A única vacina que Bolsonaro tinha pressa de comprar
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O governo Bolsonaro, que nunca teve pressa para comprar vacina contra a Covid, correu para marcar, em um intervalo de poucas horas, a reunião com os representantes da suposta oferta de 400 milhões de doses da Astrazeneca, feita pela Davati Medical Supply.
Segundo o representante da Davati no Brasil, Luiz Paulo Dominguetti, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias Ferreira, pediu propina de US$ 1 por dose para que o negócio fosse para a frente.
Dias Ferreira chegou ao Ministério da Saúde por intermédio do líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), que, entretanto, nega a indicação.
A proposta da Davati chegou ao ministério no dia 26 de fevereiro, um dia após o jantar num shopping em Brasília em que, segundo Dominguetti relatou ao jornal “Folha de S.Paulo”, o ex-diretor de logística fez o pedido de propina.
O Ministério da Saúde – que então era comandado pelo mesmo Eduardo Pazuello que chegou a questionar a ansiedade do brasileiro pelas vacinas – respondeu no mesmo 26 de fevereiro, mais precisamente às 10h37, e pediu uma reunião com os representantes da Davati para dali a 4 horas e meia, às 15h.
Na mensagem, obtida pelo blog, o Departamento de Logística do Ministério da Saúde diz que a pasta “manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos”.
Nesta quarta-feira, a CPI da Covid deve votar a convocação de Dominguetti, o representante da Davati. E deve também votar a convocação de Ricardo Barros, o líder do governo, que já estava na mira da comissão por conta de suspeitas de irregularidades na negociação de outra vacina – a Covaxin.
Na semana passada, em depoimento à comissão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, disseram ter relatado a Bolsonaro em um encontro pessoal as suspeitas de irregularidades envolvendo as negociações.
Ainda no depoimento, Luis Miranda disse que, ao ouvir o relato, Bolsonaro citou o nome de Ricardo Barros.
O líder do governo nega irregularidades.
A proposta da Davati, a que o blog também teve acesso, é assinada por Herman Cárdenas, e tem como destinatários o Ministério da Saúde e o ex-diretor de logística Roberto Dias Ferreira. Luiz Paulo Dominguetti Pereira é citado como o intermediário da negociação.
A empresa, que tem sede no Texas, se define como uma distribuidora de produtos farmacêuticos e de proteção individual.
Na proposta, a empresa oferece ao Ministério da Saúde 400 milhões de doses da vacina da Astrazeneca por US$ 3,50 por dose, num custo total US$ 1,4 bilhão. Segundo o documento, as vacinas seriam fabricadas em “vários países” e seriam enviadas diretamente da Astrazeneca para o comprador.
A Astrazeneca, entretanto, diz que não tem intermediários no Brasil. Em nota, a farmacêutica diz que todas as doses de vacina do laboratório estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais, como o consórcio internacional Covax Facility. A empresa acrescentou que não disponibiliza vacinas para o mercado privado nem para prefeituras e governos estaduais.
À TV Globo, a Davati, com sede nos Estados Unidos, informou ter sido procurada por um de seus representantes no Brasil para que ajudasse a encontrar vacinas contra a Covid para o país. Ainda na nota, a empresa afirmou que providenciou uma proposta ao governo federal a fim de assegurar vacinas, mas que nunca foi formalmente respondida. “Portanto, a apresentação entre o governo e o vendedor nunca foi feita, e a discussão nunca avançou para um contrato”, acrescentou.
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