Cai comando da PM em PE após ataque à população no sábado
Foto: Reuters
Três dias após uma ação policial violenta diante de um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no centro do Recife, o comandante da PM de Pernambuco pediu exoneração do cargo.
O governador Paulo Câmara (PSB) comunicou na noite desta terça-feira (1) que aceitou o pedido de Vanildo Maranhão.
A situação ficou insustentável após imagens mostrarem policiais encerrando o ato com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha. Dois homens que não estavam no protesto perderam a visão de um dos olhos.
O secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, permanece no cargo. O Governo de Pernambuco disse que a operação não foi autorizada. Até o momento, porém, não explicou quem deu a ordem para o ataque.
O novo comandante da PM é o coronel José Roberto Santana, que ocupava o cargo de diretor de Planejamento Operacional da corporação.
O governo afirmou em nota que as investigações sobre as responsabilidades das agressões praticadas por policiais militares durante a manifestação ocorrida no sábado (29) continuam.
Dois dias antes da manifestação, o Ministério Público de Pernambuco havia alertado Pádua sobre a necessidade de orientação do efetivo da Polícia Militar para evitar eventuais excessos no ato.
A Promotoria expediu recomendações semelhantes contra aglomerações em manifestações de apoio a Bolsonaro.
O alerta ao secretário foi feito pelo promotor de Justiça Westei Conde, titular da Sétima Promotoria da Cidadania da Capital, durante reunião virtual no dia 27 de maio sobre a intensificação na fiscalização das medidas restritivas de combate à pandemia.
Participavam do encontro, além do titular da SDS, os secretários de Saúde, André Longo, e de Justiça, Pedro Eurico.
A portaria que instaurou inquérito civil público para apurar violações de direitos humanos cometidas por policiais militares informa que o encontro foi convocado pela Procuradoria-Geral de Justiça.
“O excelentíssimo senhor secretário de Defesa Social se fez presente, tendo sido informado publicamente, naquela oportunidade, pela 7ª Promotoria de Justiça da realização do ato público do dia 29 de maio e da necessidade da devida orientação ao efetivo da PMPE, de sorte a evitar eventuais excessos”, escreveu o promotor Westei.
De acordo com o Ministério Público, mais de cem promotores de Justiça do agreste e zona da mata de Pernambuco participaram da reunião. O encontro virtual foi mediado pelo coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça, Édipo Soares.
A Sétima Promotoria da Cidadania da Capital tem entre suas atribuições o controle externo da atividade policial.
Em nota, a Secretaria de Defesa Social afirmou que a orientação das forças de segurança para o acompanhamento de manifestação é sempre a de garantir a ordem e a tranquilidade com a proteção de vidas e a preservação da integridade das pessoas.
“Essa diretriz está no planejamento operacional da segurança em Pernambuco como um todo. Tanto que, cotidianamente, manifestações ocorrem no estado sem que haja violência ou feridos”, diz o comunicado.
A secretaria destacou que, em relação à manifestação do último sábado, a Corregedoria-Geral da SDS e a Polícia Civil estão investigando, com seriedade e isenção, a conduta policial adotada, buscando o esclarecimento dos fatos e a devida responsabilização, seja na esfera disciplinar ou criminal.
A cúpula da segurança pública em Pernambuco estava no centro de monitoramento de câmeras da Secretaria de Defesa Social no momento em que policiais militares atacaram a manifestação.
Os policiais militares do Batalhão de Choque começaram a atirar às 11h44 contra os manifestantes que seguiam de maneira ordeira por uma avenida do centro do Recife.
Imagens mostram policiais atirando nos manifestantes quase à queima-roupa. Não há registros de agressões por parte dos manifestantes contra a força policial.
O secretário de Justiça de Pernambuco, Pedro Eurico, afirmou em entrevista a uma emissora de televisão na manhã desta segunda-feira (31) que o governo estava monitorando a manifestação desde o seu início.
“Primeiro, nós acompanhamos a operação desde a praça do Derby [concentração do ato]. Não houve alteração. Na ponte Duarte Coelho, iniciou-se um tumulto que vai ser investigado”, disse.
Logo na saída do ato, policiais do pelotão de choque chegaram a se perfilar na praça do Derby. Pouco tempo depois, foram desmobilizados e entraram em dois pequenos ônibus da Polícia Militar.
Os dois homens que perderam a visão de um olho após serem atingidos por tiros de bala de borracha disparados por policiais do pelotão de choque estão hospitalizados com quadro de saúde estável.
A vereadora Liana Cirne (PT) foi atacada com spray de pimenta após se identificar como parlamentar. Ela foi recebida pelo governador Paulo Câmara na tarde desta segunda.
Nas redes sociais, perfis não oficiais de batalhões da Polícia Militar comemoraram a ação.
Na tarde de sábado, Câmara disse que determinou a imediata apuração de responsabilidades. O oficial comandante da operação, além de quatro policiais envolvidos diretamente na agressão à vereadora Liana, foram afastados de suas funções.
O governo identificou o policial que disparou um tiro de bala de borracha no olho do adesivador Daniel Campelo da Silva, 51.
Ainda não foi identificado o policial que disparou contra o arrumador Jonas Correia de França, 29. Ambos tiveram lesões permanentes —Daniel, no olho esquerdo, e Jonas, no direito.