Bolsonaro diz que STF quer eleger Lula presidente

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Foto: © Getty Images

O presidente Jair Bolsonaro disse em sua live semanal desta quinta-feira (17) que, sem a adoção do voto impresso nas eleições do ano que vem, o Brasil poderá ter “um problema seríssimo”, uma “convulsão”.

Defensor de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que tramita na Câmara, Bolsonaro fez ataques ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, crítico da adoção desse sistema de votação.

“Se promulgar, teremos eleições, sim, com voto auditável e ponto final. O respeito total ao Parlamento brasileiro. Um quórum qualificado apresenta uma emenda e vai um ministro, no caso, ele que faz carga o tempo todo contra isso, o Barroso exclusivamente, ministro Barroso, uma canetada dele [e] não vai ter eleição com voto auditável? Vai ter sim, Barroso. Vai ter, sim”, disse o presidente.

“Vamos respeitar o Parlamento brasileiro. Que, caso contrário, teremos dúvidas [nas] eleições e podemos ter um problema seríssimo no Brasil. Pode um lado ou outro não aceitar, criar uma convulsão no Brasil”, disse.

Em janeiro, no dia seguinte à invasão do Congresso americano, Bolsonaro disse que a falta de confiança nas eleições levou “a este problema que está acontecendo lá” e que, no Brasil, “se tivermos voto eletrônico” em 2022, “vai ser a mesma coisa” ou “vamos ter problema pior que nos Estados Unidos”.

Agora, o presidente da República insinuou que o objetivo de Barroso era garantir a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.

“Ou a preocupação dele é outra? É voltar aquele cidadão, o presidiário, para comandar o Brasil”, afirmou.

Pouco mais adiante na transmissão desta quinta, a tese de Bolsonaro atinge o STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente faz insinuações sobre a retomada dos direitos políticos de Lula.

“Olha só, pessoal, vê se eu tenho direito de ter credibilidade neste raciocínio. Se tira o presidiário da cadeia, ato contínuo tornam elegível. Para não ser presidente?”

Depois, as críticas do mandatário voltam a ser direcionadas a Barroso, a quem acusa de ser “um péssimo exemplo para todos nós” e de que “não tem zelo pela família tradicional”.

Mais uma vez sem provas, Bolsonaro disse ter convicção de que houve fraude nas eleições de 2014, vencida por Dilma Rousseff (PT) sobre Aécio Neves (PSDB), e de 2018, quando o próprio Bolsonaro derrotou Fernando Haddad (PT) no segundo turno.

“Mais que desconfio, eu tenho convicção [de] que realmente tem fraude. As informações que nós tivemos aqui —talvez a gente venha a disponibilizar um dia— é que, em 2014, o Aécio ganhou as eleições, em 2018, eu ganhei em primeiro turno”, afirmou, como faz desde 2020, sem nunca ter apresentado qualquer indício.

Durante pouco mais de 56 minutos de live, Bolsonaro disse que ainda não fechou sua filiação com um novo partido —está de malas prontas para o Patriota, que já recebeu o senador Flávio Bolsonaro (RJ), seu filho.

O presidente descartou retornar ao PSL, mas disse que não fará campanha contra a sigla, que deve continuar abrigando parte de seus aliados que não querem abrir mão do fundo partidário da legenda, que elegeu a segunda maior bancada da Câmara em 2018.

Bolsonaro admitiu na transmissão que seu principal objetivo na disputa de 2022 é fazer uma bancada mais significante no Senado, já que “o Senado decide muita coisa”.

“Acredito, o meu propósito é, lógico, mais tempo para a gente melhor escolher os candidatos pelo Brasil, negociar também, fazer uma boa bancada de senadores e deputados federais, onde a gente comece a apitar mais ainda, né, ser mais presente na política nacional”, afirmou.

A preocupação do presidente é que, se conseguir se reeleger, poderá indicar mais dois ministros do STF, além dos dois deste mandato.

“Não é maioria? Não é. Mas decide muito, porque também lá [no STF] tem negociações”, afirmou. “Lá dentro do Supremo, também tem negociações lá. Se a gente conseguir indicar quatro, a gente muda e muito o perfil do Supremo Tribunal Federal”, disse Bolsonaro.

Já no fim da live, o presidente explicitou sua preferência por polarizar em 2022 com o ex-presidente Lula, minimizando as chances de uma terceira via.

“Tem uma passagem bíblica que diz o seguinte: seja frio ou seja quente, não seja morno. Essa via do centro, no meu entender, não decola, não”, disse Bolsonaro.

Em seu programa desta quinta, o presidente também defendeu projeto que atualiza a Lei de Improbidade Administrativa e que passa a exigir que se comprove a intenção de lesar a administração pública para que a acusação formalizada pelo Ministério Público seja recebida.

Bolsonaro disse que o objetivo do projeto, embora seja “dar uma flexibilizada nisso daí”, “não é escancarar as portas para corrupção”.

O texto foi aprovado pela Câmara por 408 votos favoráveis a 67 contrários e segue para o Senado.

“Espero que o Senado, se for o caso, aperfeiçoe alguma coisa, volte para a Câmara, se mexer, para a gente sancionar e dar uma alívio ali nesta burocracia pesadíssima que os prefeitos têm que exercer.”

“Às vezes, mexendo com coisa de pequeno valor, o cara ganha um processo ali, que fica amarrado por um tempão. A ideia é dar uma facilitada. Agora, quem reclama [do projeto] se candidata a prefeito”, afirmou.

Folha de S. Paulo