Candidato a embaixador na África, Crivella atacou religiões afro
Gabriel de Paiva
Após convite de Jair Bolsonaro, o nome de Marcelo Crivella foi submetido às autoridades da África do Sul para se tornar o novo embaixador do Brasil em Pretória. Se tiverem acesso ao livro “Evangelizando a África”, que o bispo da Igreja Universal escreveu em 1999, o governo sul-africano pode acabar pensando duas vezes antes de aceitar a indicação.
Na obra, Crivella relata uma década de trabalho como missionário evangélico em países do continente. Sem comprovações, afirma que as religiões que encontrou por lá praticam o sacrifício de crianças e ainda sugere que “as tradições africanas permitem toda sorte de comportamento imoral, até mesmo com crianças de colo”.
Também há a afirmação de que os cultos que envolvem o sacrifício de animais em ofertas a entidades são um “ritual satânico que deve ser evitado”. Ao mencionar os praticantes dessa fé, os editores do livro, na introdução, os classificam como “feiticeiros e bruxos, conhecidos no Brasil como pais, mães e filhos-de-santo”.
Quando essas e outras palavras vieram a público, na campanha de Crivella à Prefeitura do Rio, em 2016, o então candidato se desculpou, com foco sobretudo nas ofensas que também fez ao catolicismo. Na mensagem, reforçou o preconceito diante dos espíritas ao dizer que, na época em que escreveu o livro, vivia num “ambiente de guerras, superstição e feitiçaria”.
Crivella poderá ter uma nova oportunidade de se retratar. Caso o governo decida prosseguir com a indicação, ele será sabatinado pelo Senado, onde trabalhou por dois mandatos.
A propósito, será que a Funag, a fundação de estudos do Itamaraty, que publica diversos livros, se animará em editar a obra máxima do pensamento de Crivella?