Alta nos aluguéis obriga inquilinos a se mudarem às pressas
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Quando decidiu alugar um apartamento com o namorado na cidade de Osasco (SP), em dezembro de 2019, o analista de PLD (Prevenção à Lavagem de Dinheiro) Gustavo Carvalho, 25, planejava ter liberdade. E eles conseguiram, por cerca de um ano, até que se viram forçados a buscar um novo lar em 2021. O motivo foi a disparada do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) e a impossibilidade de negociação com a imobiliária.
Apesar de ter desacelerado na segunda prévia de junho deste ano, o indicador, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acumula alta de 36,65% em 12 meses.
Quando a atualização dos valores foi anunciada ao casal em dezembro do ano passado, o índice, comumente utilizado para reajustar os aluguéis no país, tinha alta acumulada de 23,14% em 12 meses. Essa variação elevou a locação em mais de R$ 250.
“Os nossos salários não são reajustados dessa forma. Era o nosso primeiro apartamento, que ficava bem próximo de uma estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que é necessária tanto para irmos para a faculdade quanto para o trabalho”, diz Carvalho.
Com a impossibilidade de fechar um acordo, o analista conta que precisou arranjar tempo com o parceiro, Gabriel Santos, 21, em meio à rotina de estudo e trabalho para encontrar um novo apartamento.
A mudança para a casa nova aconteceu em janeiro deste ano, mas ele lamenta ter deixado para trás não só o vínculo com o “primeiro apê”, como também o investimento financeiro para deixar o espaço com as cores e a “cara” do casal.
“Colocamos chuveiros novos, pintamos a sala e decoramos. Tivemos que trocar também o encanamento da cozinha e do banheiro. Ou seja, fizemos tudo isso para no final ter que ir embora e deixar tudo lá do jeito que estava”, diz Carvalho.
Insistência pelo IGP-M inviabiliza negociações
A Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo) estima que os reajustes dos contratos dos aluguéis, em 2021, estão variando entre 6% e 10%, conforme levantamento mais recente, de março deste ano.
Devido à forte alta do IGP-M, alguns contratos passaram a ser corrigidos de acordo com outros indicadores, como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
Em maio, o índice acelerou a 0,83%, a maior taxa para o mês desde 1996. Com isso, o IPCA acumula alta de 3,22% em 2021 e 8,06% no período de um ano.
O analista de infraestrutura Jonatas Rodrigues, 33, conta que o do apartamento onde mora em Osasco foi atualizado em junho em 32%.
“Acionei a imobiliária, pois esse aumento é exorbitante. Não obtive nem 4% de aumento salarial e meu aluguel aumentar este valor é totalmente inviável”, diz Rodrigues.
O analista afirma que tentou negociar o aumento com a imobiliária, sugerindo o IPCA como parâmetro de correção, mas que só conseguiu uma “bonificação”, de modo que o aumento ficou em torno de 10% do valor do aluguel.
“Ainda não fiquei contente e reclamei que esse aumento ainda era muito alto, porém o proprietário não aceitou outra contraproposta e tive que aceitar esse valor”, declara Rodrigues, que está buscando outro apartamento na mesma região onde mora.
Mas chegar a um consenso ainda não é um caminho possível para muitos inquilinos. A coordenadora educacional e DJ Roberta Buongermino, 37, pretende se mudar do apartamento onde mora desde dezembro de 2019, na capital paulista, após uma elevação de mais de R$ 700 no valor do aluguel.
Além da perda de uma das fontes de renda na pandemia, devido à paralisação de eventos, ela diz que todos os custos do lar ficaram por sua conta depois que se separou no ano passado.
“Essa situação tem sido muito traumática porque eu passei por outros problemas pessoais. Houve um pouco de falta de humanidade e respeito porque estamos falando de um momento muito específico da história, em que o mundo está passando por uma pandemia”, diz Buongermino.
Durante seis meses, a DJ afirma que conseguiu pagar metade do aumento pedido, mas que a partir deste mês o proprietário do imóvel está cobrando o valor integral.
A solução encontrada por ela foi buscar outro apartamento, enquanto também negocia sua saída do lugar sem a cobrança de uma multa.
“Quando falo de lar, não é só um apartamento, é a minha casa. Eu a pintei toda, instalei coisas, fiz uma parede verde na minha sala, coloquei prateleira industrial. Ou seja, fiz um investimento considerando que ia morar por muito tempo e nunca imaginei que o aluguel ia subir dessa maneira”, diz Buongermino.