a ideologia nem tem que perguntar isso, e disse: ‘Vou ligar agora aqui para resolver’. Pegou o telefone, já ligou para o secretário de Saúde lá e disse: ‘Estão mandando os respiradores’. Fiquei acompanhando aqui, do dia 1º ao dia 3, até que enviasse esses respiradores. Então, foi rápida a resposta que ele deu para Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte. Eu vejo que ele (Pazuello) tinha autonomia. Blindagem é uma coisa muito forte. Mas o que eu vejo de blindagem é para governadores e prefeitos.

“Aí tem de perguntar à base. Eu sou independente, não participo de nenhuma reunião governista nem me convidam, porque sabem que eu não sou. Eu não faço o jogo deles.”

“O requerimento é meu. É uma convicção minha, porque eu sou testemunha de que dinheiro não faltou. Todo dinheiro que era pedido aos estados e municípios ia (do governo federal para os outros entes federativos).”

“Isso é que a gente vai descobrir na CPI. Eu pedi as aglomerações do presidente da República. O requerimento é meu dessas saidinhas dele, aqui, sem máscara, causando aglomeração. O presidente até ficou chateado com isso. O problema é dele. Eu não faço o jogo de ninguém.”

“Acho que a sociedade não está levando esta CPI a sério. Viu que é um palanque político, ela percebe claramente os interesses disso, o relator que tem um filho que é governador (Renan Filho, gestor de Alagoas). Eu não vou nem falar das outras coisas. Mas ali há um conflito de interesse direto. Então, isso é uma coisa que vai perseguir essa CPI, esse flagrante conflito de interesse, que fica cada dia mais parcial. Você vê a maneira como já tem um culpado e inocente para ele (relator). Ele já deu entrevistas antes de começar a CPI dizendo que esse é um governo genocida. Eu tentei evitar (a indicação do relator). (A CPI) Já começou errada.”

“Não digo que vai acabar em pizza, porque ele (Renan Calheiros) já tem, na minha concepção, ele já tem um relatório desde o início. Está encaminhado.”

“Eu vejo isso claramente. Para mim, virou algo pessoal. Ele já tem um problema pessoal com o presidente da República. Era político e, hoje, é pessoal. Você vê como está a animosidade dele com os filhos (de Bolsonaro), com o Flávio. Os dois lados estão errados. O presidente (Bolsonaro), o Flávio e o Renan. Virou pessoal.”

Correio Braziliense