UPAS estão substituindo UTIs na pandemia
Foto: Reprodução/TV Globo
As estratégias de emergência e preparação implementadas para combater a pandemia da Covid-19 no Brasil desde o seu início têm priorizado as respostas hospitalares, com o intuito de assistir às formas graves das doenças. Embora as abordagens comunitárias fossem mais apropriadas para conter o avanço do contágio, como foi observado em epidemias anteriores, essa não foi a estratégia usada.
Mesmo com a Atenção Primária à Saúde (APS) como porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil não usou a estrutura capilarizada desse nível de atenção para enfrentar a pandemia. Assim, apesar das evidências da potencialidade da APS nesse contexto, os esforços foram priorizados nas estratégias de atendimento hospitalar.
Mas, o que isso significa? Para quebrar as cadeias de transmissão do coronavírus é fundamental informar a população, realizar o diagnóstico por meio de testagem e fazer isolamento e rastreamento de contatos de casos positivos. Essas ações são tão cruciais quanto as políticas sociais e econômicas para apoiar a mudança de comportamento das pessoas e manter o isolamento social pelo tempo que for necessário.
Optar por não adotar essas medidas e, ao invés disso, investir no tratamento das formas graves da doença por meio da ampliação de leitos impõe aos governos a adoção de medidas que possuem um teto para a sua implementação –limitações orçamentárias, de insumos disponíveis, de recursos humanos disponíveis etc.
Em momentos de aumento do número de novos casos a capacidade de ampliação no número de leitos nos hospitais, principalmente leitos de UTI, não avança na mesma intensidade do número de novos casos graves da doença. É nesse contexto que as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) terminam sendo mobilizadas para atender a uma demanda que não consegue ser respondida pelos hospitais.
Conforme prevê a resolução 2.079/2014 do CFM, as UPAs não devem manter o doente por mais de 24 horas no local. Embora tenham estrutura para dar o primeiro atendimento e estabilizar doentes graves, depois desse período o paciente deve ser encaminhado a um hospital de referência, se for necessário continuar em tratamento. Além disso, a resolução proíbe que pacientes intubados permaneçam em UPAs. Nessa circunstância, é necessária a imediata transferência do paciente a um serviço hospitalar.
No contexto da pandemia da Covid-19, as UPAs vêm extrapolando as suas funções. Frente a lotação de leitos nos hospitais, as UPAs passam a internar pacientes por dias, inclusive pacientes intubados. Durante a espera por leitos em hospitais, esses pacientes permanecem nas UPAs sem receber a assistência médica devida. Sem suporte ventilatório adequado e assistência devida dos profissionais de saúde, milhares de pessoas morreram de Covid-19 em UPAs de todo o país desde o início da pandemia.
As emergências de saúde pública são um teste de resiliência para os sistemas de saúde. Na Covid-19, mesmo sistemas de saúde com bons recursos entraram em colapso devido ao rápido crescimento de hospitalizações para tratamento de pacientes graves. Por outro lado, países onde os governos combinaram intervenções de saúde pública com políticas públicas de distanciamento e proteção social tiveram melhores resultados na mitigação do impacto da pandemia.
No Brasil, uma vez mais, se exacerba a pandemia. Nesse contexto, o agravamento eminente da pandemia, com a consequente alta de internações pela Covid-19, pressionarão o sistema de saúde e, possivelmente, levará pacientes a serem atendidos de forma prolongada nas UPAs de todo o Brasil.